Único militar da Marinha escolhido para o ministério do presidente Jair Bolsonaro, o almirante Bento Costa Lima Leite não precisou nem de um mês para ser envolvido por um mar de lama – não o da tradicional metáfora sobre corrupção, cunhada há mais de meio século por Carlos Lacerda para torpedear Getúlio Vargas, mas o literal mesmo: responsável pela pasta das Minas e Energia, Lima é o nome responsável no governo para acompanhar a investigação sobre a queda da barragem da Vale em Brumadinho (MG) que matou 166 pessoas, conforme balanço atualizado na última quarta-feira, e deixou mais de 150 desaparecidos.A pasta já abriu um processo administrativo, que correra paralelamente aos processos na Justiça mineira, e o ministro já fez recomendações para que haja mudanças que deixem mais rígidas as normas de controle das barragens, uma tentativa de reduzir os riscos de novas tragédias. Nota da revista Veja informa que o ministro sonha em uma parceria com o colega da Justiça, Sérgio Moro, para uma devassa nos moldes da Operação Lava-Jato para o setor de mineração.De fato, há uma relação complexa entre mineradoras e políticos, especialmente nos Estados em que o setor é mais forte, como Minas e Pará. Levantamento de 2015 aponta que as empresas do ramo doaram mais de R$ 30 milhões a candidatos em 2014, ano da última eleição presidencial e para o Congresso em que foram aceitas doações de pessoas jurídicas. Desse valor, cerca de RS 22 milhões saíram dos cofres da Vale, apresentada nesta semana como uma “joia brasileira” por seu CEO, Fabio Schvartsman. Para ampliar essa complexidade, em muitas cidades do interior do Brasil a economia gira em torno da mineração – caso de Brumadinho, onde a empresa é a maior empregadora privada e responsável por 35% da arrecadação dos impostos municipais.Um trabalho e tanto para um almirante que, entre Minas e Energia, parece entender muito mais de energia do que de mineração. Bento Lima nasceu no Rio e alistou-se na Marinha aos 15 anos. Durante sua formação, especializou-se no comando de submarinos e em toda a tecnologia que os envolve. Antes de ser ministro, ocupou funções relacionadas a tecnologia e inovação na Marinha, além de acompanhar um acordo de parceria com a França para o desenvolvimento de novos submarinos.No ministério, o almirante tem de lidar com uma série de assuntos espinhosos. Um deles é o programa nuclear brasileiro, com suas pesquisas espalhadas pelo país e as usinas em Angra dos Reis, entre elas a ainda não concluída Angra 3, alvo de investigações da Lava Jato que mandaram para a cadeia outro figurão da Marinha, o ex-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva.Também está na lista de tarefas do almirante Bento cuidar da Petrobras, que tenta se reerguer depois de ser o ponto de partida da Lava Jato, mas vive sempre sob a ameaça de queixas por causa do controle do preço dos combustíveis, assunto que levou à greve dos caminhoneiros no ano passado. Além disso, a empresa está na mira de Paulo Guedes e seu espírito de privatização, que deve atingir pelo menos parte das subsidiárias da empresa.Por fim, há o setor de energia elétrica, sempre alvo de queixas pelo constante aumento de preços e de disputas internas no governo por causa da necessidade de novas obras – muitas delas faraônicas, como a usina de Belo Monte, que nesta semana foi palco de um pequeno incêndio, sem vítimas, em um galpão em Vitória do Xingu (PA).Ou seja, trabalho ao almirante Bento não vai faltar. Menos mal que o excesso de papel e burocracia deve ser sopa para quem se acostumou a comandar um submarino, cercado de água por todos os lados.
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Acompanhe os perfis de todos os ministros do Brasil na série A Banca de Bolsonaro . Novos textos às quartas e sextas-feiras.Nome: Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior
Idade: 60
Ministério: Minas e Energia
Formação: Oficial da Marinha pela Escola Naval, com MBA em Gestão Internacional pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Partido: nenhum
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