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O governo de SP já gastou mais de R$ 3 milhões em bombas de efeito moral em 2016

Em levantamento feito no Diário Oficial, foram compradas 12.500 bombas para a contenção de distúrbios no primeiro trimestre do ano.

Manifestantes correndo das bombas de gás lacrimogêneo e dos tiros de bala de borracha no quarto ato 'Fora, Temer'. Foto: Felipe Larozza/ VICE

O governo do estado de São Paulo desembolsou quase R$ 3,2 milhões na compra de 12.500 bombas para a contenção de distúrbios no primeiro trimestre de 2016. As informações estão publicadas no Diário Oficial do Estado de 1º de março deste ano.

Segundo o documento, foram adquiridas 2.500 granadas de luz, ao preço de R$ 275,84 a unidade; 2.500 projéteis de médio alcance de gás lacrimogêneo, custando R$ 194,83 cada; 2 mil cargas múltiplas lacrimogêneas, saindo por R$268,11 a unidade, além de 2.500 granadas lacrimogêneas tríplices e 3.000 lacrimogêneas tríplices Hyde, custando respectivamente cada uma R$ 219,10 e R$ 312,24.

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Print da página com os gastos publicados em Diário Oficial. Aqui, o arquivo completo. Imagem: reprodução.

A quantidade de equipamentos de gás lacrimogêneo adquiridos no início do ano (10 mil) representa 42,75% do total de 23.391 explosivos químicos do gênero usados pela Polícia Militar entre janeiro e agosto deste ano. Com exclusividade, a VICE noticiou que a utilização deste tipo de artefato aumentou em 90% em 2016, se comparado com as 12.291 bombas de gás usadas no mesmo período do ano passado.

Além dos explosivos, a corporação também adquiriu 25 mil balas de borracha, ao custo de R$ 23,57 a unidade. Desconsiderando as bombas e munições não letais, a PM também adquiriu 125 lançadores de granadas, saindo R$ 4.455 a cada um. O lote total deste equipamento saiu por R$ 556.993. Acrescentando este valor aos R$ 3,2 milhões investidos em bombas e balas de borracha, a conta ficou em R$ 3,7 milhões.

USADAS PARA EVITAR CONFRONTO
O comandante do Comando de Policiamento de Área 7 (CPAM7), coronel Alberto Malfi Sardilli, disse que o uso de bombas é feito para evitar o confronto direto de policiais com manifestantes. "Caso fossem usados cassetetes, seria pior".

Leia: "Uso de bombas pela PM de São Paulo explode em 90%"

Sardilli também acrescentou que munições de efeito moral (bombas e bala de borracha) oferecem um incômodo, principalmente por causa das reações provocadas pelos componentes químicos. "O elastômero (bala de borracha) não pode ser usado em meio à multidão, somente em casos nos quais é constatado uma atitude criminosa".

O comandante garantiu que se algum abuso for constatado, o policial responde pela infração, inclusive judicialmente, caso algum manifestante for ferido.

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FOTÓGRAFO CEGO
Em junho de 2013, o fotojornalista Sérgio Silva foi atingido por uma bala de borracha e ficou cego do olho esquerdo. Ele cobria o quarto ato do Movimento Passe Livre em São Paulo.

Silva tentou processar o governo do estado pelo incidente. No entanto, a Justiça negou neste ano o pedido de indenização do profissional.

Na decisão, o juiz Olavo Zampol Junior afirmou ser "improcedente" o pedido do fotógrafo. O magistrado considerou que o profissional assumiu o risco por estar entre manifestantes e a polícia. "(A) culpa (é) exclusiva do autor ao se colocar na linha de confronto", diz trecho da decisão.

MANIFESTANTE PERDE VISÃO
Questionado sobre a manifestante que ficou cega, devido um estilhaço de bomba que atingiu o olho esquerdo dela, o coronel Sardilli afirmou que o caso é uma exceção. Explicou que as bombas são constituídas de duas partes, o corpo e o "capacete". "(Quando há a explosão) o corpo do equipamento é fragmentado previamente. O que sobra, no máximo, são pedaços de três milímetros por três milímetros".

A universitária Deborah Fabri, que perdeu o olho esquerdo. Foto: Mel Coelho/Mamana Foto Coletivo

Ainda disse que, caso um dos fragmentos atinja alguém, pode provocar pequenos cortes. "Como o olho é muito frágil, caso ele for atingido fica mais complicado".

Diferentemente do corpo, o capacete do explosivo se mantém intacto, podendo também atingir e, eventualmente, ferir alguém.

QUEM USA
Sardilli afirmou que membros das tropas de choque e das Forças Táticas de batalhões são os mais aptos a utilizar as armas não letais. Policiais são treinados no 3º Batalhão de Choque, que oferece aos interessados o Curso de Distúrbios Civis. "Não é o ideal que policiais de viaturas de área (que fazem rondas em bairros) usem este tipo de equipamento (de contenção). Somente em último caso, quando a integridade do policial é colocada em risco".

Antes de assumir o comando do CPAM7, que abrange oito cidades da grande São Paulo, Sardilli ficou à frente das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) e da Cavalaria da PM.

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