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Motherboard

Por que tantas espécies novas de bichos estão ganhando nome de celebridades?

As aranhas Leonardo DiCaprio e Michelle Obama não são piadas de cientistas.

Desde muitos anos, as pessoas batizam seus pets – e às vezes seus filhos – a partir de seus ícones da cultura pop favoritos. Nos EUA, em 2016, 370 pessoas chamaram seus filhos de Khaleesi em homenagem à Mãe dos Dragões de Game of Thrones. Pessoalmente, eu, o autor deste artigo, sonho em um dia ter um buldogue francês e chamá-lo de Wario.

E os cientistas também nomeiam suas descobertas novas a partir de celebridades. A diferença é que esses nomes carregam um peso um pouco maior: uma criança chamada Khaleesi pode legalmente mudar seu nome assim que atingir a maioridade, já os nomes científicos ficarão registrados nos livros para sempre. Eles moldam o mundo ao nosso redor. Existe um besouro chamado Agra schwarzeneggeri por causa dos bíceps do Arnold Schwarzenegger, uma vespa chamada Aleiodes shakirae por causa dos movimentos dos quadris da Shakira e tem muito mais (é serio, tem muitos nomes assim).

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É muito fofo quando seu vizinho aparece com um pug novo chamado Bob Barker, mas quantas espécies os cientistas ainda vão nomear a partir das pessoas da TV até que alguém se imponha e diga: basta!

Uma aranha recém-descoberta nomeada a partir do Leonardo DiCaprio. Crédito: Agnarsson lab.

Acontece que às vezes ter um nome reconhecível associado àquilo que, de outra forma, seria só mais uma criatura pequena e irrelevante é o único jeito aumentar o interesse geral a essas espécies.

Na última terça-feira, pesquisadores anunciaram a descoberta de 15 espécies novas de aranha no Caribe, e eles nomearam algumas a partir de alguns famosos, incluindo Bernie Sanders, Leonardo DiCaprio e Michelle Obama.

O especialista em aranhas Ingi Agnarsson é professor de Biologia na Universidade de Vermont e pesquisador principal do estudo, publicado no periódico Zoological Journal of the Linnean Society. Ele me contou que os cientistas que descobrem espécies novas podem, basicamente, nomeá-las como quiserem. Por exemplo, muitos cientistas nomeiam espécies novas a partir de cientistas antigos ou mesmo de pessoas queridas, porém, não é visto com bons olhos nomeá-las com seu próprio nome.

"Você tem total liberdade quando descobre uma espécie nova. Desde que use o genus correto, você pode nomeá-la como quiser", afirmou Agnarsson. O único problema real, ele disse, seria se um cientista recebesse algum tipo de benefício em potencial com isso. Então, não espere uma descoberta chamada de, por exemplo, walmarti.

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Uma das espécies foi nomeada a partir do Bernie Sanders. Crédito: Glynnis Fawkes.

Ele e outros quatro alunos que participaram do estudo nomearam as aranhas a partir de notáveis defensores da preservação da fauna e de ações contra as mudanças climáticas.

Entre tantas, suas aranhas foram nomeadas Spintharus davidbowiei (e que não é a primeira criatura a ser nomeada por causa do David Bowie), S. davidattenboroughi (nem de longe a primeira nomeada por causa do Sir David Attenborough) e S. leonardodicaprioi – Spintharus é o nome do genus da aranha. Mesmo que nenhum desses nomes venham tradicionalmente do latim, a latinização de alguns nomes de espécies é uma prática comum na ciência. Basta adicionar um "i" se for um nome masculino, e "ae", se for feminino.

Agnarsson afirma que algumas espécies são nomeadas assim porque os cientistas ainda têm muito trabalho em fazer as pessoas se interessarem por seus estudos. Identificá-las com uma figura reconhecida é uma forma de conscientizar e oferecer uma oportunidade de aprender sobre os problemas que cercam a natureza e a preservação. Isso também permite que os cientistas ressaltem certos traços desses animais e os tornem mais mais identificáveis.

A aranha nomeada a partir do Bernie Sanders. Crédito: Agnarsson lab.

"Estamos sempre tentando descobrir um jeito de chamar a atenção para os maiores desafios da preservação e das mudanças climáticas […] Assim, as pessoas em geral ficarão mais interessadas. Se a criatura fosse chamada de Spintharus puertorico, ninguém ouviria falar dela", afirmou Agnarsson.

E, como aquela mariposa de pelos dourados e genitais pequenos, nomeada a partir do Donald Trump, a carapuça pode servir…