Meio Ambiente

Mais de 11 mil cientistas declararam 'emergência climática'

“Muitos de nós acreditam que o tempo está acabando para fazer alguma coisa.”
​Rescues from flooding after Hurricane Harvey. Image: Texas Military Department
Resgates durante a inundação depois do Furacão Harvey. Imagem: Departamento Militar do Texas.

Mais de 11 mil cientistas de 153 países declaram emergência climática num novo relatório, que pede seis ações urgentes para confrontar a crise climática. Alertar o público sobre os efeitos das mudanças climáticas é uma “obrigação moral” da comunidade científica, segundo o artigo, que foi publicado terça passada no jornal BioScience.

“Nos juntamos para declarar uma emergência climática porque as mudanças climática são mais severas e estão acelerando mais do que o esperado pelos cientistas”, disse o coautor William Ripple, professor de ecologia da Universidade do Estado do Oregon, por e-mail.

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“Isso está ameaçando ecossistemas naturais e o destino da humanidade”, ele acrescentou. “Muitos de nós acreditam que o tempo está acabando para fazer alguma coisa.”

O artigo, assinado por 11.333 cientistas (e contanto), foi escrito pela Alliance of World Scientists. Ele vem de meio século de pesquisas de ciência climática e destaca esforços políticos que datam da primeira World Climate Conference, realizada em Genebra em 1979.

Ripple liderou um relatório similar em 2017, assinado por mais de 15 mil cientistas, que também alertava sobre as consequências devastadoras das mudanças climáticas, mas focava em identificar diferentes tendências relacionadas ao clima por 25 anos.

No novo relatório, Ripple e coautores da Universidade do Estado do Oregon, Universidade de Sydney, Universidade da Cidade do Cabo e Universidade Tufts apontam algumas melhoras de longo prazo, como a ascensão de fontes de energia renovável como energia solar e eólica.

Mas o progresso tem sido muito lento e raro para evitar “sofrimento inédito”, argumenta a equipe no artigo. De fato, muitas dessas mesmas melhoras – o lento declínio do desmatamento na Amazônia, por exemplo – estão começando a retroceder.

Para responder adequadamente a essa emergência, a equipe de Ripple sugere focar em seis grandes projetos globais: uso de energia limpa, redução de poluentes de vida curta, conservação da natureza, promover dietas baseadas em plantas, rejeitar sistemas de economia exploradores, e buscar uma população humana global sustentável.

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“Em vez de soluções fragmentadas, sugerimos seis passos interligados que podem fornecer mudanças transformadoras nas maneiras como a sociedade funciona e interage com a natureza”, disse Ripple. “Os problemas sociais, ambientais e climáticos são sistêmicos e tão interdependentes que precisamos de uma solução holística.”

Considerando que as emissões de combustíveis fósseis são o principal motor das mudanças climáticas, será necessário uma troca rápida de fontes de energia que emitem gases de efeito estufa para tecnologias de energia de baixo carbono, disse a equipe.

Um esforço focado em parar a liberação de poluentes de vida curta, componentes que continuam na atmosfera por algumas décadas, também pode ter um grande efeito nas mudanças climáticas. Reduzir emissões de metano, fuligem e hidrofluorcarbonetos, por exemplo, podia ganhar tempo, basicamente cortando a taxa de aquecimento de curto prazo pela metade durante as próximas décadas, segundo o artigo.

Preservar o ambiente natural e sua incrível biodiversidade é algo básico, porque ecossistemas selvagens saudáveis podem ajudar a estabilizar o clima. Habitats marinhos e terrestres circulam nutrientes e sequestram carbono atmosférico, e a equipe sugere redobrar os esforços para preservar habitats já existentes enquanto permitindo que ecossistemas ameaçados se recuperem.

A indústria agropecuária é uma das maiores contribuintes para emissões de gases-estufa, então Ripple e seus colegas também enfatizam a necessidade dos humanos passarem para dietas mais dominadas por plantas e reduzir o desperdício global de alimentos.

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O objetivo de reestruturar nossos sistemas econômicos para abordar danos ecológicos e ambientais sustenta todas as outras sugestões. “Precisamos de economias que levem em conta os impactos de desenvolvimento e extração de recursos para o bem-estar dos humanos e preservação do ambiente”, disse Ripple.

Uma ênfase similar no bem-estar humano é expressa na última sugestão, que recomenda estabilizar o crescimento da população global. Superpopulação é um tópico muito carregado que vem sendo usado para justificar ideologias inumanas – tanto na vida real como na ficção – então a equipe deixa claro que está sugerindo expandir liberdade e educação reprodutivas para meninas e mulheres.

Claro, todas essas soluções vão exigir grandes mudanças de estilo de vida. Mas a alternativa de fazer nada para abordar significativamente a emergência climática vai resultar em sacrifícios ainda mais difíceis, como um evento de extinção devastador que pode varrer muitas espécies, incluindo a humanidade.

“A boa notícia é que uma mudança tão transformadora, com justiça econômica e social para todos, promete um bem-estar muito maior para os humanos do que fazer negócios como sempre”, a equipe conclui no artigo. “Acreditamos que as perspectivas serão melhores se os tomadores de decisões e toda a humanidade responderem a esse alerta e declaração de emergência climática, e agir para sustentar a vida no planeta Terra, nosso único lar.”

Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

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