Plugaremos em breve nossos smartphones diretamente em nossas roupas?

FYI.

This story is over 5 years old.

Sustainability Week

Plugaremos em breve nossos smartphones diretamente em nossas roupas?

Não é exatamente a primeira coisa que nos vem à mente quando a gente se irrita com a bateria do telefone, mas metemos o dedo em uma das feridas da sociedade: a energia.

Do petróleo à água, passando pelo debate sobre energia nuclear, depois de se desvencilhar de seu léxico e questões próprias, a gente sempre acaba voltando pro xis da questão. E no entanto, tem uma fonte de energia que está à disposição, gratuita, que não se deteriora, bem em cima de nossas cabeças. "Em uma hora, o sol fornece a energia necessária para toda a humanidade", resume o físico holandês Gert Jan Jongerden, especialista no assunto. Paralelamente, a voracidade energética dos objetos ao nosso redor vai crescendo. As capacidades das baterias podem até melhorar, mas a gente sempre acaba sem um pingo de bateria à 1h da matina, bem no momento em que a gente mais precisa dos amigos para voltar para os trilhos do juízo – ou da balada. A questão não é mais só explorar a energia solar – já sabemos fazê-lo cada vez melhor – mas de poder explorá-la mantendo a mobilidade. E por que não vestir-se com – e de – carregador solar? Tudo tentando evitar, se possível, de jogar na cara do mundo que você passou os últimos seis meses no laboratório de um cientista maluco.

Publicidade

Desde meados dos anos 2000, com o progresso da miniaturização e da flexibilidade das placas solares, os projetos têxteis associados a essa energia surgem nos quatro cantos do mundo. Tem o agasalho de alpinismo Maier Sports ou em jeans Bogner-Mustang, a coleção cápsula de bolsas do Elle/Portable Light Project em 2010, em que participaram Diane Von Furstenberg e Tommy Hilfiger, ou ainda o biquíni desenvolvido pelo artista tecnológico Andrew Schneider em 2011. Mais recentemente, projetos mais ambiciosos em termos de estilo finalmente saíram do papel, especialmente com os casacos Tommy Hilfiger desenvolvidas com Pvilion, um fabricante especializado em painéis solares flexíveis do Brooklyn. As unidades alocadas nas costas dos casacos Tommy estavam no meio-termo entre um circuito impresso gigante e armaduras de samurais, mas permitiam carregar três ou quatro vezes um iPhone via um cabo USB no bolso da frente. Estranhamente, a combinação, que parecia ser um sucesso, entre tecnologia e um look compatível com a vida do dia a dia, parece ter sido um "one shot" para o designer americano, que não continuou a parceria para além de 2014. Por outro lado, desde suas primeiras roupas tecnológicas de 2013, a holandesa Pauline Van Dongen assumiu a questão da energia solar portátil. Em estreita colaboração com laboratórios de pesquisa e empresas de ponta, ela explora a cada estação um pouco mais as possibilidades e progressos da ciência fotovoltáica.

Publicidade

"Eu sou fascinada pela energia solar e pela ideia de que nós podemos ser uma fonte de energia", soltou a criadora no vídeo que apresentava seu primeiro projeto: saias de lã e de couro com mini-painéis solares retráteis. Os Wearable Solar de Pauline Van Dongen é talvez o projeto que levou mais longe a pesquisa técnica e estética em torno da energia solar, enquanto a maioria das outras propostas se contentava no mais das vezes em integrar uma bolsa, mochila, jaqueta ou boné a painéis solares um tanto grandes e mais ou menos flexíveis. Sua última roupa solar é de 2015. A Solar Shirt é um agasalho coberto por 120 lâminas solares ultrafinas, concebidas pelo laboratório Holst Center que permitem carregar um telefone em algumas horas.

No rastro dessas iniciativas, as roupas não são mais apenas uma proteção contra os elementos naturais: elas funcionam graças a eles. O casaco Tommy Hilfiger, que protege do frio e da chuva ao mesmo tempo que armazena energia solar, ilustra bem essa ambivalência.

Toda a dificuldade dos projetos que articulam moda e tecnologia mora no equilíbrio entre esses dois pólos potencialmente antagônicos. Assim que a balança pende muito para um lado a coisa desanda. Estilo é evidentemente uma questão de gosto, mas as roupas criadas por Tommy Hilfiger e Pauline Van Dongen mostram que essa via é possível. O mar ainda não está para peixe e as iniciativas nascem de forma isolada. Existe um obstáculo econômico e o preço dos materiais não nos permite vislumbrar roupas tecnológicas em grande escala. Há também um obstáculo tecnológico, porque ainda estamos falando de placas colocadas sobre as roupas. A razão entre a superfície e a energia gerada é um dos principais defeitos da energia solar, mas a evolução da eficiência dos painéis solares só aumenta. Hoje, a eficácia média de um painel solar gira em torno de 4%. As tecnologias desenvolvidas pela AltaDevices ou as pesquisas universitárias já permitem eficiências de 25, 30 e até 40%. Esses progressos rimam com menos exposição necessária para recarregar um painel solar, e menor tempo de recarga para uma bateria. A autossuficiência energética fora de casa, quando iremos confrontar a natureza a céu aberto, parece estar ao alcance das mãos.

O verdadeiro ponto de inflexão, aquele que vai permitir a industrialização das roupas solares, será a democratização do tecido fotovoltáico, que permite a cada malha da roupa trabalhar para literalmente recarregar nossas baterias. O processo existe em laboratório, mas ainda não chegou na indústria têxtil. Mas está chegando o dia em que poderemos encontrar esse tipo de roupa nas lojas de prêt-à-porter. AltaDevices faz painéis solares cuja espessura chega fácil no nível do mícron, ou seja, 40 vezes mais fino que um fio de cabelo. Em 2014, a Universidade de Sheffield inventava células solares em spray e, no começo de 2016, o MIT acabava de lançar um filme transparente, possível de ser aplicado em um vidro ou tecido, capaz de estocar energia solar e restitui-la sob demanda.

Um pequeno passo para a moda e para a ciência, mas um grande passo para nossos fins de noite.

Solar Solace from Pauline van Dongen on Vimeo.