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Música

Ben Klock: “Eu Não Sou um Purista do Techno”

O produtor alemão conhecido por seus sets hipnóticos, fala sobre mais de uma década de residência na Berghain, a mística em torno dos DJs superstar e da sua esperança que mais jovens ouçam techno.

Você não pode ter uma conversa sobre o techno de Berlim sem falar duas simples, mas importantes palavras… Ben Klock. Sempre impassível atrás dos decks, com aparencia séria, e claro, uma camiseta preta embaixo de uma jaqueta de couro ainda mais preta, os sets profundos e hipnóticos de Klock, de música maquinalmente meditativa, viraram algo como uma lenda em sua cidade natal, especialmente na Berghain, onde ele tem residência desde que o clube abriu suas portas em 2004. Conhecido por apresentações-maratona que podem durar até 15 horas (aparentemente ele sobrevive com um coquetel de champagne e café), as raízes de Klock na balada o fizeram se tornar uma figura procurada não apenas em Berlim, mas no mundo inteiro. Por mais que não seja tão presente em festivais americanos como outras estrelas alemãs, como Dixon ou Loco Dice, Klock recentemente amarrou uma mini turnê com uma aparição no festival CRSSD em San Diego, que rolou nos dias 11 e 15 de outubro — um marco curioso que o artista relaciona a apresentar para alguns americanos curiosos a sua experiência sensorial única. Se você já presenciou algum de seus sets, certamente sabe, assim que ele começa o show você não tem escolha a não ser ficar preso, perdido e se render ao sermão da Igreja de Klock.

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Foto via Facebook.

Antes de seu set, logo antes de sua apresentação no Spybar em Chicago, eu tive a chance de sentar com Ben para alguns martinis em um hotel em Williamsburg, em Nova York.

THUMP: Ostgut está lançando uma compilação de dez anos em breve. Você pode me falar sobre a faixa "Sirens" que você contribuiu para o álbum? É seu primeiro lançamento em algum tempo.
Ben Klock: A vibe geral do lançamento é bem diversa na verdade. É bem diferente do Fünf de cinco anos atrás, no qual todos usamos gravações ambientes — sons do prédio, bater em metais, essas coisas. Dessa vez foi um conceito aberto com o qual todos entregavam o que estivessem a fim, de ambient a house e techno. Para mim, foi a primeira faixa em um bom tempo — eu não tenho entrado no estúdio por causa da minha agenda de viagens, etc. Esse ano, trouxe muito equipamento novo, pulei no mundo modular, então peguei coisas como Prophet 5, e um mix entre velhos sintetizadores polifônicos e um novo mundo de módulos Eurorack. As sequências na minha faixa da compilação na verdade são feitas com modulares, e em cima disso eu toco um sintetizador atmosférico. Não é particularmente uma faixa de pista de dança, não tem nenhum baixo pesado. É o primeiro passo de volta ao estúdio.

Você não pode ter uma conversa sobre o techno de Berlim sem falar duas simples, mas importantes palavras... Ben Klock. Sempre impassível atrás dos decks, com aparencia séria, e claro, uma camiseta preta embaixo de uma jaqueta de couro ainda mais preta, os sets profundos e hipnóticos de Klock, de música maquinalmente meditativa, viraram algo como uma lenda em sua cidade natal, especialmente na Berghain, onde ele tem residência desde que o clube abriu suas portas em 2004. Conhecido por apresentações-maratona que podem durar até 15 horas (aparentemente ele sobrevive com um coquetel de champagne e café), as raízes de Klock na balada o fizeram se tornar uma figura procurada não apenas em Berlim, mas no mundo inteiro. Por mais que não seja tão presente em festivais americanos como outras estrelas alemãs, como Dixon ou Loco Dice, Klock recentemente amarrou uma mini turnê com uma aparição no festival CRSSD em San Diego, que rolou nos dias 11 e 15 de outubro — um marco curioso que o artista relaciona a apresentar para alguns americanos curiosos a sua experiência sensorial única. Se você já presenciou algum de seus sets, certamente sabe, assim que ele começa o show você não tem escolha a não ser ficar preso, perdido e se render ao sermão da Igreja de Klock.

Foto via Facebook.

Antes de seu set, logo antes de sua apresentação no Spybar em Chicago, eu tive a chance de sentar com Ben para alguns martinis em um hotel em Williamsburg, em Nova York.

THUMP: Ostgut está lançando uma compilação de dez anos em breve. Você pode me falar sobre a faixa "Sirens" que você contribuiu para o álbum? É seu primeiro lançamento em algum tempo.
Ben Klock: A vibe geral do lançamento é bem diversa na verdade. É bem diferente do Fünf de cinco anos atrás, no qual todos usamos gravações ambientes — sons do prédio, bater em metais, essas coisas. Dessa vez foi um conceito aberto com o qual todos entregavam o que estivessem a fim, de ambient a house e techno. Para mim, foi a primeira faixa em um bom tempo — eu não tenho entrado no estúdio por causa da minha agenda de viagens, etc. Esse ano, trouxe muito equipamento novo, pulei no mundo modular, então peguei coisas como Prophet 5, e um mix entre velhos sintetizadores polifônicos e um novo mundo de módulos Eurorack. As sequências na minha faixa da compilação na verdade são feitas com modulares, e em cima disso eu toco um sintetizador atmosférico. Não é particularmente uma faixa de pista de dança, não tem nenhum baixo pesado. É o primeiro passo de volta ao estúdio.

A Berghain tem aparecido muito na mídia nos últimos anos nos EUA. Tem tido reportagens na Rolling Stone e histórias sobre pessoas oferecendo subornos para entrar no Craiglist e, recentemente, rolou uma história sobre Claire Danes, que chamou o clube de "o melhor lugar da terra". Você acha que esse tipo de exposição é boa para o clube?
Se algo como o que Claire Danes acontecer, sempre vai ser um tópico de interesse. Não é nada que [a Berghain] queira que aconteça. Sempre tem a preocupação que essas coisas aconteçam, e é por isso que o leão de chácara tem um trabalho mais duro agora. Mais pessoas que não estão tão relacionadas ao som estão vindo, procurando por algo que eles acham que é techno, ou o que eles acham que é tocado na Berghain.

Eu acho que o título do artigo na Rolling Stone tinha o termo "sexualmente abastecido". As pessoas costumam encontrar temas que geralmente não tem muito a ver com a música para centrar suas histórias.
Sim, isso apareceu bastante nas notícias, mas isso é só jornalismo sensacionalista. Não é sempre sobre isso. Mas esse é só um lado disso, mas de uma perspectiva do DJ você não vê nada dessa parte como algo do clube. É mais sobre a música. É um ótimo lugar para vários tipos de coisas, apenas para se sentir livremente. Se você quer outra coisa, então você pode conseguir outra coisa. As pessoas não te julgam lá por nada.

Residências em balada parecem estar ficando menos populares. Você ainda acha que uma residência tem o poder de potencializar uma carreira da mesma forma que fez com você?
Depende do seu foco principal como artista. Se você tem uma boa oferta de clubes, você não precisa de residência. Eu acho que ensina muito ser residente — sempre acho que posso ir mais fundo e com mais intensidade por causa dos sets mais longos, e você entende melhor a plateia e aprende coisas que não poderia se você tocasse sets curtos de duas horas em vários cantos do mundo. Talvez você aprenda algo diferente [com sets menores], mas não essa intensidade. Você também aprende a apresentar algo novo todo mês para pessoas que sempre vem ver você. Se você viaja o tempo todo, pode meio que tocar o mesmo set em todos os lugares porque há pessoas novas o tempo todo. Residências são desafiadoras, certamente.

Dez anos atrás essa ideia de DJs celebridade fazendo U$60 milhões por ano era um pensamento bem alienígena. Você acha que a cultura do DJ celebridade é boa para a cena dance music?
É interessante que alguns anos atrás eu falaria com pessoas que não sabem sobre música eletrônica e eles me perguntavam o que eu faço da vida, eu dizia que sou um DJ, e a próxima pergunta era sempre algo como, 'Você consegue viver disso?... As pessoas pagam dinheiro para você tocar em suas cidades e clubes?". Tinha que explicar que conseguia viver disso. Agora é meio que o oposto. Acontece o tempo todo; quando um taxista pergunta o que eu faço da vida, eu digo "DJ" e ele diz, "Ah, você deve ser rico". Então essa percepção realmente mudou muito. Antes, eu era mais tolerante com essa distinção entre o EDM e o underground. Agora, eu acho que na verdade não existe grande conexão entre essas duas coisas.

A cena techno tem crescido muito nos EUA. O que você acha do público quando você toca aqui? São tão abertos quanto o público europeu?
Sim, eu acho que tenho tocado mais ou menos a mesma coisa. Para mim, é meio estranho às vezes porque toco muita música americana e tem essa preconcepção que é só "O som de Berlim". Essa música só calha de ser muito popular em Berlim, mas techno é de Detroit e isso tudo na verdade é música americana, mesmo que não seja mais tão popular por aqui, então meio que tenho que trazer isso de volta. Em muitas festas de techno nos EUA eu vejo gente mais velha, quando na europa tem esses meninos de 18-19 anos ficando malucos com as faixas que são mais velhas do que eles. Eu vejo pessoas nos EUA falando, "obrigado por trazer o techno de volta pra nossa geração", e isso é incrível. Mas eu não vejo muitos jovens americanos ficando malucos com techno — é uma geração mais antiga saindo uma ou duas vezes por ano para curtir um techno. Eu adoraria ver um público mais jovem crescendo nessa música mais underground, é claro.

Você não toca em muitos festivais nos EUA. É algo que você gostaria de fazer mais?
Eu toquei no Coachella esse ano e foi legal. Teve muito retorno como, "Nossa, essa foi a primeira vez que eu ouvi algo desse tipo e foi incrível". É ótimo ganhar novos seguidores desse tipo de música, mas é bizarro porque somos mal acostumados na Europa com cenas na Itália e na França onde grandes públicos vem ouvir techno.

Você tem interesse em ser alguém capaz de ajudar a expandir o techno nos EUA?
Sim, é por isso que fiz algo como o Coachella. É claro que tem pessoas que dizem, "Por que você está fazendo isso? Isso é se vender". Quer dizer, vamos lá, pode realmente ajudar a colocar mais gente dentro desse som.

Como você definiria se vender, exatamente?
Eu acho que é quando você muda o seu som por certos passos na carreira. Eu sempre pensei que tudo bem ficar grande se tocar o meu som e não mudar. O underground pode ser muito duro com a percepção de alguém assim que eles ficam maiores, mesmo que você ache, 'eles estão tocando a mesma música que antes', então não seja tão duro. Só porque estão tocando na frente de uma plateia maior e tendo mais sucesso não quer dizer que tenham mudado seu estilo.

O que você acha do estado do techno agora como um todo? Levon Vincent recentemente fez comentários dizendo que está perdendo sua vibe soul, mais jazz, e que está entediado com o gênero.
Sempre existem épocas em que as coisas são copiadas e tudo soa a mesma coisa e fica um pouco mecânico. Eu acho que você precisa ter artistas autênticos e vozes únicas que tem seu estilo próprio, e não se preocupar tanto sobre querer soar de tal forma. Assim que você tem essa coisa de copiar, copiar copiar, então fica entediante e perigoso para a cena techno, porque em certo momento fica travado e sem vida. Especialmente agora, quando tudo tem que soar perfeito — tudo comprimido, claro e alto — não tem mais aquela crueza.

A produção dos seus sets parece caminhar em volta de muita tensão, da onde você tira essa inspiração? Você parece um cara bem relax na vida real.
Bom, esse lado relax é definitivamente só um dos meus lados [risos]. Eu não sei, para mim não é tanto sobre o estilo. Eu não sou um purista do techno. O que é mais importante para mim é a música, vida, sentimentos, e o que você passa com essa música, e techno é apenas a minha ferramenta para passar essas emoções. Realmente é o toque humano atrás disso. Eu às vezes vejo isso mais como algo shamanico, para colocar as pessoas em transe ou mudar direções. A música é só uma ferramenta. Eu tiro muito dos meus estados de espírito, acho.

Você tem o desejo de tocar sets mais leves, influenciados pelo house, quando está nesse estado de espírito?
A última vez que eu toquei na Berghain na minha noite Klockworks, toquei durante 11 horas, e eles fecharam o Panorama Bar lá em cima, então todo mundo desceu para a pista principal. Muitas pessoas vieram da vibe diferente lá de cima — mais devagar, mais house — então isso me influencia também. Talvez o cara que faça as luzes traga cores mais quentes, e eu entro em uma fase diferente na qual toque faixas mais house, swingadas. Eu sempre venho de uma perspectiva do techno mesmo quando toco faixas de house com vocais. Eu as toco como um DJ techno, mas repetindo, eu não sou um purista do techno. Há muitos DJs do gênero techno que tocam techno dark e só. Eu não concordaria com a cosntatação que sou um prototipo do DJ alemão dark de techno.

Foto via Facebook.

Você vai tocar com DVS1 essa noite, que é alguém que você ajudou a descobrir. Você acha que chegou ao ponto de ser o mentor de DJs em ascenção e os guiar através da cena?
Eu me sinto um pouco como um mentor para Etapp Kyle, um cara novo que vai ter um disco no meu selo no mês que vem. É meio natural de certa forma — sempre converso com os artistas [do Klockworks] sobre suas faixas. Eu sou bem chato, pode-se dizer, 'eu gosto da batida base, mas você pode mudar isso e aquilo', e dou ideias para eles de como melhorar as coisas. Então eles mudam as coisas da forma que eu queria, e eu volto para a primeira versão e digo, 'quer saber, era melhor antes'.

Teve alguém que foi um pouco seu mentor?
Na verdade não. Você precisa aprender sozinho de certa forma.

A comunidade de DJs de techno de Berlim, e de outros lugares, ainda parece unida para você?
Eu acho que tem muitas cenas diferentes que ficam juntas. Para mim, pessoas como Marcel Dettmann são mais próximas do que outras. Mas [Marcel e eu] sempre nos vemos o tempo todo em aeroportos ou festivais. Mesmo que você não tenha visto o outro por um ano, você se sente conectado porque vocês se conhecem e sabem como é viver essa vida maluca. Eu acho que tem épocas que o elo é mais forte e horas que é mais uma vida solitária na estrada. Depende — esse ano eu e Marcel tocamos muito juntos então me senti mais apoiado porque você vê o outro e se comunica mais.

Você ainda não tem um empresário. Tantos DJs, especialmente em EDM, tem grandes times por trás deles — o quão importante é a independencia para o sucesso que você teve?
Talvez eu seja muito controlador. Trabalho com pessoas, mas no final sou eu tomando as decisões. Quando você tem um empresário e eles decidem por você — eu nunca entendi isso. Tenho um assistente que faz uma parte do trabalho de um empresário, mas quero estar tomando conta do meu perfil e direção artística. Eu não sou o tipo de pessoa que pode entregar isso para alguém. Como chefe de selo, tenho a visão do que quero e não preciso de mais ninguém me dizendo o que eu deveria fazer. Eu venho de um background de DJ de clube, que começa no underground, e como eu disse, essa coisa de EDM não é relacionada com o lugar da onde eu vim. É simplesmente uma coisa diferente.

Ben Klock está no Facebook

David Garber está no Twitter

Tradução: Pedro Moreira

Siga o THUMP nas redes Facebook //Soundcloud // Twitter.

A Berghain tem aparecido muito na mídia nos últimos anos nos EUA. Tem tido reportagens na Rolling Stone e histórias sobre pessoas oferecendo subornos para entrar no Craiglist e, recentemente, rolou uma história sobre Claire Danes, que chamou o clube de "o melhor lugar da terra". Você acha que esse tipo de exposição é boa para o clube?
Se algo como o que Claire Danes acontecer, sempre vai ser um tópico de interesse. Não é nada que [a Berghain] queira que aconteça. Sempre tem a preocupação que essas coisas aconteçam, e é por isso que o leão de chácara tem um trabalho mais duro agora. Mais pessoas que não estão tão relacionadas ao som estão vindo, procurando por algo que eles acham que é techno, ou o que eles acham que é tocado na Berghain.

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Eu acho que o título do artigo na Rolling Stone tinha o termo "sexualmente abastecido". As pessoas costumam encontrar temas que geralmente não tem muito a ver com a música para centrar suas histórias.
Sim, isso apareceu bastante nas notícias, mas isso é só jornalismo sensacionalista. Não é sempre sobre isso. Mas esse é só um lado disso, mas de uma perspectiva do DJ você não vê nada dessa parte como algo do clube. É mais sobre a música. É um ótimo lugar para vários tipos de coisas, apenas para se sentir livremente. Se você quer outra coisa, então você pode conseguir outra coisa. As pessoas não te julgam lá por nada.

Residências em balada parecem estar ficando menos populares. Você ainda acha que uma residência tem o poder de potencializar uma carreira da mesma forma que fez com você?
Depende do seu foco principal como artista. Se você tem uma boa oferta de clubes, você não precisa de residência. Eu acho que ensina muito ser residente — sempre acho que posso ir mais fundo e com mais intensidade por causa dos sets mais longos, e você entende melhor a plateia e aprende coisas que não poderia se você tocasse sets curtos de duas horas em vários cantos do mundo. Talvez você aprenda algo diferente [com sets menores], mas não essa intensidade. Você também aprende a apresentar algo novo todo mês para pessoas que sempre vem ver você. Se você viaja o tempo todo, pode meio que tocar o mesmo set em todos os lugares porque há pessoas novas o tempo todo. Residências são desafiadoras, certamente.

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Dez anos atrás essa ideia de DJs celebridade fazendo U$60 milhões por ano era um pensamento bem alienígena. Você acha que a cultura do DJ celebridade é boa para a cena dance music?
É interessante que alguns anos atrás eu falaria com pessoas que não sabem sobre música eletrônica e eles me perguntavam o que eu faço da vida, eu dizia que sou um DJ, e a próxima pergunta era sempre algo como, 'Você consegue viver disso?… As pessoas pagam dinheiro para você tocar em suas cidades e clubes?". Tinha que explicar que conseguia viver disso. Agora é meio que o oposto. Acontece o tempo todo; quando um taxista pergunta o que eu faço da vida, eu digo "DJ" e ele diz, "Ah, você deve ser rico". Então essa percepção realmente mudou muito. Antes, eu era mais tolerante com essa distinção entre o EDM e o underground. Agora, eu acho que na verdade não existe grande conexão entre essas duas coisas.

A cena techno tem crescido muito nos EUA. O que você acha do público quando você toca aqui? São tão abertos quanto o público europeu?
Sim, eu acho que tenho tocado mais ou menos a mesma coisa. Para mim, é meio estranho às vezes porque toco muita música americana e tem essa preconcepção que é só "O som de Berlim". Essa música só calha de ser muito popular em Berlim, mas techno é de Detroit e isso tudo na verdade é música americana, mesmo que não seja mais tão popular por aqui, então meio que tenho que trazer isso de volta. Em muitas festas de techno nos EUA eu vejo gente mais velha, quando na europa tem esses meninos de 18-19 anos ficando malucos com as faixas que são mais velhas do que eles. Eu vejo pessoas nos EUA falando, "obrigado por trazer o techno de volta pra nossa geração", e isso é incrível. Mas eu não vejo muitos jovens americanos ficando malucos com techno — é uma geração mais antiga saindo uma ou duas vezes por ano para curtir um techno. Eu adoraria ver um público mais jovem crescendo nessa música mais underground, é claro.

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Eu toquei no Coachella esse ano e foi legal. Teve muito retorno como, "Nossa, essa foi a primeira vez que eu ouvi algo desse tipo e foi incrível". É ótimo ganhar novos seguidores desse tipo de música, mas é bizarro porque somos mal acostumados na Europa com cenas na Itália e na França onde grandes públicos vem ouvir techno.

Você tem interesse em ser alguém capaz de ajudar a expandir o techno nos EUA?
Sim, é por isso que fiz algo como o Coachella. É claro que tem pessoas que dizem, "Por que você está fazendo isso? Isso é se vender". Quer dizer, vamos lá, pode realmente ajudar a colocar mais gente dentro desse som.

Como você definiria se vender, exatamente?
Eu acho que é quando você muda o seu som por certos passos na carreira. Eu sempre pensei que tudo bem ficar grande se tocar o meu som e não mudar. O underground pode ser muito duro com a percepção de alguém assim que eles ficam maiores, mesmo que você ache, 'eles estão tocando a mesma música que antes', então não seja tão duro. Só porque estão tocando na frente de uma plateia maior e tendo mais sucesso não quer dizer que tenham mudado seu estilo.

O que você acha do estado do techno agora como um todo? Levon Vincent recentemente fez comentários dizendo que está perdendo sua vibe soul, mais jazz, e que está entediado com o gênero.
Sempre existem épocas em que as coisas são copiadas e tudo soa a mesma coisa e fica um pouco mecânico. Eu acho que você precisa ter artistas autênticos e vozes únicas que tem seu estilo próprio, e não se preocupar tanto sobre querer soar de tal forma. Assim que você tem essa coisa de copiar, copiar copiar, então fica entediante e perigoso para a cena techno, porque em certo momento fica travado e sem vida. Especialmente agora, quando tudo tem que soar perfeito — tudo comprimido, claro e alto — não tem mais aquela crueza.

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Você tem o desejo de tocar sets mais leves, influenciados pelo house, quando está nesse estado de espírito?
A última vez que eu toquei na Berghain na minha noite Klockworks, toquei durante 11 horas, e eles fecharam o Panorama Bar lá em cima, então todo mundo desceu para a pista principal. Muitas pessoas vieram da vibe diferente lá de cima — mais devagar, mais house — então isso me influencia também. Talvez o cara que faça as luzes traga cores mais quentes, e eu entro em uma fase diferente na qual toque faixas mais house, swingadas. Eu sempre venho de uma perspectiva do techno mesmo quando toco faixas de house com vocais. Eu as toco como um DJ techno, mas repetindo, eu não sou um purista do techno. Há muitos DJs do gênero techno que tocam techno dark e só. Eu não concordaria com a cosntatação que sou um prototipo do DJ alemão dark de techno.

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Eu me sinto um pouco como um mentor para Etapp Kyle, um cara novo que vai ter um disco no meu selo no mês que vem. É meio natural de certa forma — sempre converso com os artistas [do Klockworks] sobre suas faixas. Eu sou bem chato, pode-se dizer, 'eu gosto da batida base, mas você pode mudar isso e aquilo', e dou ideias para eles de como melhorar as coisas. Então eles mudam as coisas da forma que eu queria, e eu volto para a primeira versão e digo, 'quer saber, era melhor antes'.

Teve alguém que foi um pouco seu mentor?
Na verdade não. Você precisa aprender sozinho de certa forma.

A comunidade de DJs de techno de Berlim, e de outros lugares, ainda parece unida para você?
Eu acho que tem muitas cenas diferentes que ficam juntas. Para mim, pessoas como Marcel Dettmann são mais próximas do que outras. Mas [Marcel e eu] sempre nos vemos o tempo todo em aeroportos ou festivais. Mesmo que você não tenha visto o outro por um ano, você se sente conectado porque vocês se conhecem e sabem como é viver essa vida maluca. Eu acho que tem épocas que o elo é mais forte e horas que é mais uma vida solitária na estrada. Depende — esse ano eu e Marcel tocamos muito juntos então me senti mais apoiado porque você vê o outro e se comunica mais.

Você ainda não tem um empresário. Tantos DJs, especialmente em EDM, tem grandes times por trás deles — o quão importante é a independencia para o sucesso que você teve?
Talvez eu seja muito controlador. Trabalho com pessoas, mas no final sou eu tomando as decisões. Quando você tem um empresário e eles decidem por você — eu nunca entendi isso. Tenho um assistente que faz uma parte do trabalho de um empresário, mas quero estar tomando conta do meu perfil e direção artística. Eu não sou o tipo de pessoa que pode entregar isso para alguém. Como chefe de selo, tenho a visão do que quero e não preciso de mais ninguém me dizendo o que eu deveria fazer. Eu venho de um background de DJ de clube, que começa no underground, e como eu disse, essa coisa de EDM não é relacionada com o lugar da onde eu vim. É simplesmente uma coisa diferente.

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Tradução: Pedro Moreira

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