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Música

Os discos que nos acompanham desde criança

O NOISEY perguntou pros nossos artistas preferidos qual foi o álbum que marcou a infância deles.

​Sabemos que, hoje em dia, o acesso a música está nas palmas das mãos. Basta baixar qualquer aplicativo ou entrar em sites de streaming que um biblioteca virtual estará a disposição. E ainda tem gente que reclama.

Mas, também sabemos, que consumir música nem sempre foi tão fácil assim. E por algum motivo que a psicologia ainda há de desvendar, ainda mantemos vestígios de antigas formas de consumo; a exemplo da 'volta do vinil'​, muito impulsionada pela nostalgia de como a música era compartilhada nos tempos de outrora. Quem hoje tem seus vinte ou trinta e poucos anos, ainda se lembra bem de como era complicado escutar música que você queria e, consequentemente, aprimorar seu gosto musical.

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Enquanto tem gente que hoje ama música graças ao videogame, outros ouviam música colocando o disco de vinil com muito cuidado para não arranhar, ou tocava uma fita k7 rezando para que ela não ficasse presa no aparelho de som ou, até hoje, coloca pra tocar aquele CD preferido e deixar no repeat quantas vezes for necessário.

E para celebrar essa eterna volta ao passado do futuro, e aproveitando que essa semana comemoramos o Dia das Crianças, o NOISEY chamou alguns artistas para contar quais os discos, k7 ou CDs que eles ouviam quando crianças e não largaram até hoje.

*Colaboraram as repórteres Beatriz Moura e Amanda Cavalcanti

DJ Nyack

Lembro do meu pai chegando do trabalho com uma sacola na mão e dizendo que tinha um presente pra mim. Já tinha visto que era um LP, mas não sabia qual. Quando ele colocou pra tocar eu percebi que era Jorge Ben cantando "…por causa de você, menina…", só que a gravação era diferente da original e meu pai sabia que eu gostava muito desse som. Perguntei pra ele porque estava diferente da versão original, ele me mostrou a capa do disco e explicou que era um disco celebrando os primeiros 10 anos de carreira desde a gravação do primeiro álbum dele, com versões inéditas de canções que viraram hit na época. Nesse dia, eu passei a tarde toda com meu pai ouvindo esse disco e suas histórias de como eram bons os bailes da Chic Show no Palmeiras, os shows que ele assistiu do Jorge Ben…Enfim, foi um dia que eu guardo com muito carinho na minha memória. Quando eu ganhei esse disco, tinha 10 anos, e toco ele até hoje nas festas!

Lei Di Dai

​Meu disco de infância favorito é  "EXODUS" Bob Marley & The Wailers de 1977,  considerado um dos melhores trabalhos da banda.  Esse álbum é do mesmo ano do meu nascimento, cresci ouvindo essa maravilha musical, que me influenciou na vida! Sou grata a meu pai, pelos discos incríveis que ouvimos durante minha infância, essa herança musical me rendeu uma pequena coleção de discos do Bob Marley entre outros e muito amor ao Reggae e toda sua cultura.​

Fernando Motta

Foi o primeiro disco que eu gostei por mim mesmo. Na verdade, conheci por causa da minha irmã mais velha, mas rapidamente superei o fanatismo dela. Haha. Acho que dessa onda dos grupos pop, elas tiveram o maior apelo infantil. Vendiam muita coisa pra galera mais nova: revista, livro…tinha até pirulito das Spice Girls. E também tem essa do personagem de cada uma e da Emma ser a representante das crianças. Quando eu comecei a gostar, os dois discos delas já tinham sido lançados, mas eu ganhei na ordem certa, primeiro o "Spice" e depois o "Spice World", então acho que passei mais tempo ouvindo o primeiro mesmo. Acho que ele é mais marcante também porque tem "Say You'll Be There", a melhor música delas, e "Wannabe", o maior hit. Gosto demais de "2 Become 1" (nada infantil…haha), "Love Thing" e "Who Do You Think You Are" também. Fico rindo sozinho, lembrando de como eu cantava as músicas sem saber absolutamente nada de inglês. Mas hoje quando ouço parece que as letras se transformaram na coisa certa na minha cabeça, mesmo sem nunca ter parado pra ler direito.

Rafael Jonke Buriti, baterista do E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante

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Quando eu era molecote, juntava moedas pra comprar as paradas que queria, desde gibi ou boneco do spawn, essas coisas. Vi o clipe de "Clint Eastwood" no FOX Kids e acabei comprando esse discão aí. A lembrança mais vívida que tenho desse álbum enquanto criança é de colocá-lo no golzinho (carro) da família, sozinho, dentro da garagem, e ficar chapando nos sons. Desde lá, eu amo Gorillaz.

Mahmundi

Esse disco é o disco da minha vida. Ouvia quando ia pra escola, porque ele ficava tocando nos bares num volume altão.

Eu ia andando imaginando como aquelas coisas juntas faziam aquele som, já que eu não sacava nada de inglês com 9 anos. Essas músicas de alguma forma sempre mexiam comigo. Hoje, entendo cada frase, melodia, etc… Mas Phill sempre foi meu melhor amigo musical.

Jonathan Tadeu

Todo domingo eu era acordado pelo  barulho das panelas e da minha mãe cantando o single da Roberta Miranda desse disco na cozinha. Ela fazia o arroz e o macarrão, meu pai ficava por conta de temperar a carne.

Minha responsabilidade era trocar o lado do vinil e tentar zerar algum jogo do Super Nintendo. Meus domingos de manhã eram assim. Fase mais feliz da vida.

Julito Cavalcante, do BIKE

Pink Floyd, Bob Dylan e Led Zeppelin são alguns dos discos que ouvi muito desde quando estava na barriga da minha mãe, fazem parte da coleção que herdei do meu pai, foram super importantes pra minha formação musical e me acompanham até hoje.

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Sara Não Tem Nome

Minhas lembranças musicais da infância, em grande maioria, são ligadas aos discos que meu tio Pulga escutava. Entre algumas das bandas que ele ouvia e que acabei conhecendo estão o Bee Gees, Creedance, Cristopher, Beatles, John Lennon, Pholhas, Michael Jackson. Nos nacionais o Belchior, Alceu Valença, Paulo Sérgio, Evaldo Braga. Escolhi o disco do Creedance pois era um que meu tio sempre escutava e acabou ficando na minha memória. A música 'Have You Ever Seen The Rain?' era o hit dos finais de semana lá em casa.

Felipe Aguiar, do gorduratrans

Eu nasci em uma família evangélica. Minha mãe se converteu quando eu tinha semanas de vida e desde pequeno já me levava pra igreja, onde aprendi a tocar e frequentei até o final da minha adolescência. Ela sempre foi muito apaixonada por música evangélica, canta na igreja até hoje, e sempre ouviu muita rádio gospel. Minha casa sempre foi cheia de vinil, CD e k7 de vários cantores gospel da década de 90, e alguns do Roberto Carlos - que ela é muito fã, e me cobrou semana passada a promessa que eu fiz de levar ela num show dele algum dia.

Quando eu era pequeno, diariamente ela ficava esperando tocar o louvor do momento no rádio, com uma fita k7 do lado, pra poder gravar. Lembro que as rádios tocavam até o playback das músicas, pras pessoas poderem gravar e levar pra cantar na igreja. E eu participava de todo o processo. Ficava esperando pra avisar quando a música ia começar, rebobinava a fita até o final da última música, apertava o REC, conferia se tinha gravado tudo direitinho, e gravava algumas do Roberto Carlos quando ela pedia. Ela tinha uma prateleira lotada de k7, e ouvia todas elas o dia inteiro.

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Uma dessas fitas é essa do Álvaro Tito, com o título de "Grandes Momentos", que deve ser algum tipo de greatest hits da música gospel dos anos 90. É muito provável que ela tenha comprado no dia em que ele foi cantar na igreja dela, claramente pra apoiar a cena. E essa fita é cheia de músicas maravilhosas (aconselho ouvir a faixa "Riqueza"), as quais eu cresci ouvindo. Toquei quase todas elas muitas vezes quando era da igreja. Mas o mais engraçado é que eu não sabia da existência dessa fita até alguns meses atrás, quando ela ia jogar tudo fora. Peguei todas as fitas pra mim, com a ideia de gravar o disco do gordura por cima. Juntei tudo e levei pra casa do Fred Zgur, da Bichano Records, quem tem um equipamento pra fazer esse tipo de gravação. Foi aí que eu encontrei essa preciosidade e ouvi tudo de novo, depois de muitos anos. Só que, pra nosso azar, a gravação acabou não dando muito certo. Algumas fitas gravaram pela metade, e a outra metade ficou com a gravação original. Essa foi uma delas. Então hoje, esta fita é, nada mais nada menos, do que um split de gorduratrans com Álvaro Tito.

Gabriel Aragão, do Selvagens à Procura de Lei

Quando criança, peguei o final do LP e a chegada do CD… Meus pais sempre foram muito musicais apesar de não tocarem nenhum instrumento, então cresci ouvindo o rock deles. Fui uma criança sortuda. Sempre que escuto Abbey Road lembro da minha infância, especialmente a faixa You Never Give Me Your Money. Outro que sempre rolava lá em casa era o Wish You Were Here. Eu morria de medo da capa. Meu pai também não ajudava e contava histórias de terror pros filhos ao som de Pink Floyd. Só fui entender que era uma banda anos depois. Na época, pra mim, tava mais pra trilha sonora. Hehehe!

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Continuei comprando CDs há até pouco tempo, quando o streaming dominou geral. Adoro colecionar materiais dos artistas que sou fã e hoje em dia estou numa de investir mais em LP, mas esses CDs que são parte das minhas memórias levo pra vida toda!

Tiago Abrahão, do Wannabe Jalva

Meu pai usava muito fita de rolo. Haviam poucos álbuns, mais de música clássica e me lembro muito de gravarmos a gente tocando violão em um microfone ligado no rolo. A partir dai, lembro do meu pai todo final de semana nos acordando com um disco novo de vinil… 8h, 9h da manhã era certeza de som novo. Saltimbancos, Elis Regina, XUXA (quem nunca?). O "BAD" foi um dos discos que me lembro muito bem de irmos comprar. Eu (como toda criança/adolescente dos anos 80/90) já tinha a loucura por Thriller. O Michael é demais. Compramos o "BAD" em 1988, quando já havia saído o filme Moonwalker (o BAD é de 1987). Vi o filme no cinema e devo ter surtado com ele se transformando em robô (surtemos até hoje). Ganhei o "BAD" logo depoise estourava no fim de semana de manhã. "BAD" tocou por uns 10 fins de semana na sequência. Quando mais velho, você se pergunta o porque escutava e gostava tanto de algumas coisas… Michael é fácil de entender. É genial. Ele sobreviveu aos anos 80, nem o Led Zeppelin sobreviveu às malditas caixas gigantes e reverb na bateria dos 80s. "BAD" tem Quincy Jones, tem Stevie Wonder… Michael é lúdico e ao mesmo tempo é sério.

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Meu velho sempre nos acordava com algum disco. Ainda tenho um player, que ganhei dele. Escuto sempre que estou em casa de boa (o que não é frequente). Não sou o maior apreciador da cultura do vinil e essa correria maluca por discos… mas tenho os meus e mantenho os que passaram e não me deixaram ileso.

Msário

Eu lembro de ficar o dia inteiro ouvindo este disco e tentando decorar as músicas. Me lembro até hoje a primeira vez que eu consegui cantar "Homem na Estrada" inteira, sozinho. Este disco me remete à uma época muito especial que vivi na minha vida. Foi um momento em que eu fui me identificando e sabendo quem eu era, ta ligado? Desde criança eu era ligado a música, e a partir desse álbum eu passei a enxergar meu lugar na sociedade. Porque ele fala sobre auto-confiança, ele mostra a dignidade do preto, pobre favelado, que até então eu não sabia. E me mostrou de uma forma que eu nunca tinha visto, ninguém nunca tinha me falado.

Eu ouço ele até hoje, principalmente porque me faz lembrar desta época. Este disco aqui tava lá na casa da minha mãe, no acervo dela. Era um disco que era do meu primo. Está até aqui escrito "este disco pertence a Val". Me lembro do dia que ele foi lá em casa com este vinil e deixou lá. Era uma fase dahora. É umas das coisas que ouço desde moleque. Tenho ainda todas as músicas vivas em mim.

Tynho Campo-Grande, do Mama Feet

Lembro bem do seu lançamento, em 1997. A banda já havia se firmado na NWOBPB (New Wave Of Brazilian Pagode Bands, ou Nova Onda de Bandas de Pagode Brasileiro) junto com Exaltasamba, Negritude JR. e SPC. Era impossível resistir ao charme do sorriso maroto (desculpe o trocadilho) de Anderson Leonardo e ao swing simpatia (de novo) do Andrézão. O CD estava sempre no meu discman e embalava as minhas caminhadas para a escola com os hits "Dança da Vassoura", "Paparico" e "Cilada". No campo musical, o "Samba Rock do Molejão" foi a minha primeira experiência com o estilo, e deu no que deu.

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A mídia física vem nos acompanhando nos momentos mais difíceis, me suportando em situações críticas. Atualmente ele está embaixo da mesinha do computador, em um dos pés que estava bambo. O CD meu cachorro comeu uns 10 anos atrás, mas sempre relembro os clássicos cantando no famoso karaokê da Marlene.

Gabi Milino

Lembro que quando tinha uns 11 anos, assisti ao videoclipe de "Criminal", da Fiona Apple, na MTV. Eu não sei porque mas tinha um certo fascínio por aquela música, pela figura dela, ficava esperando a música tocar de novo, era uma fissura.

Uns dois anos depois, durante as férias escolares fui visitar um tio que morava em Washington, EUA, fiquei na casa dele durante dois meses.  Um dia em que estávamos passeando, encontrei o Tidal, que é o primeiro disco dela, de 1996e meu tio me deu de presente. Os Cds eram bastante caros na época e eu estava naquela fase de começar a ter meus próprios quereres, escolhas e esse era uns dos poucos discos que eu tinha. Ouvi muito e sabia cantar todas as músicas.

Tenho uma verdadeira paixão pela Fiona Apple, seu timbre de voz, suas letras, a intensidade dela e acho incrível ter descoberto isso já tão nova. É um disco que me acompanha desde então. Com uma história que já faz quase 20 anos, algumas músicas eu incluo no meu repertório, me marcou muito musicalmente.

Victor Lucindo (Iridescent)

Se for pra falar de um disco de infância que ainda gosto muito, tinha que ser 'Seeds of Love' do Tears For Fears. Eu ouvia muito no carro com minha mãe e minha tia, metade desse disco foi hit e deve ter sido uma das primeiras coisas que me fazia subir no sofá pra tocar air guitar. Mas eu já não tenho esse há muitos anos. Então vou com esse 'Portraits' do Vangelis, que era outro cara em alta rotação lá em casa. Acho que o fato de um ambient frito como esse rolar junto com synth pop e os Sambas Enredo do ano do meu pai explica muito que eu goste do que goste e faça o que eu faça. Esses anos são super formativos do que a gente é, de uma maneira difícil de traçar as vezes.

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Ruxell

Esse disco mudou minha infância porque me estimulou a tocar guitarra de uma forma absurda, fazendo com que eu mergulhasse de cabeça no mundo da música. Além disso, me influenciou muito em uma criação de um primeiro "lifestyle" onde comecei a surfar, andar de skate e tocar guitarra ouvindo o tempo inteiro Charlie Brown JR, marcou uma grande transição na minha "pré-adolescência" kkkk, eu acho que é isso.

Viní

Eu já começava a ter uma adoração pelo Daft Punk desde os clipes de 'Da Funk' e 'Around The World' que sempre passavam na MTV, mas o Discovery foi onde eu aprendi a ouvir um álbum 'do jeito certo', na sequência, com noção de que tudo tinha um contexto e tal. O Interstella 5555, além de ter me cativado fortemente pelo fato de eu ser criança na época e curtir bastante anime, ajudou demais nisso, sem dúvida alguma. 'One More Time', que passava direto na tv, já tinha me conquistado, eu sempre parava pra ver o clipe e aumentava o volume porque adorava a música. Mas eu lembro de uma vez que meu irmão mais velho me mostrou o dvd com o filme completo e, além de não querer mais parar de ver, eu não parei de falar nisso por algumas semanas hahaha  

Não só marcou minha infância, como mudou minha vida e influenciou toda a minha visão das coisas dentro da música. 

Raphael Vaz, do Boogarins

Leandro e Leonardo ajudaram a moldar a minha alma romântica e em 1998 me assustei de novo com a entidade "morte", que dessa vez ganhava o Leandro. Ela ia dar as caras várias vezes ainda e o meu desentendimento das coisas me levou a acreditar que talvez eu também tivesse câncer afinal, por ter comido tanto tomate de Goiás, e por uns meses eu examinei sozinho no mato meus peitos com receio de descobrir qualquer pedrinha maligna. Um ano depois o Leonardo lançou esse disco ao VIVO (e duplo!), o que pra mim significava, mais do que gravado num show, que ele permanecia vivo. Me pareceu um disco alegre, cheio de esperança, vários sucessos da dupla e até umas jovem guarda. Vi na tv, pedi pra minha mãe e a vida continuou normalmente, mais esperançosa.