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Uma Entrevista com James Deen, o Queridinho do Pornô

Buscar por “James Deen” no Tumblr revela uma infinidade de blogs de curadoria feminina dedicados ao cara, como se ele fosse um Colírio da Capricho.

O gatinho James Deen, ao ser muito bem documentado pela indústria pornô, foi catapultado pra fama, ganhou um papel no filme “convencional” mais recente escrito pelo Bret Easton Ellis e teve um longo perfil publicado na GQ. Muitos atores pornôs já ascenderam ao mainstream, mas a coisa mais intrigante sobre a fama recente de Deen é que ela foi impulsionada em grande parte por uma legião de garotas fãs de seu trabalho. Buscar por “James Deen” no Tumblr revela uma infinidade de blogs de curadoria feminina dedicados a Deen, como se ele fosse um Colírio da Capricho.

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Ele frequentemente é associado à pornografia “que as meninas gostam”. James diz que simplesmente entra em cena e faz o melhor que pode, acontece da mulherada gostar. É fácil entender o porquê. Ele é inteligente e articulado quando se trata tanto de sua sexualidade pessoal quanto da politização recente da indústria de entretenimento adulto de Los Angeles, depois que a Medida B foi aprovada. E, honestamente, ele parece mesmo um cara gente boa. Durante a nossa conversa ele disse que seu brinquedo erótico preferido é aquele que sua parceira preferir e também me contou uma história sobre visitar a avó no hospital.

VICE: Você sabe que tem muitas fãs. Encontrei vários e vários Tumblrs de mulheres dedicados a você. Você também é frequentemente associado ao termo “pornô pra mulheres”. O que você acha disso? O que faz algo ser “pra mulheres”?
James Deen: Bom, vamos ver. Psicologicamente falando, acho que homens são estimulados mais visualmente, e as mulheres são estimuladas mais mentalmente. Então talvez o pornô "pra mulheres" seja um pornô que brinca mais ao redor das fantasias que excitam a maioria das mulheres. Mas, no final das contas, sexo é uma coisa muito pessoal.

Por exemplo, toda garota que conheço que assistiu pornôs na adolescência não quer ver essas coisas fofas de fantasia soft porn. Ela quer ver a fantasia dela. Tipo o Rocco Siffredi jogando ela na parede e metendo até o talo, colocando a cabeça dela na privada e fazendo ela se sentir uma putinha suja. É isso que algumas garotas gostam, mas não significa que seja o que todo mundo gosta. Acho que pornô pra mulheres significa… Na verdade, não faço a menor ideia.

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É uma coisa muito pessoal. 500 pessoas podem ver o mesmo pornô e ter opiniões completamente diferentes sobre ele. Alguém pode dizer que o filme é pra mulheres porque parece erótico pra sensibilidade feminina, blá-blá-blá, outra pessoa pode dizer que é só “um cara fodendo uma mina com força”. Por isso é tão difícil caracterizar esse tal de pornô pra mulheres. É o mesmo que dizer que uma coisa é pra homens.

Assim parece que todo pornô é pra homens, e só alguns pornôs são pra mulheres. Bom, na realidade o pornô é feito apenas pra excitar pessoas, e é só uma questão de qual pessoa vai ficar excitada com qual filme. O público em geral pode decidir do que gosta e do que não gosta. Se não gostam, não vão assistir e, se gostam, então é isso que vão ver.

Com esse grande interesse das mulheres pelo seu trabalho, você entra em cena pensando no que elas gostariam especificamente de ver? Você prepara sua performance pra elas de alguma maneira, ou é algo natural do seu estilo de atuação e isso por acaso tem um apelo pras mulheres?
Eu faço o que tenho vontade. Simplesmente vou lá e faço a melhor cena que consigo imaginar e a melhor tomada que posso. Acontece das pessoas curtirem isso e algumas dessas pessoas serem mulheres.

Vamos falar um pouco sobre a Medida B, a legislação de Los Angeles que visa tornar obrigatório o uso de camisinha nos sets de filmes pornôs. Vocês protestaram bastante, mas a lei acabou passando. Em sua opinião, qual será o efeito disso sobre você e seu trabalho?
O problema da Medida B é que ela foi elaborada de maneira muito vaga. Então a intenção dela pode até ser boa. Honestamente, não sei qual é a intenção, porque isso não afeta ninguém fora, as pessoas que assistem pornô e aqueles envolvidos na produção dos filmes. O público do pornô quer ver filmes sem camisinha, então essas pessoas podem simplesmente ir atrás de produções feitas fora de Los Angeles.

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Agora todo mundo está falando sobre o que vai acontecer. Alguns dizem que vão simplesmente mudar de cidade, mas precisamos ver no que isso vai dar. Além disso, como eu disse nos meus protestos contra a Medida B, é uma questão constitucional na realidade, uma violação da liberdade de expressão. Já tivemos precedentes assim, situações como quando disseram que os filmes adultos eram obscenos e eles foram perseguidos. Isso já foi levado à Suprema Corte, e eles disseram que não, que a indústria de filmes adultos é qualificada como arte, você concordando com isso ou não. É um entretenimento feito com o propósito de inspirar certos sentimentos eróticos.

E o jeito como isso me afeta, bom, a lei diz vagamente algo como: “toda transferência de fluidos deve ter uma barreira de proteção”. E isso pode significar que não podemos mais beijar na boca, já que tecnicamente isso é transferência de fluido, ou que você vai precisar de uma barreira protetora ali. Talvez você precise usar luvas pra fazer certas coisas. Teremos que aderir a todas essas coisas estranhas, basicamente o mesmo padrão de um hospital. Então, se você estiver pelado e tocando os genitais de outra pessoa, vai ter que usar luvas.

Na indústria de filmes adultos, legalmente, nós operamos nessa estranha área cinzenta entre procedimentos similares aos hospitalares e de restaurantes e procedimentos da indústria do entretenimento. Digamos que um ator queira fazer um filme e ele tem HIV, digamos que o Tom Hanks realmente tivesse HIV no filme Filadélfia. Legalmente, você não pode discriminá-lo e não contratar o cara porque ele tem HIV. Mas vamos dizer que Tom Hanks tem HIV e quer fazer um pornô. Não é discriminação dizer: “Olha, não vamos deixar você fazer sexo sem proteção com outra pessoa na frente das câmeras sabendo que você tem HIV”. Mas por causa das leis de discriminação na Califórnia, tecnicamente é ilegal dizer que ele não pode fazer isso.

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Não sabemos se vai ser só: “Você tem que usar camisinha nas cenas”. Se esse for o caso, pra mim, pessoalmente, não tem problema, porque adoro camisinhas. Elas são ótimas e eu uso sempre. Mas as garotas com quem conversei têm uma opinião diferente, já que são elas que geralmente são penetradas e tem um pedaço de látex entrando e saindo violentamente delas por uma quantidade de tempo incomum por questões de entretenimento. Elas dizem que isso machuca fisicamente e que elas não sentem prazer assim. Converse com uma das moças sobre isso!

Mas e se eu não puder nem mesmo beijar em cena? E se eu tiver que usar luvas e óculos de proteção?

Os defensores da medida dizem que ela foi feita pensando na proteção dos artistas. Você acha que isso é verdade mesmo ou encara mais como um grande retrocesso geral contra a indústria de filmes adultos de Los Angeles?
Vejo mais como um retrocesso. Aprecio a intenção, se for realmente essa. Aprecio muito, mas tivemos zero transmissões de HIV nesse meio por quase dez anos. Zero. Temos um sistema. O sistema funciona. Ele poderia melhorar? Provavelmente, há sempre um jeito de melhorar e devemos buscar isso. Mas ter alguém de fora da indústria vindo aqui e dizendo como a gente deve se proteger é nos tratar como crianças. E nesse caso estaríamos fazendo pornografia infantil.

Você já transou com uma daquelas Real Dolls? Aqueles robôs sexuais?
Não, nunca transei com uma Real Doll.

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E você transaria?
Claro, gosto de experimentar de tudo.

Vejo que, na mídia, há sempre novos vícios sendo cunhados e discutidos: vício em amor, vício em internet etc. No momento parece que o vício em sexo é o assunto quente. Sendo alguém que já fez muito sexo na vida, o que você acha do fenômeno do vício em sexo?
Acho que a palavra vício é usada de forma muito vaga e imprecisa, assim como a palavra fetiche. O vício — apesar de eu achar que é melhor falar sobre isso com um médico, um profissional de saúde mental ou qualquer pessoa que não seja um ator pornô —, até onde eu entendo, é uma situação na qual a pessoa fica fisicamente alterada. E também uma situação que começa a afetar sua vida. Não é apenas gostar muito de fazer alguma coisa.

Gosto muito de fazer sexo. Muito mesmo. Se não trabalhasse em filmes pornô, acho que não faria a mesma quantidade de sexo, mas sempre fiz muito sexo e tenho uma sexualidade saudável. Não acho que sou viciado. Quando preciso fazer alguma coisa, vou lá e faço. Por exemplo, eu tive a oportunidade de fazer sexo outro dia, mas minha avó estava no hospital. Então fui até lá visitá-la. Não tive nem que pensar.

É assim também com o fetiche. “Ai, eu tenho um fetiche por óculos”. Não, você só gosta de garotas que usam óculos. Garotas de óculos são atraentes. Acho que os vícios são muito mal caracterizados. É como alguém que diz ser viciado em TV porque assiste televisão em vez de ler livros. Isso é besteira.

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Você tem algum brinquedo erótico favorito que usa em si mesmo ou nas outras pessoas?
[Voz de locutor de propaganda] Na verdade, a linha de brinquedos eróticos James Deen é com certeza minha linha favorita de brinquedos sexuais. Toda a linha — da Coleção Black and Blue até meu consolo realista — são os melhores brinquedos eróticos do mundo. Altamente recomendados. Vá até a sex shop mais próxima e adquira o seu agora mesmo.

Rá. Fora minha própria linha, pra mim brinquedos eróticos não dizem muita coisa. Não ligo muito pra isso. Fico completamente satisfeito com uma parceira. Se a mulher com quem estou transando curte esse tipo de coisa, então eu adoro brinquedos sexuais. Esse é o meu brinquedo sexual favorito no momento.

OK, mais uma pergunta. Você já transou com alguém que te entrevistou?
Sim, na verdade já.

OK. Bom saber.

Siga a Kelly Bourdet no Twitter: @kellybourdet