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Sexo

Como chegar em alguém sem ser desagradável?

Pessoas de vários gêneros e orientações nos contam seus cenários ideais para receber uma paquera.
Imagem via 'Scott Pilgrim Contra o Mundo'.

Sei que todo mundo já imaginou incontáveis cenários em que um belo estranho se aproxima e muda nossa vida para sempre. Uma hora você está num supermercado imaginando qual o formato de macarrão menos deprê e, quando se dá conta, um anjo aparece com uma lata de molho de tomate, um pedaço de parmesão e um sorriso que poderia derreter queijo no espaguete. É um encontro por acaso que pode tornar seu jantar e sua vida completos.

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Mas, em todas essas fantasias, aposto que você nunca imaginou seus mundos colidindo quando você vê a foto da outra pessoa no celular. Ainda assim, clicar ou dar like no avatar de alguém é o jeito mais comum de conhecer uma pessoa hoje em dia. Foi-se o tempo em que esforço de verdade na vida real era necessário para fazer o romance florescer. Hoje encontrar um date é bizarramente parecido com comprar livros na Amazon com seu cartão de crédito quase estourado. Você coloca produtos no carrinho e torce pra transação ser aprovada.

Então, para quem ainda acredita na mágica de uma boa cantada e para quem está cansado de ser xavecado por estranhos com tanto respeito quanto um rato de esgoto tem por si mesmo, a VICE decidiu pedir a pessoas de vários gêneros e orientações para discutir seus cenários ideais de paquera.

Como você deve imaginar, as pessoas curtem uma variedade de coisas quando se trata de cenários ideais. Enquanto uma pessoa pode preferir um bilhetinho estilo oitava série, outra pode aceitar melhor “propostas diretas” – por exemplo: uma drag queen ensopada de mijo usando um colant de oncinha pedindo seu telefone.

Jess, 29 anos, interessada em homens e mulheres

Em espaços públicos, me interesso principalmente por alguém que respeita um envolvimento consensual. Tive experiências, com homens em particular, onde alguém chega invadindo meu espaço sem pedir. Digamos que estou lendo um livro ou com amigos, essa pessoa senta do meu lado e começa a falar comigo sem ter pedido antes. Para mim, isso é envolvimento não-consensual, e não importa o que a pessoa diz nesse ponto, já sei que vai ser desconfortável.

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Se alguém quer me abordar, passar um bilhete seria bom começo. Porque, mesmo se alguém chega e pergunta “Ei, posso fazer uma pergunta?”, ainda é uma interrupção. Me passar um bilhete dizendo “Não quero interromper, mas queria conversar. Me mande mensagem neste número” seria muito fofo! Também não é uma imposição. Posso escolher responder e consentir que o envolvimento continue ou, no pior dos casos, a pessoa me passa o bilhete, vai embora, jogo o bilhete fora e continuo meu dia sem ter que lidar com a situação desconfortável.

A diferença entre ser abordada por caras e minas? Acho que nunca levei uma cantada de uma mulher, as garotas queers de Vancouver são muito descoladas pra isso. Passo por hétero e tenho uma apresentação mais feminina, então acho que muitas vezes as pessoas pensam que sou hétero. Mas acho que eu estaria mais inclinada a me envolver com uma mulher do que com um homem em termos de cantada. Eu ainda ia querer um envolvimento respeitoso, claro, mas ter alguém chegando e pedindo meu número ou me fazendo uma pergunta, eu estaria mais inclinada a aceitar se fosse uma mulher em vez de um cara aleatório.

Casey, 31 anos, interessada em homens e mulheres

Não ligo de ser abordada – mesmo quando não tenho interesse. O que não gosto é quando a pessoa não entende minhas dicas. Não é tão difícil assim, com um certo grau de inteligência emocional, saber quando essa estranha [eu] gostaria de conversar ou prefere ser deixada em paz.

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Quando as pessoas dão em cima de mim, elas geralmente não me percebem como uma garota trans – e se percebem, não tentam me cantar em primeiro lugar porque é assim que as coisas tendem a acontecer. Mas muitas vezes as pessoas fizeram questão de comentar sobre o fato que sou trans, ou fazer perguntas sobre isso de uma maneira que implica “Ah, não se preocupe, sou legal”, mas prefiro quando isso não acontece.

Algumas vezes as pessoas já me disseram, logo nos primeiros segundos da conversa, “você é operada?” Aí eu penso tipo: “me desculpe, podemos falar sobre a sua genitália?” Tenho uma história ótima sobre um balconista de loja de conveniência, às 4h30 da manhã, tentando me xavecar muito toscamente. Eu disse “Tenho que ir agora” e ele disse “só pra você saber, sou muito bom em sexo anal”, e eu pensei “É esse seu trunfo? É isso que você usa para salvar a transa? Caralho, cara!” Ele também me perguntou se eu era operada, então, já sabe.

Mas acredito que é possível ter bons envolvimentos com pessoas aleatórias. Sexta passada, eu estava num bar e um cara sentou num canto na minha frente. Ele disse oi, eu disse oi, mas ele não me pressionou ou irritou – eu estava lendo ou algo assim. Mas aí começamos a conversar mais um pouco – casualmente, coisas bobas. Ele me ofereceu um drinque, eu aceitei, e conversamos um pouco mais. Depois de um tempo eu disse “Você quer sair daqui?” e ele disse “sim”, e no geral foi uma boa interação. Me senti muito bem com a coisa toda.

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David/Dust*, 28 anos, interessado em homens

*Dust é a persona drag do David.

Primeira coisa, gosto de pensar que tem dois tipos de pessoas no mundo: quem xaveca e quem é xavecado. Gosto de xavecar. Então se estou me sentindo confiante e gosto de alguém, vou até ele e dou meu número. É o jeito como gosto de fazer as coisas – dentro ou fora do drag. Para alguém dar em cima de mim? Gosto que seja bem direto. Não gosto de frases prontas – acho superridículo e clichê, mas acho que tem algo especial quando alguém chega e diz que gostou de mim. Também acho que o xaveco é uma arte em extinção. Raramente vemos isso. Não existe mais “Ah, apareci por acaso nesse lugar depois do trabalho e conheci esse cara”. As pessoas são mais criativas nisso agora, tipo, elas veem alguém num bar e pensam, hum, conheço as pessoas com quem ela está, então vou achá-la pelo Instagram.

Tenho uma história muito engraçada sobre uma situação assim quando eu estava em drag. Novembro passado, eu estava competindo no Mr./Mrs. Cobalt All Stars; fiz uma apresentação muito louca e sabia que esse cara que era meu crush estaria lá. Meu plano era chamá-lo pra sair. Eu estava pensando: essa vai ser a noite empoderadora, vou chamar ele para sair antes da performance. Mas não aconteceu porque eu estava muito nervoso antes do show. Bom, subi no palco e me apresentei. Eu estava usando um vestido amarelo enorme, fazendo lip sync da música “Why” da Annie Lennox, e um amigo subiu no palco e fez xixi em mim – mijou no meu rosto e tudo mais. E não tinha chuveiro na boate.

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Terminei minha apresentação e tirei meu vestido, mas o enchimento [por baixo das roupas] ainda estava encharcado de mijo! Aí coloquei um colant de oncinha – que ia do tornozelo ao pescoço – e ele ficou úmido quase instantaneamente. Mas eu estava me sentindo empoderado porque as pessoas obviamente gostaram muito da apresentação. O pessoal adora essas coisas extravagantes. Então saí da balada, andei até o meu crush, completamente coberto com o mijo de outra pessoa, e chamei ele pra sair. E ele disse sim, claro.

Jocelyn, 26 anos, interessada em homens

Minha situação ideal seria num lugar sem álcool envolvido, com uma abordagem fácil para aceitar ou negar. Hipoteticamente, uma livraria. Se alguém chegasse e me dissesse “Que livros você está comprando?” e eu dissesse “ The Bell Jar” e mais nada, então claramente seria um sinal de que não estou interessada. Mas se eu dissesse, por exemplo, “Estou comprando The Bell Jar”, depois elaborasse perguntando “O que você está comprando?” e começasse uma conversa, então isso mostraria que estou interessada. Acho que minha situação ideal de xaveco seria com alguém que entende a diferença entre responder com educação e responder com interesse genuíno.

Tem situações em que não gosto de conversar. Como em pontos de ônibus, em qualquer forma de transporte, num café onde claramente estou trabalhando e concentrada nas minhas próprias coisas. .

Ou quando estou com minhas amigas, me divertindo com elas. Sempre acho bares meio desconfortáveis porque parece que as pessoas estão esperando para te isolar do seu grupo. Mas os piores momentos são sempre no transporte público. Você se sente presa. Você está presa no ônibus com aquela pessoa, querendo ou não.

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Levi, 28 anos, interessado em mulheres

Tenho uma horta no jardim comunitário e outro dia estava pensando que, se uma garota chegasse e elogiasse meu jeito com plantas, seria muito legal. Com certeza prefiro um cenário onde eu esteja sozinho. Ter amigos por perto meio que destrói o momento. Mas gosto de jardins porque são um ambiente saudável e tranquilo. É um lugar onde você pode ter uma conversa legal e despreocupada com alguém.

Uma vez, passei por uma situação bem bizarra envolvendo uma mulher me xavecando. Eu estava num bar e ela chegou – me agarrando, falando comigo, flertando e tudo mais. Eu estava respondendo, sendo simpático, acho, e ela estava bem bêbada. Aí ela me puxou para perto dela e começou a sussurrar no meu ouvido. Ela me ofereceu um boquete, dizendo alguma coisa sobre me chupar no parque do outro lado da rua. Comecei a rir de nervoso, e ela só sorriu e começou a sussurrar mais coisas, umas descrições bem explícitas do que aconteceria depois que eu gozasse na boca dela – mas de um jeito biológico estranho. Ela começou a mapear o caminho anatômico da minha porra da boca ao estômago dela. Fiquei surpreso e estranhamente excitado. Eu disse que tinha namorada e saí para encontrar meus amigos.

Matt, 22 anos, interessado em mulheres

Uma situação ideal seria uma garçonete com quem você estava falando a noite toda te convidar para ir pra casa dela ou dar o número dela. Tipo escrever o número dela na conta e “me liga” com um smiley. Garçonetes são sempre incríveis. Elas estão numa posição de poder, até certo ponto, o que é muito atraente. O que quero dizer é que mesmo que elas tenham que conversar com você, se elas estão ou não investida é decisão delas, sabe? Elas têm o poder de tomar a decisão de ficar por perto e falar com você. E nessa situação, é melhor se você estiver num grupo. O ego masculino exige.

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Michael, 23 anos, interessado em todos os gêneros

Sou bigênero e geralmente me apresento de maneira feminina. Ser elogiado pelo meu visual ou apresentação é sempre bem-vindo. Geralmente não aceito “uau, como você é corajoso” como elogio porque me parece que a pessoa está tentando provar a si mesma que é inclusiva. Claro, tudo tem a ver com o tom de voz, as intenções que percebo etc.

Eu diria que me sinto confortável em ser abordado na maioria dos cenários. Só fico irritado quando as pessoas acham que devo algo a elas por ser xavecado. Se alguém me chama de fofo, ótimo! Mas se a pessoa quer dançar se esfregando em mim só porque disse que sou fofo e eu disse “obrigado”, aí tenho um problema. Aceitar um elogio não é consentimento para entrar no meu espaço pessoal.

Jess, 30 anos, interessada em todos os gêneros

Não ligo em ser abordada, desde que seja 100% respeitoso. O que não gosto é quando a pessoa faz uma cena, xinga e tem uma atitude desrespeitosa quando mostro desinteresse. Essas merdas dão medo e nunca sei que cara vai ficar puto e me bater por recusar um drinque. Os caras acham que têm direito aos nossos corpos e tempo cair muito; ser abordada por um estranho sempre vai me deixar tensa. Se baixo a guarda, posso acabar sendo culpada pelo meu próprio estupro ou morte.

1. Respeito é o principal. Não me interrompa se já estou conversando com alguém. Mesmo se você acha que a pessoa com quem estou falando é apenas meu amigo, interromper as pessoas é falta de educação e mostra que você não respeita minhas palavras e pensamentos quando quero compartilhá-los.

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2. Não fazer nenhum tipo de comentário sobre o meu corpo. Elogios caem bem melhor quando são feitos sobre uma coisa que a pessoa teve escolha em vez de algo que você não pode mudar facilmente.

3. Mantenha o primeiro contato curto. Posso estar ali com alguém, ou esperando alguém. Posso estar ali para comprar ovos e voltar correndo para casa para terminar de cozinhar alguma coisa. Se aproximar para dar um oi e recuar mostra que a pessoa respeita meu tempo e autonomia. Ficar espreitando pode ser muito escroto e intimidador, mesmo se a conversa vai bem. O principal é: não te conheço e não vim aqui por você. Legal te conhecer, agora é hora de me deixar sozinha.

4. Não faça negging, uma técnica de sedução que ofende as mulheres para tentar conquistá-las.

5. Se digo “não” ou “não estou interessada”, a pessoa deveria dizer “sem problema, boa noite” e me deixar em paz. Não por dez minutos. Não pelo resto da noite. Para sempre. Eu não deveria ter que ficar me repetindo.

6. Não discuta comigo e tente me fazer mudar de ideia sobre o que você está oferecendo. Novamente, eu disse não. Ignorar essa resposta indica que você não vai levar minha voz em consideração.

7. No mesmo ponto, se pareço estar incerta sobre sua oferta, não me pressione. Se afaste e talvez a gente tenha outra chance.

Andrew, 26 anos, interessado em mulheres

Sou um típico clichê das artes de 20 poucos anos. Claro, consigo imaginar uma situação ideal onde conheço alguém tomando cerveja artesanal num cinema local, onde percebemos que vamos assistir o mesmo filme clássico e nos apaixonamos. Ou talvez a gente se note num parque, enquanto um de nós lê um livro que evoca uma reação emocional no outro. Eca. Vômito. Que babaca.

Mas honestamente o mais importante é o que é dito. E tudo que importa é que alguém tentando dar em cima de mim ou me conhecer perceba que sou nervoso, que me assusto com movimentos súbitos e fala agressiva. Seja muito ousada ao me chamar para sair quando acabamos de nos conhecer e eu vou gaguejar uma risada, evitar contato visual e sua pergunta. Use uma cantada pronta e vou correr na direção contrária todo suado. Quero ser persuadido. Vamos devagar e só conversar, porque inevitavelmente vou ser o último a perceber que alguma coisa está acontecendo.

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Matéria originalmente publicada pela VICE Canadá
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