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Uma Visita ao Museu da Maconha da Nova Zelândia

A Cannabis House é o único museu de maconha da Nova Zelândia em uma cidade onde 30% da população da cidade é formada por estudantes que frequentam a universidade local.

Fotos por Danielle Caddy.

No sopé da Ilha Sul da Nova Zelândia fica Dunedin. Uma comunidade historicamente agrícola, 30% da população da cidade hoje é formada por estudantes que frequentam a universidade local. Então, não é de se surpreender que o lugar também seja o lar da Cannabis House, o único museu da maconha do país. O pequeno estabelecimento é gerenciado por Abe Gray, um botânico barbado jovial que divide seu tempo entre ativismo e aulas de biologia na Universidade de Otago, e o gerente Julian Crawford, que mora no local. Num bairro que Abe e Julian descrevem como “não o melhor”, a comunidade nutre certo respeito pela Cannabis House.

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Ao chegar no museu, os visitantes são recebidos por uma grande porta verde, ladeada por duas janelas de onde é possível espiar o escritório do Movimento Legalize a Cannabis e o interior do próprio museu. Devo ter feito alguma coisa boa na vida passada, porque a exposição em cartaz durante a minha visita era Hit for Six: A História da Cannabis no Críquete.

A ideia para a exposição veio quando um jornal local perguntou ao Abe quais seriam as futuras exposições do museu. A esmo, Abe pensou em críquete. A matéria que falava sobre a exposição acabou sendo publicada, e Abe e Julian tiveram que fazer valer o comentário de improviso. O que parece ser o jeito mais natural de se organizar uma exposição no museu da maconha da Nova Zelândia.

A exposição vai até o final de maio e explora o romance entre a maconha e o críquete. Ao entrar na casa, os visitantes passam por faixas de folhas de maconha de papel e produtos da loja de lembranças em exposição. Um relógio laranja apoiado na parede marca eternamente 4:20, ao lado de um cartaz que diz “Um Mercado Regulado e Taxado. www.norml.org.nz”. Atrás do cartaz, ficam os três cubículos de 2,10 metros de altura que abrigam os textos e fotos da exposição.

No canto da sala, uma TV passa trechos de partidas de críquete com “Dreadlock Holiday” do 10cc como trilha sonora, enquanto manequins com uniformes de críquete segurando facas para spotting dão um gostinho neozelandês à coisa toda. Eles também têm uma pequena biblioteca com mais de 100 livros, que não estão disponíveis em livrarias ou outras bibliotecas, e tantos bongs, cachimbos e baldes em exibição quanto é de se esperar de um museu dedicado à erva. É a casa dos sonhos de um moleque de 16 anos.

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A ligação entre o críquete neozelandês e a maconha têm mesmo diversas camadas, começando com um incidente durante a série de 1993-94, quando o jogador Danny Morrison dedurou metade do time na turnê por acender um baseado num churrasco depois de um jogo. O capitão Stephen Flemming e os jogadores Matthew Hart e Dion Nash levaram a culpa, o que resultou em centenas de milhares de dólares em multas e a perda de patrocinadores. O presidente do NZC (o time de críquete neozelandês) disse que o episódio foi “uma das semanas mais sombrias da história do nosso esporte”.

Foi na infame “turnê drogas, sexo e rock 'n' roll” na Nova Zelândia, em 1983-84, que o time da Inglaterra foi acusado de fumar maconha pelo Mail on Sunday. “Eu sei que eu estava lá porque vi nos livros de registro. Obviamente, não me lembro de nada”, disse Vic Mark. 

E a Nova Zelândia não está sozinha no mundo das tretas com maconha. Aparentemente, toda a Commonwealth teve seus problemas com a controvérsia do THC. Escândalos do tipo envolvendo Inglaterra, Paquistão e África do Sul estão detalhados na exposição, com uma nota de rodapé destacando a decisão do Comitê Antidoping de aumentar o limite do teste de cannabis de 15 ng/mL para 50 ng/mL. Uma decisão que os organizadores do museu consideram um sinal de uma maior aceitação da maconha no esporte.

Nas exposições anteriores, o museu explorou a popular prática neozelandesa do spotting, o ativismo atual pela legalização na Universidade de Otago e protestos de desobediência e fumo em público.

Pensando no futuro, Gray diz que a próxima exposições do museu será centrada no Bitcoin e no papel da critptomoeda na compra e venda da droga. Num país onde uma reforma na lei sobre a cannabis parece cada vez mais provável, a Cannabis House e o Museu da Maconha em Dunedin ainda desafiam a legislação atual. Tomara que muito em breve eles consigam acrescentar cada vez mais fumaça à Terra da Longa Nuvem Branca.

Tradução: Marina Schnoor