A corrida maluca dos apps de presidenciáveis no Brasil
Apps com Lula, Alckmin e Bolsonaro. Crédito: Reprodução/ Brunno Marchetti

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A corrida maluca dos apps de presidenciáveis no Brasil

Os principais pré-candidatos à presidência possuem games, reunião de memes e falas engraçadas em aplicativos. Será que isso pode influenciar eleições?

Pode não ser oficial, mas as eleições de 2018 já começaram. Basta abrir qualquer rede social para sacar que, embora as candidaturas à presidência ainda não tenham sido registradas, o páreo está alinhado para outubro. São, até agora, doze pré-candidatos na disputa por cada clique, like, retuíte ou comentário no oceano digital.

Existem, porém, territórios virtuais que ainda precisam ser cartografados. Um deles é a loja de apps de cada sistema operacional de smartphones, em particular App Store (iOS) e Google Play (Android). Ambas as lojas nunca foram o centro das atenções em discussões sobre política e internet, mas, de acordo com levantamento feito pelo Motherboard Brasil, não estamos falando de território completamente desocupado.

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Não se sabe se teremos por aqui um fenômeno parecido com o Corbyn Run, game lançado pela campanha de Jeremy Corbyn (Partido Trabalhista do Reino Unido) que teve grande impacto nas eleições britânicas com mais de dois milhões de downloads. Ainda assim, ao pesquisar o nome de pré-candidatos nas duas plataformas, encontramos diversos aplicativos dedicados à política e aos políticos, especialmente no Google Play.

O líder é o pré-candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro, com 33 aplicativos na Play Store e apenas um na App Store. Quase todos são elogiosos ao ex-militar e pré-candidato pelo PHS e se tratam de conteúdos pouco elaborados, a exemplo do jogo Bolsonaro Voador em que o candidato, denunciado pela procuradora-geral da república Raquel Dodge por crime de racismo e réu pelo crime de apologia ao estupro, flutua atirando “raio opressor” em pessoas de esquerda. Focado para um público que não tem idade para votar, o app foi baixado mais de cem mil vezes.

Game focado para o público infanto-juvenil de Bolsonaro. Crédito: Reprodução

Dentre os melhores avaliados está o Frases do Bolsonaro, que reúne falas do político. Segundo o desenvolvedor do programa Bruno Verçosa, a fonte do conteúdo são vídeos postados em Facebook e YouTube. "Recorto alguma parte que achei engraçada, faço alguns ajustes de qualidade, equalização e compressão do áudio e subo pro app", explicou

Na opinião dele, usar aplicativos para fazer campanha pode ser produtivo. "Os usuários são bastante ativos nos comentários e expressam opiniões lá, tanto positivas quanto negativas", diz. "Isso mostra que existe sim uma necessidade de uma plataforma que atenda essa demanda. Algo que aproxime os candidatos dos eleitores."

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Apesar de ter feito homenagem a Bolsonaro, Verçosa ainda não sabe em que vai votar. "Estou tentando descobrir quem vai fazer bem pro país principalmente na questão econômica. Sinto que aqui no Brasil precisamos de mais liberdade então estou procurando quem melhor está alinhado com isso", diz.

"Lula Jato" possui avaliação ruim na Play Store: 3,8. Crédito: Reprodução

Em segundo lugar no ranking de apps vem o ex-presidente Lula, com 13 apps na Play Store e nenhum na App Store. Embora alguns deles sejam homenagens ao ex-presidente, há vários que são tirações de sarro do petista. "Lula Jato", por exemplo, é um jogo parecido com Corbyn Run, no qual o político foge da condução coercitiva. "Áudios do Lula" tem como ícone uma foto do ex-líder sindical com a língua de fora e tem falas, digamos, polêmicas. Parece mais uma piada do que uma homenagem.

Mais bizarro ainda é o "Lula Cut Finger", jogo no qual o usuário tem de impedir um boneco que faz as vezes de Lula de pegar dinheiro. Para ter sucesso no game, é preciso cortar o dedo do vilão usando uma foice. Lançado em 2015, o jogo tem apenas 37 avaliações na Play Store, o que sugere não ter sido tão bem-sucedido quanto os desenvolvedores gostariam.

Por enquanto, parece que a única pré-campanha que faz questão de marcar presença oficialmente nas lojinhas virtuais é Geraldo Alckmin. O app "Talckmin" disponibiliza conteúdos, informações e coloca a comunidade de eleitores do tucano em contato. Há ainda a possibilidade ganhar "medalhas", que são recompensas por sua dedicação à pré-campanha.

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De acordo com a página de Alckmin no Facebook, o aplicativo foi criado pela juventude do PSDB e baixado mais de mil vezes desde abril de 2018. Procuradas pela reportagem, nem a Juventude nem a empresa que desenvolveu o programa, a Wololo, responderam aos pedidos de entrevista.

Outra que tem apps oficiais nas lojas é Marina Silva. No entanto, os programas ainda são os usados na campanha de 2014. Já Ciro Gomes possui apenas um app para Android com suas falas que não chegou ainda aos mil downloads.

A presença dos outros pré-candidatos parece ser diretamente proporcional a seus índices de intenção de votos. Nem mesmo representantes da "classe empresarial" com João Amoedo (Novo), Michel Temer e Flavio Rocha (PRB, dono das Lojas Riachuelo) deram o ar de suas graças nos marketplaces dos sistemas operacionais - para o bem ou para o mal.

A julgar pelos índices de popularidade dos políticos nas lojas de aplicativos, as eleições de 2018 serão mais do mesmo - de novo. Resta saber se, nessa reta final, novos apps não mudarão o território dominado por Bolsonaro e seus asseclas mirins.

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