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Parem de Pedir o Impeachment da Dilma Rousseff, Está Ficando Constrangedor

Perguntamos a um jurista se o pedido de impeachment da presidente faz algum sentido. Ele mostrou por A + B que não.
Fotos por Felipe Larozza; Ilustrações por Juliana Lucato.

A corrida eleitoral de 2014 foi feita de muitos detalhes: a derrota do Brasil de 7x1, a seca, a morte de Eduardo Campos (PSB) e o ódio político, culminando na reeleição de Dilma Rousseff (PT), cuja apuração se mostrou o maior Fla-Flu testemunhado pelo país. Muitos espernearam, ameaçaram e publicaram nas redes sociais que o resultado foi fruto de fraude das urnas, mas o TSE bateu o martelo, considerando a eleição "uma vitória democrática". A infelicidade dos descontentes levou a uma esperança desesperada: pedir o impeachment (ou até um golpe militar) da presidente.

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O chororô até que colou com uma galerinha. No dia 1 de novembro, 2,5 mil pessoas foram às ruas pedindo a retirada de Dilma do governo com base em tópicos porcamente formulados. Amanhã, dia 15 de novembro, farão o mesmo. A petição online na Avaaz que pede a saída de Dilma já conta com 1,5 milhão de assinaturas. Porém, jogar o jogão da democracia não é tão fácil quanto postar no Facebook.

O impeachment é um processo formal, que visa a cassação ou impedimento do mandato do chefe do Executivo (presidentes, governadores e prefeitos). Ele ocorre quando fica comprovado, por meio de um processo formal, a ocorrência de um crime de responsabilidade ou de um crime comum tipificado no Código Penal.

O impeachment "é um exercício da cidadania, pois qualquer cidadão (…) pode apresentar uma solicitação para o Congresso Nacional pedindo a averiguação com base na ocorrência de algo que possa justificá-lo. Mesmo deputados e senadores, quando o fazem, fazem na condição de cidadão," segundo o jurista e professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Flávio de Leão Bastos.

Se a denúncia for aprovada por dois terços da Câmara dos Deputados, ou dois terços do Senado ou ainda, pelo STF, será instaurada uma investigação para averiguar se é ou não é caso de cassação de mandato. Assim como ocorreu no caso do Fernando Collor de Mello, que renunciou antes de ser proferida a sentença que o absolveu por falta de provas.

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Agora, se o impeachment fosse realmente possível, o próximo na linha de sucessão prevista pela lei seria o vice-presidente. No caso, seria o Magneto brasileiro peemedebista, Michel Temer (PMDB). O que é realmente algo para se preocupar.

Destrinchamos alguns tópicos principais e fizemos as perguntas mais básicas ao jurista para evitar que você passe vergonha na mesa do bar.

Petrolão dá impeachment?

A presidente Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são acusados por adversários políticos de terem desviado milhões da Petrobrás para financiar campanhas políticas do partido. A denúncia, publicada originalmente pela revista Veja, na véspera da eleição, é baseada no depoimento de um doleiro presidiário chamado Alberto Youssef. Por meio de um acordo com a Justiça, ele consegue reduzir sua própria pena cada vez que entrega uma informação valiosa aos investigadores. Flávio explica como isso não é suficiente para requerer a cassação do mandato da presidente. "Dentre as causas que podem gerar um processo de impeachment seria a presidente agir com improbidade administrativa, ou seja, se as denúncias da revista Veja forem confirmadas, mas nada foi provado," disse o jurista.

Foro de São Paulo derrubaria presidente?

O PT faz parte do Foro de São Paulo, uma controvertida instância de debate e formulação política da qual participam outros partidos de esquerda e até grupos armados, como as Farc (Forças Armadas Revolucionários da Colômbia). Para seus membros, o grupo não é mais que um grande grêmio estudantil do socialismo e do comunismo - sistemas que, vale lembrar, são tão legais quanto o capitalismo. Para a direita, esse Foro é a nave mãe do golpismo, de onde emanam doutrinas e recursos capazes de implantar ditaduras comunistas na região, baseadas numa relação perversa com o tráfico internacional de drogas, a indústria do sequestro, o tabagismo e a gordura trans. "Participar de fóruns de cunho político não significa um golpe no regime do país," nos explica Flávio, pacientemente. Ainda bem, né, Instituto Millenium?

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Ditadura comunista dá treta?

Seja pela possibilidade de faltar iogurte no supermercado ou de o Brasil virar uma nova Cuba ou Venezuela, a implantação da ditadura comunista, embora inviável em vários sentidos, amedronta parte da população brasileira. Nem a oposição acalorada pode mudar esse entendimento. "Se você imaginar uma tentativa de golpe no regime, teria de ser algo mais radical contra a própria Constituição Federal, mas apenas com o discurso de uma oposição, não serve. Essa tentativa de golpe precisaria ser cabalmente comprovada. Enquanto não houver nenhum atentado à Constituição e contra o exercício dos Três Poderes, não há golpe".

Controle do Supremo Tribunal Federal é sujeira?

Existe um "grande temor" em relação à independência da máxima instância do Judiciário no Brasil porque o PT, ao longo de 12 anos de governo, acabaria indicando 10 dos 11 ministros da corte. Gilmar Mendes, um dos ministros do STF que se aposentará em breve, já cantou a bola errada de a corte se tornar "bolivariana".

Até Joaquim Barbosa - o Batman togado - foi indicado pelo ex-presidente Lula. Mesmo assim, ele proferiu sentenças juridicamente duvidosas na condenação dos envolvidos no Mensalão.

Mas, nesse papo, não basta nomear. Após a indicação, uma sabatina é realizada pelo Senado Federal, que conta não só com membros do PT e partidos da mesma coligação, mas também com membros da oposição. "A oposição tem o poder de questionar o indicado da presidente. Na história do Brasil, nós tivemos apenas 5 rejeições de ministros, todas no governo do Floriano Peixoto. A pergunta que eu faço agora é: por que a oposição não exerce uma sabatina digna quando ela diz que a indicação foi política?"

Abaixo-assinado

O pessoal abriu duas grandes petições pela deposição da Dilma. Uma, na Avaaz, outra, no site da Casa Branca. Nenhuma campanha de abaixo-assinado é capaz de, por si só, derrubar a presidente. A prova mais recente disso é o fato de a mesma Avaaz ter feito no passado campanha de coleta de assinaturas para a deposição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que continua firmão no cargo. Segundo Flávio, não é 1,5 milhão de assinaturas online que pode legitimar o pedido de investigação da presidente. O que determinaria isso é a existência de provas concretas que motivem o apoio de ⅔ da Câmara dos Deputados ou do Senado, nos casos de crimes de responsabilidade.

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