Eleições 2018: um mês e vinte dias de dedo no cu e gritaria

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Politică

Eleições 2018: um mês e vinte dias de dedo no cu e gritaria

Um resumo da corrida maluca brasileira para ver quem ocupa a presidência da República em 2019.
VT
ilustração por Vinicius Trigo

Teoria da conspiração, lacração, esfaqueamento, grupo hackeado no Facebook e atos gigantescos no Brasil e ao redor do mundo contra um único candidato. Os pouco mais de 50 dias de campanha eleitoral brasileira foram um bom resumo do hospício que o nosso país, por algum momento, pareceu deixar de ser.

Jair Bolsonaro, candidato que incentiva crianças e adultos a imitarem pistolinhas com os dedos, foi esfaqueado em praça pública. Ao acordar na UTI, tirou fotos imitando armas. Perfurado, passou quase que toda a campanha sem dar declarações à imprensa, deixando seu vice, o general Mourão, responsável pelas polêmicas que envolvem desde o fim do 13º salário e férias remuneradas à eugênia. O político do PSL, que ajudou a espalhar mentiras junto com seus filhos, como que o grupo contrário a ele era de apoio após uma invasão de hackers e vídeo falso sobre falha das urnas eletrônicas, vai ao segundo turno.

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Lula comandou a eleição de Fernando Haddad da cadeia, por bilhetes, e depois foi censurado a dar declarações após pedido do liberal Partido Novo. E Haddad se prestou até o fim a fingir ser reencarnação de uma pessoa viva — embora presa — com o mote “Haddad é Lula”. A estratégia deu certo. O ex-prefeito de São Paulo segue na disputa que será decidida em 28 de outubro.

Ciro Gomes tentou ser paz e amor, mas deu voz de prisão para um jornalista e chamou o candidato armamentista de “nazista filho da puta”. A intenção de disparar na reta final do primeiro turno se aliando o antipetismo e se posicionando contrário a Bolsonaro fracassou. O candidato conhecido pelos xingamentos prolixos ficou na terceira colocação, ganhando apenas na terra em que fez carreira política, o Ceará.

Cabo Daciolo foi uma das grandes revelações do entretenimento brasileiro. Ele deu o devido reconhecimento à fictícia Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), jejuou no alto de morros durante a campanha e começou a se transformar em um ícone cult que espalha o amor deixadas por Jesus Cristo — apesar de comparar gays com criminosos. Mesmo não tendo ganho a presidência no primeiro turno como havia previsto (“eu também não sei como vai ser, mas vai ser”), teve mais votos que políticos que estão há anos na vida pública, como Henrique Meirellles e Marina Silva. Glória a Deus!

Geraldo Alckmin foi desidratando, desidratando, desidratando, mas como sempre teve acesso a uma boa merenda não sumiu com seus 5% dos votos. A estratégia de ser jovem e descolado em dark posts no Facebook não deu tão certo para Henrique Meirelles com os 1.289.886 votos recebidos. Álvaro Dias, acusado de estar levemente alcoolizado no último debate com os presidenciáveis, não alcançou nem 1% dos sufrágios. Marina Silva, evangélica, deu uma coça no candidato armamentista lembrando que aborto é questão de saúde pública e foi ovacionada na internet. Depois, só despencou nas intenções de voto tendo 1% dos votos válidos.

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Guilherme Boulos lançou um jocoso livro culinário ( 50 Receitas para Mudar o Brasil com Boulos ) e pagou de galã nos debates em que participou. O desempenho do líder dos sem-tetos em São Paulo, no entanto, foi pífio: recebeu 618.382 votos, menos que os correligionários que tentaram anteriormente o Palácio do Planalto: Plínio de Arruda Sampaio teve 886.816 (2010) e Luciana Genro 1.612.186 (2014).

Como já é de costume, o pessoal do sudeste e sul deu um show preconceito e xenofobia na internet alegando que os votos do pessoal do norte e nordeste valem menos. Uma boa forma de refutar isso, aliás, é a notícia da Folha de S. Paulo sobre os escolhidos para o Congresso no Estado mais desenvolvido do Brasil: São Paulo elege palhaço, general, príncipe e ator pornô.

Os derrotados ainda estudam quem vão apoiar no segundo turno, mas algumas posições já são esperadas. Ciro já enfatizou detestar Bolsonaro, Amôedo afirmou que “não há possibilidade de apoiar o PT” e Marina declarou que fará oposição a qualquer um que for eleito. As posições consolidadas devem ser anunciadas nos próximos dias.

Agora, oito de outubro, é dia de começar a arrumar a casa. Quem sabe agora dê para discutir propostas em vez de fiscalizar a vida sexual alheia ou insistir no medo do comunismo, que foi moda nos EUA há mais de 60 anos e que graças às fake news voltou à baila recentemente tanto lá quanto no Brasil. Vamos torcer.

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