Filipe Ret e seu filho Theo. Imagem capturada do clipe de "Santo Forte".
Nesta sexta (17) a comunidade Retiana vai ao delírio com o aguardado lançamento de Audaz, álbum que completa a primeira trilogia discográfica do rapper carioca Filipe Ret. Lançado pela Som Livre, o disco já está disponível nas plataformas digitais com 13 faixas incluindo as já lançadas “Vivendo Avançado”, “A Libertina”, “Louco pra Voltar” e “Santo Forte”, todas com criativos clipes que somam milhões de visualizações. Mantendo-se longe de polêmicas que marcaram o início de sua carreira Ret consolida-de como um artista maduro, de uma sonoridade forte, querido tanto no asfalto quanto na favela.Na última terça o rapper armou uma audição na Lapa, no Rio, e eu colei lá para conversar um pouco com o rapper sobre o Audaz. Leia a nosso papo enquanto ouve o disco no player abaixo.Noisey: Vivaz, Revel e Audaz. Me fala um pouco sobre os nomes dos discos. Eles marcam momentos diferentes da sua carreira mas ao mesmo tempo se completam.
Filipe Ret: Costumo dizer que são minhas três personalidades. E são três forças também. Espírito, cérebro/alma e corpo. O feminino, o bi e o masculino. O direito, o esquerdo e o esférico. Minhas composições e interpretações variam dentro desses três universos. É um simbolismo para tentar ilustrar minha complexidade interior. São 33 faixas e nos três discos existem os três lados.Nesse disco você vem mais maduro, falando de temas mais sérios. Tem a ver com ter sido pai?
Sem dúvida. Eu aprendi muito de produção nos últimos anos e no Audaz eu coloquei mais em prática meu conhecimento junto com meu time de beatmakers, em especial MãoLee e Dallass. Mas acredito, sem demagogia, que todos meus discos são essencialmente experimentais. Audaz é provavelmente o mais ousado. Mas pessoalmente falando, eu virei pai e isso me transformou numa pessoa mais humana e ainda mais trabalhadora.Enquanto nos outros discos você só compunha e chegava no estúdio pra gravar, segundo o MãoLee desta vez a produção do disco é praticamente sua. Me fala sobre esse processo e qual o resultado disso na sonoridade do Audaz.
Eu busquei algo mais quente e uma sonoridade totalmente contrária à moda dos acústicos. Realmente trabalhei muito no estúdio nesse disco, trabalhei nas batidas e escrevi tudo basicamente na estrada. "Santo Forte" foi toda escrita numa viagem de avião por exemplo.Esse clipe exalta as diferenças com personagens fortes. me conta um pouco dele.
É um trap forte e não queria fazer mais um clipe com um monte de cara comigo daquele estilo de sempre. Quis mostrar o povo, exaltar as gigantes histórias de gente comum. Eles são os verdadeiros heróis e por isso são os protagonistas do clipe. Existem milhões de líderes no país, que precisam ser fortes pra conduzir a própria história. A gente esquece que viver não é nada fácil, e num país como o nosso é mais difícil ainda.Além do trap e do funk, senti muita influência de dancehall e reggaeton no álbum.
As influências vão do jazz ao soul passando pelo reggae e ragga, até o proibidão do funk carioca e o trap atual. Fiz questão de que esse fosse um disco mais dançante, e ele vai deixar o show mais completo, mais corporal. Não apenas cerebral e espiritual.Quem mais participa do disco?
Do rap: Flora Matos, Marcelo D2 e BK'. Do funk: MC Deise e MC TH. Nas produções: meu fiel Mãolee e nosso menino de ouro Dallass, além de um time pesado: Mestre Duani, meu irmão Jhonny, meu novo parceiro RickBeatz, o mineiro sangue bom Fabricio Matos na mix e André Dias na master. Time de músicos também: os talentosíssimos Anderson e Michel fizeram umas guitarras. Meu irmão fechamento Brunão fez umas baterias. Meu mano Marechal fez umas percussões foda. Minha amiga Juju Gomes abrilhantou a faixa "Libertina" com seu backing vocal, e por aí vai… Com certeza tô esquecendo de mais gente.Fala sobre “Gonê”, escrita na língua do TTK.
Escrevi essa letra na van indo de algum show para outro. É uma faixa muito pessoal. Eu falo essa língua desde criança. No TTK antigamente a criação era muito na rua e todos sabiam falar essa língua. Hoje, como principal rapper da área, tinha que ter um som mostrando isso na prática. Foi intuitivo.A gente tá vivendo um momento de empoderamento dos negros, das mulheres, dos LGBTs, e isso incomoda muita gente, que tá aí pregando racismo e misoginia na internet, além de um cenário tenebroso pras eleições. Qual o papel do hip hop, que teve sua origem num discurso de questionamento e confronto, nesse momento?
O hip hop é essencialmente anarquista e sempre foi uma disputa de poder interminável , desde Kool Herc em 1970 no Bronx. Mas essa disputa sempre foi de habilidade, de técnica, de ideias. Esse é o espírito da cultura: estimular a molecada a canalizar a agressividade e o espírito competitivo urbano em algo artístico, poderoso, transformador. Foi assim que eu me transformei também. Mas o hip hop vai muito além do posicionamento "de esquerda". Ele não é ingênuo. Ele é um universo esférico, vivo e tão vasto e confuso quanto à disputa política mundial. É uma guerra de poder moderna, artística, imensurável, complexa e anarquista. É tudo que a vida é.Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
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Filipe Ret: Costumo dizer que são minhas três personalidades. E são três forças também. Espírito, cérebro/alma e corpo. O feminino, o bi e o masculino. O direito, o esquerdo e o esférico. Minhas composições e interpretações variam dentro desses três universos. É um simbolismo para tentar ilustrar minha complexidade interior. São 33 faixas e nos três discos existem os três lados.Nesse disco você vem mais maduro, falando de temas mais sérios. Tem a ver com ter sido pai?
Sem dúvida. Eu aprendi muito de produção nos últimos anos e no Audaz eu coloquei mais em prática meu conhecimento junto com meu time de beatmakers, em especial MãoLee e Dallass. Mas acredito, sem demagogia, que todos meus discos são essencialmente experimentais. Audaz é provavelmente o mais ousado. Mas pessoalmente falando, eu virei pai e isso me transformou numa pessoa mais humana e ainda mais trabalhadora.Enquanto nos outros discos você só compunha e chegava no estúdio pra gravar, segundo o MãoLee desta vez a produção do disco é praticamente sua. Me fala sobre esse processo e qual o resultado disso na sonoridade do Audaz.
Eu busquei algo mais quente e uma sonoridade totalmente contrária à moda dos acústicos. Realmente trabalhei muito no estúdio nesse disco, trabalhei nas batidas e escrevi tudo basicamente na estrada. "Santo Forte" foi toda escrita numa viagem de avião por exemplo.
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É um trap forte e não queria fazer mais um clipe com um monte de cara comigo daquele estilo de sempre. Quis mostrar o povo, exaltar as gigantes histórias de gente comum. Eles são os verdadeiros heróis e por isso são os protagonistas do clipe. Existem milhões de líderes no país, que precisam ser fortes pra conduzir a própria história. A gente esquece que viver não é nada fácil, e num país como o nosso é mais difícil ainda.Além do trap e do funk, senti muita influência de dancehall e reggaeton no álbum.
As influências vão do jazz ao soul passando pelo reggae e ragga, até o proibidão do funk carioca e o trap atual. Fiz questão de que esse fosse um disco mais dançante, e ele vai deixar o show mais completo, mais corporal. Não apenas cerebral e espiritual.Quem mais participa do disco?
Do rap: Flora Matos, Marcelo D2 e BK'. Do funk: MC Deise e MC TH. Nas produções: meu fiel Mãolee e nosso menino de ouro Dallass, além de um time pesado: Mestre Duani, meu irmão Jhonny, meu novo parceiro RickBeatz, o mineiro sangue bom Fabricio Matos na mix e André Dias na master. Time de músicos também: os talentosíssimos Anderson e Michel fizeram umas guitarras. Meu irmão fechamento Brunão fez umas baterias. Meu mano Marechal fez umas percussões foda. Minha amiga Juju Gomes abrilhantou a faixa "Libertina" com seu backing vocal, e por aí vai… Com certeza tô esquecendo de mais gente.
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Escrevi essa letra na van indo de algum show para outro. É uma faixa muito pessoal. Eu falo essa língua desde criança. No TTK antigamente a criação era muito na rua e todos sabiam falar essa língua. Hoje, como principal rapper da área, tinha que ter um som mostrando isso na prática. Foi intuitivo.A gente tá vivendo um momento de empoderamento dos negros, das mulheres, dos LGBTs, e isso incomoda muita gente, que tá aí pregando racismo e misoginia na internet, além de um cenário tenebroso pras eleições. Qual o papel do hip hop, que teve sua origem num discurso de questionamento e confronto, nesse momento?
O hip hop é essencialmente anarquista e sempre foi uma disputa de poder interminável , desde Kool Herc em 1970 no Bronx. Mas essa disputa sempre foi de habilidade, de técnica, de ideias. Esse é o espírito da cultura: estimular a molecada a canalizar a agressividade e o espírito competitivo urbano em algo artístico, poderoso, transformador. Foi assim que eu me transformei também. Mas o hip hop vai muito além do posicionamento "de esquerda". Ele não é ingênuo. Ele é um universo esférico, vivo e tão vasto e confuso quanto à disputa política mundial. É uma guerra de poder moderna, artística, imensurável, complexa e anarquista. É tudo que a vida é.Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
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