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Desastre em Mariana

Falta de informações sobre funcionários da Samarco é maior, diz esposa de desaparecido no desastre de Mariana

Família tenta, em vão, descobrir o paradeiro de Samuel Vieira Albino, desaparecido desde o rompimento da barragem em Mariana.
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Por GB*
foto de celular Samuel Vieira Albino

Na imagem do celular, Samuel ainda desaparecido. Foto: Matheus José Maria/Ava Notícias

Cercada de colchões, água, roupas e acessórios doados, Aline Ferreira Ribeiro, 32, se queixa da falta de informações no abrigo montado na Arena Mariana: "Aqui vivemos o dia inteiro de boatos". Seu marido, Samuel Vieira Albino, 34, trabalhava ao pé da barragem Fundão, em Mariana (MG) com outros quatro colegas, quando foram surpreendidos pelo rompimento ocorrido na última quinta-feira (5). Três deles se salvaram, enquanto Albino corria para o veículo da empresa Geocontrole, contratada da mineradora Samarco, e foi atingido pela onda de lama.

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Trinta minutos depois, conta, os parentes buscavam contato por celular, sem sucesso. O que leva Aline e o pai de Samuel, Júlio Albino, a acreditarem que está morto. "Mas a esperança é a última que morre", finaliza Julio, revelando o desconforto da incerteza.

Aline desabafa que os boatos e falta de notícias concretas aumentam a aflição. "Um diz que foi encontrado um corpo, outro aumenta que foram dois. Nós vamos atrás de informação e na verdade não foi encontrado nada".

No entanto, o que mais parece incomodar a esposa do funcionário desaparecido é a falta de informações sobre os trabalhadores do local. Segundo o relatório da Defesa Civil desta sexta (13), são 10 funcionários e nove moradores não encontrados. Os casos de óbitos identificados chega a seis.

Júlio Albino, pai de Samuel acompanha sua esposa em espera por alguma notícia do filho desaparecido. Foto: Flávio Freire/Agência AVA

"Nós temos a sensação de que o poder público, por pressão, só trabalha para dar satisfação ou notícias sobre os moradores de Bento Rodrigues. Como a maioria dos funcionários vêm de fora, como nós, parece que as autoridades não estão preocupadas", se queixa.

Ela ainda afirma que a empresa mineradora, apesar da prestação de auxílio psicológico e médico, parece querer abafar o temas destes que desapareceram a serviço. Até ordem da Justiça expedida na segunda-feira, as atividades na mineradora não haviam sido paralisadas.

A assessoria de imprensa da mineradora, uma joint venture com 50% de participação da Vale do Rio Doce, foi procurada diversas vezes, mas até a publicação desta reportagem não comentou as afirmações.

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Maria Nilza, mãe de Samuel, aguarda desde o dia 5 notícias do filho desaparecido. Foto: Matheus José Maria/Agência AVA

Viagem e suporte
Aline viajou para Mariana na mesma noite da tragédia, acompanhada dos sogros, Julio Albino, 64, e Maria Nilza Albino, 56, e da irmã. Todos passavam por acompanhamento médico com assistentes sociais contratados pela mineradora Samarco. Muita abalada, Maria Nilza conversava ainda com uma psicologa.

"Já faz quatro dias, e não temos notícias. Tem gente que está ficando desesperada e procurando por si só", afirmou.

Albino e a família moram em Ribeirão das Neves, cerca de 85 km de Bento Rodrigues, e havia sido contratado para realizar a sondagem do subsolo da estrutura, procedimento prévio a uma possível ampliação da barragem.

No entanto, Aline afirma que o aumento da barragem de rejeitos era realizado simultaneamente à sondagem: "Ele perfurava o subsolo para ver se era seguro ampliar enquanto funcionários da empresa Integral aumentavam a barragem", diz ela, alegando ainda que o solo argiloso não suportaria o aumento. "Ele me contava tudo que passava no trabalho", afirma. A empresa não comentou a declaração.

Enquanto esperam por notícias no principal ginásio de Mariana, a angustia acaba por amenizar as rusgas que havia entre Maria Nilza e a nora - história que preferiram guardar para si.

Aline Ferreira Ribeiro, 32, esposa, mostra imagem de Samuel ainda desaparecido. Foto: Matheus José Maria/Ava Notícias

Colaborou Susan Ritschel*