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Tecnologia

As Obras Destruídas pelo Estado Islâmico Estão Sendo Reconstruídas Digitalmente

O Project Mosul está reunindo imagens das peças destruídas para criar versões digitais em 3D delas.
​Crédito: Project Mosul

Em fevereiro, surgiram vídeos que aparentavam mostrar militantes do Estado Islâmico destruindo artefatos no Museu de Mosul, no Iraque. As pessoas no vídeo derrubavam estátuas e marretavam as relíquias do local.

Desde então, um projeto para restaurar estes artefatos – digitalmente – está em andamento.

O Project Mosul está reunindo imagens das peças destruídas para criar versões digitais em 3D delas. Seu objetivo é montar um museu virtual para relembrar os tesouros perdidos.

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Matthew Vincent e Chance Coughenour fazem parte de um projeto europeu chamado ITN-DCH, sigla em inglês para Rede de Treinamento Inicial Em Prol do Patrimônio Cultural Digital: Projetando Nosso Passado para o Futuro, cuja maior preocupação é documentar digitalmente este tipo de material.

Quando o vídeo do Estado Islâmico circulou por aí, a dupla citou em sua página no Facebook o caso de algo que gostariam de poder registrar. Coughenour comentou algo sobre fazer crowdsourcing de imagens. "Seria uma resposta incrível ao Estado Islâmico! Reconstruir tudo que eles destruíram", respondeu Vincent. Nascia ali o Project Mosul.

"Percebemos que a coisa engatou rápido", disse Coughenour. Um grande desafio no começo foi – e ainda é – obter imagens, já que o museu está inacessível desde 2003 e o começo da Guerra Iraquiana, e antes disso câmeras digitais eram raridade. Mas quando o projeto caiu nas graças da imprensa, as coisas começaram a acontecer.

Três mulheres que haviam trabalhado no Iraque, a conservacionista da Universidade do Arizona Suzanne Bott, a coronel do exército americano Mary Prophit e a pesquisadora da Universidade de Deakin Diane Siebrandt, apareceram com uma coleção inicial que ajudou o projeto a decolar. "Acho que era mais de 150 imagens do museu", disse Vincent. A primeira reconstrução 3D do projeto é um leão, onde foram usadas 16 imagens.

O processo funciona da seguinte forma: voluntários disponibilizam suas fotos no site, onde mais voluntários as avaliam para selecionarem diferentes artefatos, de forma a esconder os detalhes ao redor, deixando apenas o artefato visível. O passo final consiste em usar programas de fotogrametria para renderizar um modelo em 3D. Este processo se dá ao combinar informações de imagens em diferentes ângulos para se obter uma sensação de profundidade e afins. O site especializado em conteúdo 3D Sketchfab se ofereceu para hospedar os modelos.

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"No momento, o site conta com mais modelos criados voluntários do que por nós inicialmente", disse Vincent.

Ao passo em que algumas pessoas estão empolgadas com a possibilidade de imprimir os modelos em três dimensões, a equipe avisa que a fidelidade não é tanta assim pela falta de imagens para coincidir entre imagens.

"Temos que deixar claro que estamos respeitando os desejos do Iraque neste assunto e não tentando usurpar sua herança cultural."

Não se trata de um desafio somente técnico; ao trabalhar com preservação de patrimônio, especialmente em tais circunstâncias políticas, levantam-se questões culturais também. A dupla está em contato com autoridades iraquianas na esperança de conseguir apoio formal para o projeto.

"Temos que deixar claro que estamos respeitando os desejos do Iraque neste assunto e não tentando usurpar sua herança cultural", disse Vincent.

Alguns relatos sugerem que entre os artefatos destruídos em Mosul encontravam-se réplicas, mas de acordo com a equipe, por mais que alguns não fossem originais, o projeto ainda vale à pena para chamar atenção para o problema e mobilizar algum tipo de ação em locais que foram arruinados.

Eles esperam conseguir mais voluntários neste momento, e após Mosul, gostariam de voltar seus esforços para áreas próximas como Hatra e Nimrud, locais tombados pela Unesco como patrimônio mundial também destruídas pelo​ Estado Islâmico.

Mas a dupla deixa claro que eles apenas querem preservar esta herança; neste caso seu trabalho é feito em resposta à destruição intencional, mas também poderia ser uma reação à desastres naturais. "Nós somos profissionais na área de patrimônio, não guerreiros", disse Vincent.

Tradução: Thiago "Índio" Silva