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Pessoas falam sobre a primeira vez que experimentaram sexo não-monogâmico

“Foi assustador. Foi intrigante. Foi complicado, hidraulicamente falando. Mas principalmente, foi educativo.”
Imagem via Shutterstock.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Canadá .

Minha primeira experiência com relacionamentos não-monogâmicos aconteceu quando eu tinha 25 anos. Um amigo e eu seduzimos um casal depois de uma peça de teatro natalina. Foi assustador. Foi intrigante. Foi complicado, hidraulicamente falando. Mas principalmente, foi educativo, me expondo a uma comunidade que eu nem sabia que existia, numa época em que essa comunidade estava começando a ganhar atenção do público. Agora, quase uma década depois (suspiro), a não-monogamia consensual é mais mainstream que nunca. A internet — incluindo a gente aqui da VICE — cobre os mesmos pontos todo mês (Relacionamentos abertos existem! Os jovens curtem! Não tem muitos bigodes!) Isso se tornou tema de incontáveis livros, filmes e séries de TV. A opção desenvolveu seu próprio vocabulário e identidades, envolvendo coisas como compersão, soft swaps, full swaps e até unicórnios (deus que abençoe).

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Mas não importa quanto uma pessoa leia, tem sempre um ponto onde um casal (ou um indivíduo) considerando a não-monogamia tem que fazer o salto, um momento em que alguém tem que cruzar a cerca que separa ovelhas (sensuais) de cabras (muitos sensuais). Às vezes acontece por acidente. Às vezes depois de muita deliberação. Raramente depois de você assistir a pessoas fantasias cantando músicas de Natal. Entrar nesse mundo pode ser assustador. E não é pra todo mundo. E envolve muitas conversas difíceis e confronta muitas inseguranças pelo caminho.

Abaixo juntamos algumas histórias da primeira vez que essas pessoas escolheram dar o salto. Algumas envolvem lágrimas. Algumas envolvem outros fluídos corporais. Mas todas — como aquela fatídica peça de Natal — foram o primeiro passo em direção a algo novo.

Porque todo mundo precisa começar de algum lugar.

Mesmos as cabras muito sensuais.

NOTA: Todos os nomes foram mudados.

Kristen, 25 anos

Minha primeira vez foi um pouco assustadora. Eu estava saindo com um cara que era um pouco mais velho que eu, e ele era não-monogâmico, e falamos em explorar aquilo por uns seis meses. Não tínhamos explorado muito — talvez só beijado algumas pessoas. E fomos a um clube de sexo, mas não transamos com ninguém. Só para testar as águas. Era tudo novo para mim. Mas tínhamos esses amigos que estavam juntos há mais de dez anos. E eles eram não-monogâmicos, e a gente saía muito juntos. E eles eram muito legais, todo mundo se dava bem, então parecia uma primeira experiência segura.

Até que, finalmente, decidimos ir até a casa deles e fazer acontecer. Eu não estava tão interessada no cara. Era mais uma coisa de orgulho pra mim, porque meu namorado sempre foi realmente atraído pela mulher, e por alguma razão a ex dele — que também era não-monogâmica — não tinha deixado acontecer. Então eu queria ser a Nova Namorada Legal que ia fazer a coisa acontecer. Eu estava disposta a levar uma pelo time. Mas não tinha ideia de quanto tinha que levar…

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Lembro do momento da revelação. Estávamos todos no quarto brincando e tirando a roupa. E o cara tirou a calça e tinha, tipo, um pau de cavalo. Sinceramente. Foi tipo quando eu fui pro México quando criança e tinha muitos cavalos lá… Bom, essa imagem me veio imediatamente à cabeça. Tem um ponto onde um pau grande para de ser sexy e começa a ser assustador. Lembro de assistir o cara com a esposa, ela estava chupando ele, e ela era baixinha — tipo 1,60 metro — e ela nem conseguia enfiar a coisa inteira na boca, e eu pensei "Como você faz isso há mais de uma década? Onde você enfia esse negócio?" E depois: "Caramba, sou a próxima". E quando finalmente trocamos de parceiros, lembro de assistir o cara colocando uma camisinha tamanho GG. E naquela hora, dar para trás não parecia uma opção. E eu não queria que fosse. Pensei "Tanto faz. Posso fazer isso. Posso ser não-monogâmica. Consigo aguentar esse monstro marinho dentro de mim". Então deitei lá e pensei "Tudo bem. É só respirar fundo". Acho que no final das contas só fiz o possível para ele gozar logo. Quer dizer, eu não estava tendo um momento ruim. Mas não estava necessariamente me divertindo.

Então a coisa toda foi meio demais pra mim. Acho que chorei um pouco no caminho pra casa. No geral, foi uma boa experiência, e fico feliz de isso ter acontecido com aquelas pessoas e naquela situação. E meu parceiro e eu passamos por várias outras situações não-monogâmicas. Ainda somos não-monogâmicos. E parabéns para aquele cara. Muitas garotas gostam disso. Mas definitivamente foi a única vez que fiz sexo com ele.

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Ryan, 35 anos

Minha primeira experiência não-monogâmica foi há uns 13 ou 14 anos. Minha namorada e eu estávamos juntos há alguns anos antes de ter a conversa sobre sair com outras pessoas. Na época, eu estava trabalhando para uma empresa e uma garota lá flertava muito comigo, e um dia surgiu na conversa que isso estava acontecendo, e que eu queria fazer algo com ela. Minha namorada resistiu muito à ideia, obviamente, como é normal. Mas a coisa virou e quanto mais ela pensava nisso, mais ela se interessava.

Chegou um ponto onde ela estava falando mais sobre isso que eu, o que acabou me deixando desconfortável. Nada nunca aconteceu com ela, mas começou essa conversa.

Ao mesmo tempo, tínhamos vizinhos que também eram nossos amigos, da mesma idade que nós, e minha namorada estava falando com a garota sobre isso. E acontece que eles eram um casal vivendo aquele estilo de vida. E eles já tinham estado em situações de full swap no passado. Eles estavam falando sobre nós quatro fazermos alguma coisa. Mas ninguém mencionou isso para mim.

Então estávamos todos juntos uma noite e depois de vários drinques, acabamos no quarto numa situação de full swap. Nem tive tempo de ficar assustado. Porque as coisas começaram do nada. Na época eu não sabia nada sobre não-monogamia. Nem sei se esse rótulo já existia. E eu nem sabia que eles tinham essas conversas. Então toda a parte da conversa antes de fazermos isso mesmo — essa foi a parte assustadora. Muito mais assustadora do que quando estava realmente acontecendo. Porque foi num lugar onde estávamos confortáveis, e com pessoas com quem estávamos confortáveis. Aconteceu muito organicamente. Não fiquei com aquela parceira por muito tempo — por outras razões —, mas isso começou uma tendência. Meu relacionamento atual na verdade começou não-monogâmico. Então isso influenciou muitos os meus relacionamentos subsequentes. Cresci em Okanagan, no Canadá, onde esse tipo de coisa é muito incomum. Mas desde que tudo isso aconteceu, aprendi muito sobre não-monogamia e poliamor, e isso realmente abriu meus olhos.

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Jenifer, 38 anos

Para meu marido e eu, a estrada da nossa primeira experiência não-monogâmica foi longa. Começamos nosso relacionamento sendo muito: "Ah, não vamos falar sobre os nossos ex-namorados; não vamos falar sobre outras experiências". A relação estava num pedestal, o que acabou com a gente morando junto muito rápido, casando muito rápido e terminando muito rápido. De se conhecer, casar e terminar levamos uns quatro anos. E nós dois saímos com várias pessoas depois do divórcio, mas sempre acabávamos voltando e falando sobre isso um com o outro. E começamos a pensar "Bom, por que isso é OK agora, quando antes eu nem podia saber o nome da sua ex-namorada?"

Acabamos voltando, e se antes tínhamos uma relação muito delicada, pisando em ovos, do nada, tínhamos que lutar por esse casamento, e tentar fazer funcionar. E conversamos sobre não-monogamia por um tempo, num sentido muito exploratório. E um dia, ele simplesmente disse: "Por que não tentamos isso?" E foi a primeira vez que ele pulou de vez no barco, e eu disse "Ah, OK."

Na primeira noite que fomos a um clube de sexo, nada aconteceu. Eu insisti nisso, mas quando chegamos no clube, ele disse "Ei, isso é legal", e eu acabei entrando em pânico com a realidade da situação. Parecia algo OK como fantasia, mas do nada, o fato de que podia realmente acontecer me chocou.

Quer dizer, entrei lá e tinham várias mulheres atraentes olhando para o meu marido, e eu pensei "Espera aí!" Não que eu fosse contra. Só fiquei sobrecarregada. Você chega lá e tem uns 35 casais. Eram umas 70 pessoas que tinham experiência com esse estilo de vida. Tinha uma banheira no fundo onde as pessoas estavam entrando peladas. E a gente sentou lá pensando "O que diabos está acontecendo?"

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Encurtando a história, acabei na cozinha chorando, porque a coisa tinha ficado muito real de repente. Quando saímos do clube naquela noite, fomos em silêncio para casa. Acho que a gente só disse "Bom, foi interessante", e aí acho que dissemos "Isso não é pra gente agora". E levamos quase um ano para voltar. Mas voltamos. E estamos nessa desde então.

Trina, 36 anos

Tudo começou pelo Facebook. Muitas mães solteiras como eu fazem parte de grupos de mães no Facebook, e claro, acabamos falando sobre namoro. Era uma conversa sobre o PlentyodFish e todos os tipos babacas que você encontra lá, e um dia, uma dessas mulheres perguntou se eu não queria almoçar com ela. Fomos comer sushi e ela me contou sobre clubes de sexo, resorts de swing e tudo mais. E, bom, cresci numa cidade pequena. Fui parte de um relacionamento monogâmico por 23 anos. Mas antes de conhecer meu marido, com vinte e poucos anos, eu bebia muito e era bem promíscua, então achei tudo muito interessante.

Então me tornei membro do Club Eden [um clube de swing local] e me juntei ao grupo deles no Facebook. Nunca fui realmente até lá, mas ainda estava nesses sites de namoro. E um dia, um cara me mandou mensagem no OKCUPID, dizendo que ele e a namorada queriam um ménage. Eles não eram exclusivos, e estavam interessados em encontrar alguém, mas não sabiam como fazer. E eu e ele conversamos um pouco, e eu finalmente disse "Nunca fiz isso antes, mas adoraria conhecer sua namorada".

E saímos todos juntos e conheci a mulher dele, e foi uma atração instantânea. Eu não tinha uma conexão muito sólida com o cara, mas tinha uma conexão física muito forte com ela. E todos conversamos e flertamos por um tempo — durante um mês — e eles me mandaram vídeos deles fazendo sexo, e acabaram vindo para a minha casa uma noite, trazendo uma garrafa de vinho, e acabamos num ménage. Lembro que estávamos conversando, e ninguém realmente sabia como fazer a transição para o quarto, então eu finalmente disse: "Hum, quando vamos lá pra cima?" E eles disseram "Ah, OK. Vamos nessa". E foi muito bom. Na verdade, eu e ela foi bom. Eu e ele, nem tanto. Eu tinha falado com amigos que já tinham feito isso, e todos disseram "Não importa. Se você tiver uma conexão com a mulher, vai ser bom". Entrei nessa de cabeça. Eu nunca tinha beijado uma mulher, e chupei muita xoxota naquela noite.

Só fiquei com eles uma vez. Mas foi incrível, porque me deu a coragem pra fazer contato com outras pessoas da comunidade não-monogâmica. Conheci pessoas que se tornaram grandes amigas. Fiz muitos bons amigos, ponto.

Tradução: Marina Schnoor

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