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Neonazis armados com espetos de carne e salsichas atacaram um café vegan na Geórgia

Cerca de 15 pessoas identificadas como membros de extrema-direita da torcida organizada local invadiram o Kiwi Café na cidade de Tbilisi. Quatro funcionários e um cliente ficaram feridos.

O Kiwi Café em Tbilisi, Geórgia. Todas as fotos por Beth Ann Lopez.

O Kiwi Café em Tbilisi, na Geórgia, é o enclave hipster da cidade. O estabelecimento fica numa rua decadente da capital e é conhecido por seu hambúrgueres vegetarianos e falafel. Mas no final de semana passado, o café virou alvo de um ataque de extremistas, que teriam invadido o café e atacado os clientes com pedaços de carne.

Cerca de 15 pessoas brandindo espetos de carne apareceram no café no domingo e começaram a gritar com os clientes, atirando pedaços de carne neles e na comida, segundo os funcionários do Kiwi.

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"Eles estavam usando salsichas enroladas no pescoço", disse Giorgi Gegelashvili, que trabalha no café e parecia ligeiramente traumatizado com o evento. "Eles gritavam: 'Conhecemos a sua cara, sabemos quem vocês são'."

O balcão do Kiwi Café.

Gegelashvili e outros funcionários me disseram que os agressores eram membros da torcida organizada neonazi local, que já tinham assediado clientes do café um mês antes.

Segundo a equipe do Kiwi, quando a gritaria e as agressões foram para a rua, uns dez vizinhos se juntaram à briga. Os vizinhos gritavam que os clientes e funcionários do café eram "punks", que "não eram georgianos de verdade" e "não tinham respeito pelos valores tradicionais".

De acordo com a declaração oficial do Café Kiwi sobre o incidente, uma funcionária teve o rosto esfregado no chão e um cliente foi cortado no rosto com um espeto. Uma pancadaria generalizada se seguiu, com cerca de quatro funcionários e clientes do café ficando feridos.

"Nossos vizinhos não gostam da gente, talvez porque temos piercings, tatuagens e falamos de paz", me disse Gegelashvili.

Um cliente do Kiwi Café.

O Kiwi abriu em julho de 2015 e é dirigido por uma cooperativa de vegans, a maioria usando dreads, tatuagens e piercings. O local é um símbolo de contracultura, decorado com cartazes do tipo "Não é sua mãe, não é o seu leite!" Em Nova York ou Londres, um estabelecimento do tipo dificilmente causaria alguma comoção. Mas em um país como a Geórgia, o lugar se destaca como uma ferida.

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"Não gosto desse tal Kiwi", me disse um pequeno comerciante que trabalha na mesma rua, mesmo afirmando não saber nada sobre os últimos eventos. "Eles colocam coisas no cabelo, na pele…"

O ataque se junta a uma preocupação crescente com a extrema-direita no país, e particularmente com o status de minorias sexuais e imigrantes. No começo do mês, um enorme protesto homofóbico aconteceu em Tbilisi, e durante as comemorações do Dia da Independência semana passada, centenas de ultranacionalistas marcharam pela capital gritando "Geórgia para os georgianos".

Vegans e outras pessoas com "estilo de vida alternativo" frequentemente são colocados no mesmo grupo que gays e imigrantes pela extrema-direita, segundo Shota Kincha, pesquisador do Centro de Monitoramento e Educação de Direitos Humanos de Tbilisi.

"Obviamente, aqueles que frequentam [o Kiwi Café] são identificados como duvidosos e desviados, em termos de estilo de vida e expressão", Kincha disse à VICE.

Arte dentro do Kiwi Café.

Segundo a declaração do Kiwi Café, o caos acabou quando a polícia chegou ao local.

Parece que a polícia está mesmo investigando o incidente. Quando visitei o Kiwi na terça-feira, vários funcionários foram levados para a delegacia para prestar depoimento.

Mariam Tabatadze, uma das donas do Kiwi Café.

Ninguém foi preso ainda, mesmo com a equipe do Kiwi dizendo que conhece a identidade de alguns dos agressores salsicheiros.

De sua parte, o Kiwi Café prometeu continuar aberto "apesar das atitudes negativas contra nós e as pessoas que nos visitam". O café também recebeu apoio online e offline, assim como algum sarcasmo antivegan no Facebook.

Na segunda, Davi Vashadze, o comissário de cinema georgiano, veio ao Kiwi tomar um café e mostrar solidariedade. Ele estava com um amigo que denunciou o ataque como antigeorgiano. "Que idiotice", Vashadze me disse, "e eu nem sou vegetariano".

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Tradução do inglês por Marina Schnoor.

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