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Foto: Divulgação.
Música

“Quero ser tipo o Childish Gambino com vagina”: um papo com a Ebony

A artista de 19 anos começou a gravar trap sem pretensões e hoje é uma das melhores artistas do gênero.

Dona de sons como "Ca$h Ca$h" e "BratZ", a artista fluminense Ebony surpreendeu rapidamente a cena do rap nacional ao mostrar talento para flow e rimas sem pretensão. Na sua segunda visita à capital de São Paulo, conversei com ela numa tarde quente ouvindo clássicos noventistas do gangsta rap da costa leste dos EUA. Esperando seu almoço chegar pelo iFood, elogio o seu primeiro clipe, "Glossy", dizendo que ela está belíssima. Ela me olha e responde, “sim, claro”, com uma face de obviedade e uma confiança enorme que só é possível esperar duma artista jovem e talentosa como a rapper de 19 anos e nascida em Queimados, na Baixada Fluminense.

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Ebony começou a cantar rap quase que sem querer no final de 2018. Ela já havia assistido algumas batalhas de rima no Rio de Janeiro e um dia começou a brincar com o aplicativo Voloco, onde é possível cantar em cima de uma batida à sua escolha. Sua brincadeira improvisada e sem maiores pretensões passou pra trás muitas faixas de artistas marmanjos já consolidados no trap nacional e ganhou fãs assim que deixou de ser áudio de WhatsApp e caiu no mundo através do YouTube.

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Foto: Divulgação.

Poucos meses depois, Ebony passou a integrar o time de artistas da produtora carioca Blakkstar e foi uma das artistas entrevistadas no documentário do Spotify sobre trap brasileiro. Atualmente, Ebony faz parte da produtora Fresh Mind Co. e segue cantando sobre autoestima, boys lixos no geral e dona de linhas afiadíssimas ("tão lá na DM, quer foto de agora/Mandei das minhas arma, ele me deu block"), Ebony, com sua voz aveludada, se tornou uma das principais artistas no trap brasileiro.

Entretanto, Ebony não se reconhece inteiramente no rap e nem pretende focar só nesse estilo. "As coisas que consumo são muito diferentes das coisas que faço. Posso dizer que tenho a mesma maldição do Kanye West que diz que não gostaria de fazer rap porque é do Diabo. Eu não acho que rap seja coisa do diabo, claro, mas descobri sem querer que sou muito boa no rap do nada," conta.

Ao longo de 2019, Ebony participou de um som coletivo lançado pela Pineapple TV ao lado de revelações do trap como Meno Tody, fez uma participação em uma das faixas de Padrim, álbum novo do rapper mineiro FBC e também foi feat em "MARRA" do Aka Rasta.

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Para o final do ano, a artista chegou a anunciar que iria lançar um EP, mas voltou atrás. ‘’Tinha divulgado que era um EP, mas não me senti artisticamente pronta para gravar um EP. Pensei nisso depois que assisti ao documentário da Nina Simone, e lembro a parte que ela diz que sempre que entra no palco a intenção é destruir, que as pessoas saíssem do show dela destruídos. Quero fazer um EP que as pessoas sintam, não vai ser algo triste, mas quero que as pessoas sintam," conta.

Sem pressa na música e na sua exploração artística, Ebony sabe que seu potencial pode ir além da música e do rap. Por isso, disse que pretende explorar a parte audiovisual e seu próximo clipe "XOXO" terá sua assinatura na direção ao lado do fotógrafo Felipe Larozza, responsável pelo documentário O Trap Nacional Mostra A Que Veio. "Artistas vão fazer arte, consigo me expressar através do rap mas também quero conseguir me expressar através de outras formas. Não gosto da definição rapper, porque não quero fazer só isso. Eu quero ser tipo o Childish Gambino com vagina," diz.

Ebony anunciou que o clipe de "XOXO" será lançado hoje às 19 horas em seu canal no YouTube.

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