Procurando alienígenas no Ártico e na Antártida

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Meio Ambiente

Procurando alienígenas no Ártico e na Antártida

Com avistamentos de OVNIs e temperaturas aumentando, uma escritora descobriu por que os polos são áreas de grande atividade da vida extraterrestre.

Matéria originalmente publicada pela VICE Índia.

Mesmo do avião, as geleiras pareciam uma pele fria e enrugada. Essa imagem – de artérias brancas pulsantes, de um enorme monstro de gelo – ficariam comigo durante a quinzena que passei como escritora residente na Península Antártica, e voltaram quando passei três semanas viajando de barco pelo Ártico, pelos fiordes de Svalbard.

Do barquetine que funcionava como moradia para os artistas trabalhando na intersecção da ciência, eu passava meus dias observando, imaginando as misteriosas conexões entre os polos inabitados e o lugar de onde vim, superpovoado e poluído. Vi estações de satélite geodésicas, de onde o mundo monitora seus sistemas GPS, sobre platôs ou nas bases das montanhas. À noite, vi satélites no céu: a frequência de seus movimentos é a maior do mundo nos polos. Os satélites e as estrelas pareciam iguais.

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Encarando o subclima a 60ºS. Imagem: Himali Singh Soin

Os Círculos Polares. Todo ano há dezenas de avistamentos de OVNIs, máquinas estranhas pairando no céu, o céu pulsando com distúrbios geomagnéticos verdes acelerados. O Google Earth captura objetos estranhos que não se encaixam: tudo se destaca numa tela branca de gelo. Caçadores de OVNIs e agências de investigação extraterrestre observam tudo com olhos de falcão, detectando pontos de queda, bases alienígenas submersas e obscuras formações de nuvens que rendem sedutoras anomalias.

Em abril, cientistas da NASA capturaram imagens de buracos no gelo do mar no Ártico Canadense, com anéis de estranhos padrões como ondas. No passado, crateras profundas e amplas, de 76 metros e crescendo, e enormes pedras quase perfeitamente esféricas apareceram no Ártico Siberiano. “Bolhas” escuras flutuantes peculiares foram avistadas no Alasca Ártico. Pessoas viram numa gigantesca escadaria para o submundo na Antártida, as pirâmides perdidas de Atlântida e espaçonaves abandonadas.

Vídeos como este do canal Secureteam constroem conspirações com fotografias borradas.

Por muito tempo, esses lapsos de imaginação não eram simplesmente causados por teorias da conspiração, mas por relatos pessoais de exploradores, filtrados e distorcidos pela névoa, congelados e distantes.

O mundo se revelava lentamente para os antigos matemáticos e filósofos. No século 6 AEC, Pitágoras calculou que a Terra era redonda; no 5, Parmênides postulou cinco zonas climáticas; e no século 3, Aristóteles levantou a hipóteses de que um mítico continente no sul deveria existir. Ele o chamou de Antártida, do grego anti e arktos, significando “oposto à ursa”, o nome da constelação sob a qual fica o Ártico. Os polos são propensos à especulação, talvez porque sempre estiveram intimamente ligados às estrelas.

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Quando Píteas partiu numa viagem circumpolar em 350 AEC, ele descobriu Thule, um lugar além da estrela do norte no mapa celestial de sua época. Enquanto mapas fantasiosos medievais apresentavam serpentes, montanhas mágicas e criaturas híbridas, mesmo os retratos científicos dos polos, como o mapa de Gerard Mercator do Ártico do século 16, detalham um norte infinito formando um gigantesco redemoinho com rochas magnéticas pretas no centro, povoado por icebergues leviatãs e “pigmeus polares”.

O mapa Mercator Hondius do Ártico de 1606, apresentando "Pigmeu". Imagem: Wikimedia Commons

Mais tarde, Samuel Taylor Coleridge escreveu sobre um albatroz gigante voando sobre mares congelado em A Balada do Velho Marinheiro (1834). Júlio Verne imaginou um oceano sem gelo na Antártida em seu A Esfinge dos Gelos (1897). Em 1818, Mary Shelley escreveu sobre um homem, Victor Frankenstein, preso entre paredes de gelo do Ártico. Num ensaio sobre a “Obsessão da Literatura pelo Ártico”, Katryn Schulz diz que “Desde a antiguidade, nossas histórias sobre os polos em si são polares: ou o fim da Terra é precioso, glorioso e nosso para conquistar, ou é desolado, inalcançável e mortal”.

Quando vi a aurora boreal pela primeira vez em Ny-Ålesund, eu gritei. O céu uivava em verde, vibrando como os tubos gigantes de um órgão de igreja, invocando Deus ou algo muito grande para a existência. A aurora zombava do vento, o silenciando. Me deitei boquiaberta no chão congelado, sem quase senti-lo. E ri. Nenhuma quantidade de explicação poderia ter me convencido de que aquilo não era uma chegada extraterrestre. O céu estava consciente.

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A Aurora Austral, vista da Estação Espacial Internacional. Imagem: NASA

Mas isso é um fenômeno paranormal natural. Uma espécie alienígena real, o Homo Hubris, já está entre nós: somos nós.

Somos a razão para o aumento de avistamentos de OVNIs. Câmeras agora têm acesso a partes antes escondidas do mundo, enquanto as imagens que elas capturam se proliferam pela mídia. Os polos são as partes menos exploradas da Terra, mas a tecnologia nos dá uma proximidade artificial. Avistamentos, de imagens de satélite do Google Earth, dados da NASA/ESA e equívocos nas redes sociais, são testemunhos de falsas interpretações construídas sobre fotos borradas.

Um bico de mandrião preservado no gelo na ilha Martøya do arquipélago de Svalbard. Imagem: Himali Singh Soin

Enquanto os mares polares derretem, seus ecossistemas frágeis são infectados com micróbios invasivos trazidos pelas correntes. Na verdade, buracos no mar congelado são formados por congelamento e descongelamento repetidos. A bolha é uma alga tóxica ameaçadora em pleno florescimento. Como o gelo é o disfarce perfeito, a ciência ali é mais incerta que em qualquer outra parte da Terra. Também é o que torna os polos mais difíceis de limpar. Pitágoras imaginou o Ártico como um lugar com polígonos flutuando no espaço; na verdade, pedaços de gelo que passam por um processo repetido de derretimento e congelamento formam estruturas parecidas com polígonos. Rachaduras gigantes não são feitas por seres sobrenaturais com força extraterrestre, mas pela destruição constante causada pelos próprios humanos.

A ficção cercando os polos, imaginária ou de vigilância, é a verdade sobre as mudanças climáticas. Num mundo obcecado por descoberta e luz, teorias da conspiração polares se tornaram simbólicas de uma ignorância veemente, uma recusa de cumplicidade. Sabemos que com a luz mais forte vem uma lacuna de cegueira: a busca por outros seres é uma fuga das nossas próprias inclinações extraterrestres. A catástrofe climática, acelerando num ritmo muito maior que a tecnologia que a produziu, vai nos transformar em alienígena literalmente, em busca de um novo lugar para viver.

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