Rainhas do Mardi Gras Gay

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Rainhas do Mardi Gras Gay

Semana passada, fui a Nova Orleans cobrir o lado gay do Mardi Gras e conhecer os “krewe”, organizações tipo fraternidades: as pessoas votam para você entrar, tem muito drama e todo mundo vê a bunda de todo mundo.

Semana passada, fui a Nova Orleans para cobrir o lado gay do Mardi Gras. Depois de trocar de roupa e colocar um smoking, eu me dirigi a um lugar chamado Sigur Center para participar do Armeinius Ball. O Armeinius é um “krewe”. Essas organizações são tipo fraternidades: as pessoas votam para você entrar, tem muito drama e todo mundo vê a bunda de todo mundo.

No baile, fui levado para a área dos bastidores, que estava cheia de velhinhos enfiando penas e luzes em fantasias extravagantes de dois metros. A sala cheirava a frango frito e cola quente. As fantasias terminadas eram enfileiradas nos corredores, flutuando em manequins de madeira como exoesqueletos de espécimes fabulosos. Boa parte dos membros desse krewe vem se apresentado há mais de 65 anos e a drag mais velha na sala devia ter uns 80. A tradição começou há muito tempo, quando era crime ser gay, exceto no Mardi Gras. Ver Albert Carey, 74 anos, montado como uma princesa punk, de espartilho preto e meia-calça arrastão, foi uma imagem para guardar na memória. Conversei com Albert sobre a história do baile e por que ele acontece aqui em Chalmet, uma comunidade bem longe do centro da cidade.

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“Entrei para o clube em seu segundo ano de existência. No começo, éramos bem pequenos, ninguém tinha dinheiro e os gays não eram assumidos. Entrei em 1970. Naquela época, ninguém queria alugar nada para nós; só salões de trabalhadores afro-americanos alugavam para gays. Nenhum hotel ou vendedor queria alugar nada para nós, mas, por fim, viemos para o Sigur Center. O primeiro baile aqui no prédio foi em 1971 e todo mundo ficou pensando em como as pessoas na área iam reagir. Acontece que elas adoraram. Elas viram que não íamos fazer um show de sexo. (Esse era o medo, claro.) E estamos aqui desde então.”

Conversei com Joel Hass, o Rei do Baile. Ele me contou que ser o rei da temporada implica participar de outros bailes, representar bem seu krewe e fazer boas ações para a comunidade. Depois, ele acabaria aos prantos durante sua coroação, com seu cálice levantado para o público e raios de luz refletindo em sua armadura prateada tipo espartana. Meu coração derreteu um pouco, até que o cara do meu lado virou para mim e disse: “Isso é por causa das drogas. Não caia nessa, querido”.

A próxima parada foi no Fat Monday Luncheon. De acordo com o organizador, Charles Turbevill, esse é o “evento gay” mais antigo do país. O almoço estava cheio de velhos cavalheiros gays alegres e vestindo smokings lúdicos. A idade variava de 40 a 90 anos. Um desses senhores, mais perto dos 90 do que dos 40, me disse: “Ei, você tem uma boca bonita!”. Depois de alguns drinques, a multidão se enfiou num salão de jantar e começou a decorar os lustres com colares e boás, como é tradicional. Eu estava sentado entre Tony Leggio, planejador de eventos das estrelas, e Fred Powell, o pastor gay da Primeira Igreja Presbiteriana.

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Naquela noite, participei do Orpheuscapade, um evento grande com a participação de Quentin Tarantino, Big Bad Voodoo Daddy e Cheap Trik. Notei umas passarelas acima no salão e decidi tentar pegar um ângulo melhor do evento. Passei casualmente por vários níveis de segurança, virei maçanetas velhas e, por fim, achei o caminho. Eu estava usando um smoking e uma máscara de penas vermelhas, escondido no meio das vigas e treinando a vista nos membros da multidão. Eu me senti um franco-atirador de um romance do Tom Clancy.

Depois disso, fui ao “fruit loop”, que é como o quarteirão dos bares gays é oficialmente conhecido, e a noite ficou mais bêbada. Minha memória fica muito enevoada depois da parte em que me entregaram o que é conhecido como Furacão, um drinque contendo seis tipos diferentes de álcool e um pouco de xarope doce. Mesmo assim, aconteceu uma coisa no banheiro de um bar chamado Lafitte's que ficou marcada em minha memória. Enquanto eu mijava num mictório, notei certo movimento abaixo de mim. Acendi meu celular para ter um pouco de iluminação e vi um homem se aconchegando embaixo da calha do mictório, sorrindo enquanto esperava seu bilhete dourado para a felicidade. Achei que eu podia muito bem dar ao cara o que ele queria. Depois de urinar num estranho, achei que já era hora de dar a noite por encerrada.

Zak Krevitt é estudante veterano da Escola de Artes Visuais de Nova York. Ele fotografa garotos, garotas e plantas.

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Matthew Leifheit é o editor de fotos da VICE. Ele também é editor-chefe da revista MATTE.