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Ela Quer Separar São Paulo do Brasil

Mais de mil aventureiros fazem parte do movimento separatista cuja líder diz entender quem pega em armas.

Frisson com as trincheiras dos anos 30  

Luciana Toledo tem umas ideias estranhas. Diz que o Brasil não existe. Para ela, o país é um amontoado de estados com identidades diferentes, mandando grana para uma ficção chamada Brasília. À frente de um grupo que teria mais de mil pessoas, essa paulista de 38 anos falou que entende quem pega em armas, embora ela mesmo se considere pacifista. O papo de defender valores, tradições e cultura paulistas vem forte da boca da líder do MRSP (Movimento República de São Paulo). Tremei.

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VICE: O que é o MRSP?

Luciana Toledo: É um movimento que defende a independência do estado de São Paulo, pacífica e voluntariamente, por meio de um plebiscito. Lutamos por: autonomia legislativa e tributária; restauração paulista em seus aspectos culturais; promoção da identidade do povo daqui; valorização dos patrimônios históricos; e resgate do orgulho de ser paulista. Por meio do diálogo queremos mostrar que cada estado que compõe o Brasil tem uma necessidade distinta.

Qual é a filosofia política do seu pessoal?

Somos heterogêneos. Existem desde conservadores até anarquistas entre nossos membros, e a única coisa que nos une é o ideal de independência de São Paulo.

Você é a atual presidente. Como é estar à frente de um movimento de secessão de um estado de tamanha relevância?

Sou presidente desde 2011. Lido diariamente com vários tipos de preconceito. Secessão ainda é tabu, as pessoas associam erroneamente esse tema com segregação e racismo.

A Revolução de 32 é modelo para vocês?

Essa revolução é uma parte importante da memória paulista, por isso precisamos deixar bem marcado na memória das pessoas como é importante que um povo se una por uma ideia. É preciso adquirir consciência disso. Nossa história foi composta pelo povo, por pessoas comuns, pais de família, filhos, irmãos. É a história de todos que lutaram nas trincheiras e defenderam a sua terra, das famílias que doaram todo seu ouro à campanha “Ouro para o bem de São Paulo”.

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Você já teve alguma treta por ter essas convicções? Já foi processada?

Não. Pensar não é crime. Não desrespeito ninguém. Devemos tornar esse debate público. As escolas têm que voltar a mencionar os nomes dos líderes do movimento independentista que eclodiu com o Partido Republicano Paulista, extinto por meio de uma lei federal que proíbe partidos estaduais. Não estamos fazendo nada ilegal, dialogamos de maneira pacífica, conforme a Constituição nos garante.

Quem põe grana em tudo isso que vocês fazem?

Recebemos doações, mas o trabalho voluntário é o grande motor. Não temos nenhum vínculo com ONGs, tampouco recebemos financiamento de qualquer organização. Toda a propaganda nas redes sociais é criada e desenvolvida por mim, assim como a manutenção e a hospedagem do site. Faço pela causa.

Vocês não são ligados à extrema direita, a grupos neonazistas ou a fascistas?

Não, mesmo que eu ou qualquer outro membro quiséssemos e fossemos a favor, isso não seria permitido, pois o estatuto deixa clara essa proibição. É proibido discriminar.

Você toparia pegar em armas para defender essas ideias?

Quando a maioria tiver consciência da farsa em que estamos obrigados a viver, não importará mais o meio, quem vai segurar toda essa gente com essa mesma ideia? Eu acho que é uma coisa inevitável pegar em armas, acho que ninguém ficaria olhando se uma revolução estourasse. Se for para me defender, creio que sim.

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Qual o tamanho do seu grupo?

Temos 1.078 membros cadastrados, mas existem movimentos menores e grupos de estudos, infelizmente eu não sei informar com precisão. Não somos poucos, mas estamos pulverizados e fica difícil agregar todos em um só movimento. Muitos não concordam com a minha postura libertária e preferem se agrupar de outra forma, porque tem comportamentos que não se alinham com o MRSP. Nosso estatuto é claro quanto a condutas discriminatórias.

Maior autonomia para todos os estados federativos não seria um caminho do meio, menos radical?

Em curto prazo essa pode ser uma medida cabível, mas é paliativa, pois não somos todos brasileiros. O que é o “povo brasileiro”? Qual a sua cultura? Não existe um povo “brasileiro”, o que existe são paulistas, cariocas, paranaenses, gaúchos, etc.: realidades distintas, cujo único vínculo é Brasília. Tirando isso, qual outro motivo para estarmos juntos nesse país de proporções gigantes? Cada povo deve e precisa poder defender sua cultura, preservá-la para que não haja imposição cultural.

Qual é o futuro do MRSP?

Continuaremos incomodando as pessoas que não querem falar da independência de São Paulo ou que preferem fazer do assunto um tabu. Persistiremos falando dessa ideia de maneira incansável. Sempre existirão pessoas insatisfeitas, e o MRSP está atrás delas.