A phone playing 'Jaws' in the surf at a beach
Foto por Jamie Lee Curtis Taete.

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Viagem

Assistimos filmes de terror nas locações onde eles se passam e AHHHHH

Ver 'A Bruxa de Blair' numa floresta à noite não é uma boa ideia.

Filmes de terror são mais assustadores quando você consegue relacioná-los com sua própria vida. Por isso tantos deles se passam em lugares familiares, como casas suburbanas e florestas, e dificilmente em aviões bimotores ou comunidades Amish. O terror vem de sentir que o mundo que você acha que conhece está cheio de perigos secretos. Tubarão pode te deixar com medo do mar; Vivos pode te deixar com medo de entrar num avião. Mas como seria assistir a esses filmes exatamente (ou quase) no local em que foram filmados?

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Para testar, decidimos dar o play em filmes de terror nas locações onde eles se passam. Aqui vai o que descobrimos:

Pânico na Neve num teleférico

the movie 'Frozen' playing on a cell phone screen. In the background is a ski lift

Foto por Jamie Lee Curtis Taete

Pânico na Neve de 2010 é um filme de terror de sobrevivência sobre três pessoas presas num teleférico de esqui. Assisti ao filme num teleférico no sul da Califórnia, nos EUA. Os operadores me deixaram descer e subir algumas vezes para assistir o negócio inteiro.

Minha maior preocupação, pelo menos no começo, era que as pessoas passando por mim na direção oposta achassem que eu estava assistindo pornô. Tem MUITOS gemidos no filme. Os personagens estão sempre gemendo, seja porque estão pendurados num cabo ou tirando casca de ferida de congelamento do rosto.

Mas enquanto escurecia, minha mente começou a correr. Suspenso sozinho numa montanha no escuro, sem sinal de celular, comecei a pensar em todas as coisas horríveis que podiam acontecer. O teleférico podia cair. Ou dar algum problema técnico como aquele que aconteceu na Georgia. O operador podia parar o teleférico e me deixar pendurado durante a noite de zoeira, me fazendo congelar até a morte (o teleférico realmente parou no momento exato em que o teleférico para no filme, o que me deu um certo cagaço).

Mas não sei se foi o filme que me fez pensar nessas coisas. Já sou um cara extremamente ansioso. Não tem nenhum momento do dia em que não penso na pior coisa que poderia acontecer comigo. Entrando no carro para dirigir até o teleférico, dei uma conferida no banco de trás do carro para ver se não tinha um assassino estilo Lenda Urbana. Uns dois minutos antes de escrever este parágrafo, fiquei pensando na minha rota de fuga do escritório no caso de um terrorista armado aparecer (pela milésima vez).

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Passeios noturnos de teleférico não são uma boa ideia pra quem tem um cérebro como o meu. Eu provavelmente já entraria em pânico pensando que o teleférico ia cair e eu seria devorado por ursos se estivesse assistindo Frozen da Disney.

Jamie Lee Curtis Taete

Vivos num avião

a laptop playing the movie Alive on an airplane tray table

Foto por Justin Caffier

Tudo o que eu sabia do filme Vivos de 1993 era o que tinha visto na revista MAD, nas referências do Simpsons e por outras osmoses da cultura pop: ou seja, que ele é baseado no caso real do time uruguaio de rugby que sofreu um acidente de avião nos Andes, e o canibalismo que eles precisaram cometer para sobreviver.

Presumindo corretamente que a Lufthansa não teria o filme na sua biblioteca de voo, já baixei o longa antes de um voo internacional e esperei até a senhorinha simpática do meu lado dormir para começar a assistir a 40 mil pés.

Em nenhum momento durante as duas horas de filme me senti ansioso com minha própria segurança. Talvez porque eu estava num Airbus A350 novinho, sabia que um acidente era quase estatisticamente impossível e, se a gente caísse mesmo, eu morreria no impacto ou seria encontrado em algumas horas, presumindo que a Rússia não nos derrubasse (supostamente).

Também não passei o filme inteiro pensando sobre a ética de canibalismo de sobrevivência. Eu comeria uma pessoa, sem pensar duas vezes, no segundo que precisasse. Dei uma olhada na senhorinha do meu lado para ver se eu tinha aquela visão de desenho animado dela como um pernil gigante. Não funcionou.

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Em vez disso, passei a maior parte de Vivos notando as atuações ruins, impressionado com como uma tomada e outra parecia uma propaganda moderna da Ralph Lauren, e notando a pregação cristã em quase toda a cena, como se o próprio Deus tivesse produzido o filme.

Justin Caffier

A Bruxa de Blair na floresta

The movie 'The Blair Witch Project' playing on a laptop screen in some woods

Foto por Janae Price

Quando A Bruxa de Blair saiu em 1999, minha irmã disse que era o filme mais assustador que ela já tinha assistido porque era baseado numa história real. Alguns anos depois, um pouco antes de entrar na adolescência, assisti ao filme e passei a maior parte do tempo cobrindo os olhos. Pensando agora, acho que nem consegui ver o negócio inteiro. Fiquei com medo pacas.

Assisti de novo quando tinha uns 20 e poucos anos, esperando sentir o maior medo da minha vida. O que achei foi um filme medíocre com mais tensão que sustos mesmo e nada que valesse muito a pena no final. Apesar de A Bruxa de Blair ter começado a onda de filmes de terror de filmagens encontradas, ele não é tão assustador assim depois que acabou o hype e os rumores de que ele era baseado em fatos reais. Por isso, quando me pediram para assistir o filme mais uma vez numa mata, fiquei de boa.

Como moro em Nova York, tive que me conformar com um parque com muitas árvores. Basicamente a mesma coisa, né? Já estava escuro quando cheguei lá e, apesar dos meus amigos terem me dito pra ter cuidado, eu não esperava que o parque parecesse tão vasto e sombrio.

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Tudo suave no começo. Enquanto Heather, Josh e Michael entrevistam o pessoal da cidade e começam sua jornada pela floresta para encontrar a Bruxa de Blair, eu estava sossegada. Nem fiquei assustada quando eles ouvem sobre todas as pessoas que sumiram na floresta.

Quando o trio começa a ouvir galhos quebrando em volta da barraca, as coisas começaram a ficar assustadoras do meu lado também. Apesar de estar num parque público no Brooklyn, o lugar estava muito silencioso – os corredores e o pessoal passeando com cachorro já tinham ido embora.

Depois que o grupo perde o mapa, me vi olhando toda hora para trás. Comecei a notar árvores que pareciam meio estranhas e tive certeza que ouvi folhas se mexendo num arbusto próximo. Quando chegou aquela parte que eles acham os bonequinhos de galhos pendurados nas árvores, tive que pausar o filme pra me acalmar.

Do nada, ouvi um barulho alto de galho quebrando do meu lado. Dei um pulo e soltei um gritinho. Acendi a lanterna do meu celular e me levantei para investigar. Ouvi outro barulho de folhas mexendo do meu lado. Naquele ponto, sim, eu sabia que escolher assistir um filme de terror na mata no escuro perto do Halloween provavelmente era uma má ideia. Eu também sabia que ignorar sons estranhos na floresta é como as pessoas morrem nos filmes de terror. Com isso em mente, fechei meu computador, peguei minhas coisas e voltei andando bem rápido pra casa, olhando para trás o caminho inteiro.

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Janae Price

Tubarão no mar (mais ou menos)

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Meu plano era assistir Tubarão no meu celular num saco plástico dentro do mar em Los Angeles. Fiquei realmente nervoso com a ideia. Ataques de tubarão acontecem mesmo no sul da Califórnia. Eu esperava ficar realmente com medo.

Aí começaram os problemas técnicos: aluguei o filme no iTunes, mas, por alguma razão que não consegui entender, não consegui fazer o filme passar no celular. Precisei me conformar em assistir os trechos que achei no YouTube. Assisti alguns trechos, e algumas compilações de mortes nos filmes da franquia, depois passei para uma compilação de mortes por ataque de tubarão em outros filmes.

Sem surpresa, não foi muito assustador ser desequilibrado pelas ondas, falando sozinho que odeio meu celular, tendo que apertar os olhos para ver os tubarões na tela. (Não dava pra ver nada direito, tive que fotoshopar o título do filme na foto para não ser só a imagem da tela rachada do meu iPhone.) Fiquei mais preocupado em pisar numa seringa ou ser puxado pela maré que em ser comido por um tubarão.

Aí, depois de uns 20 minutos assistindo coisas no YouTube, notei que minha bateria estava em 40%. Como muita gente que tem um iPhone “velho” (comprei o meu em fevereiro de 2017), minha bateria é um lixo. Quando ela chega em 40%, não sei quanto mais ela vai aguentar. Meu celular geralmente morre em 20%. Mas as vezes só no zero ou até com 30%. Abandonei o experimento e saí do mar.

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Apesar de odiar meu celular, a ansiedade criada pela combinação de problemas com software, tela rachada (que já troquei uma vez) e bateria bosta significou que agora vou mesmo comprar um novo.

E mais assustador que assistir Tubarão no mar é o que tem dentro de um iPhone. Meu colega Brian Merchant escreveu um livro sobre a origem de vários componentes do iPhone. É assustador. Tem trabalho infantil, lixo tóxico e uma mina tão perigosa que foi batizada de “A Montanha que Come Homens”. A fabricação do aparelho na minha mão envolve coisas realmente aterrorizantes. E eu, e provavelmente você, sou parcialmente responsável por isso.

Como eu disse: assustador.

Jamie Lee Curtis Taete

Hotel Transilvânia num hotel na Transilvânia

A laptop playing the movie Hotel Transylvania

Foto por Justin Caffier

Claro, esse filme é diferente dos outros, mas acontece que eu estava viajando pela Romênia quando me chamaram para escrever esta matéria, e eu não ia perder a oportunidade. Aninhado nas lindíssimas montanhas dos Cárpatos, o charmoso Zabola Estate é um hotel na Transilvânia muito mais convidativo que o hotel gótico e cheio de monstros da animação de 2012 de Genndy Tartakovsky. Meu quarto naquela noite era um apartamento de luxo construído por volta de 1900 para acomodar VIPs romenos, que depois ficou meio abandonado durante o regime comunista, e agora foi reformado num resort. Se eu ia forçar a barra pra me assustar com essa comédia infantil estrelando um vampiro que nunca morde ninguém, o chão de madeira que rangia e as velas falsas nos castiçais de ferro forjado nas paredes no Zebola eram um ambiente muito melhor pra isso que qualquer coisa que eu encontraria num Hilton da Transilvânia.

Diminuí as luzes, abri a porta do terraço (para o Drácula poder entrar enquanto eu assistia o filme, se ele quisesse), dei play no meu notebook e entrei na banheira com pés de ferro no centro da sala.

Apesar de os esforços para dar um clima, o filme não rendeu nenhum arrepio. Na verdade, a coisa mais assustadora dessa história foi ver meu corpo enrugado depois de 90 minutos numa banheira, tipo aquela velha do banheiro de O Iluminado.

Mas o filme é lindo e provavelmente o mais tolerável estrelando Adam Sandler e Kevin James.

Justin Caffier

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