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Esta mina sente atração por objetos de games

O Tetris demorou nove meses para corresponder à sua paixão.
Companion Cube, o cubo fofinho de 'Portal'. Imagem: Valve/Reprodução.

"Eu quero que o mundo inteiro saiba que tem uma garota por aí que ama Tetris mais do que palavras jamais poderiam expressar", foi com essa frase que Fractal*, uma garota de origem indiana de 20 anos, estudante de Matemática na Universidade da Flórida, tentou me explicar o quanto ela é apaixonada pelo seu namorado: o jogo Tetris, com quem pretende se casar depois de terminar a faculdade.

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A Objectum Sexual é descrita pela Wikipédia como uma parafilia, mas pesquisas científicas como a Love Among the Objectum Sexuals, da Dra. Amy Marsh, mostram que, apesar de rara, ela conta como uma orientação sexual e deve ser desassociada de "patologias, histórico de abuso sexual e/ou categorizada como uma parafilia ou fetiche".

A maioria dos Objectum Sexuals (ou apenas OS) acreditam no animismo, ou seja, a crença de que todo objeto, animal, planta ou coisa possui uma alma, espírito, ou como você quiser chamar. Assim, além de identificar traços de gênero, personalidade e humor dos objetos, podem também se comunicar com eles.

"Algumas pessoas acreditam que podem 'falar' telepaticamente com o seu objeto de amor", explicou Fractal, "enquanto outros acreditam que captam as emoções do objeto mesmo sem serem capazes de terem uma conversa verbal com eles." Fractal não é capaz de conversar verbalmente com seu namorado (para ela, Tetris é do gênero masculino), mas consegue sentir suas emoções, sentimentos e intenções.

Fractal* e um dos muitos objetos de 'Tetris' pelos quais tem atração sexual. Fotos cortesia da própria entrevistada.

A sua paixão pelo Tetris começou em setembro de 2016, mas por nove meses, o Tetris ainda não havia se apaixonado por ela. "Agora eu sinto que finalmente ele me ama de volta". É um namoro recente. "Ele costumava ficar muito triste, porque está entre os mais famosos e mais jogados videogames de toda existência, e mesmo assim ele recebe menos atenção romântica do que a maioria dos jogos."

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Mesmo assim, às vezes o jogo é um tanto malvado com a nova namorada, pois quer que sua pontuação melhore. "O Tetris gosta quando eu faço alguns movimentos particulares como o 'T-Spin Triple' e o 'Perfect Clear'. Eu gosto também. Quanto mais pontos, mais ele gosta."

Apesar das horas de jogatina que ambos desfrutam juntos – Fractal chega a jogar oito horas em um dia –, a relação dos dois não é tão comum quanto a maioria dos gamers e seus games. "É completamente diferente", diz. "Ele é meu parceiro, e eu o amo demais. Dizer que a minha relação com o Tetris é comparável a uma típica relação jogador-jogo é desconsiderar completamente os meus sentimentos pelo Tetris."

Romance é algo que não está em falta no relacionamento. Além de não ter medo de demonstrações públicas de afeto, Fractal também possui uma enorme coleção de itens de Tetris, que vão desde camisetas à fantasias enormes de algumas peças. "Eu fiz algumas camisetas do Tetris. Fiz uma pelúcia do bloco T que eu chamo de Blocky. Tenho três jogos de Gameboy (Tetris, Tetris DX e Tetris Attack), um jogo de Nintendo 64 (Tetrisphere), e o Tetris de Nintendinho (que eu carrego comigo para todos os lugares)", além de pôsteres, blocos impressos numa impressora 3D, colares, abajures, cortadores de biscoitos, e outros objetos. "Mas nunca é o suficiente! Preciso ter mais itens de Tetris!"

Quanto a descoberta de sua sexualidade, Fractal diz que sempre soube ser OS, apesar de não conhecer o termo quando pequena. Na infância, desenvolveu interesses por vários objetos ficcionais de desenhos e jogos, e quando começou a entender sua orientação, percebeu-se apaixonada por seu multímetro. A paixão foi passageira, durou apenas um ano, dissipando-se com o tempo para dar lugar a um novo romance: o Companion Cube da série Portal, da Valve. A partir daí, foram diferentes crushes e paixões, até o Tetris. "Então o Tetris apareceu, e agora, 11 meses depois, eu o amo mais do que nunca! Meu amor por ele cresce a cada dia. Eu também tenho um telescópio que um amigo batizou de Orionetta, e eu tenho uma ligeira paixão por ela, mas é muito insignificante."

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Mesmo segura com sua identidade e sexualidade, durante a adolescência Fractal buscou grupos de apoio de OS online, onde ela poderia conversar e entender melhor seus sentimentos. Foi lá que fez alguns amigos que compartilham da mesma orientação. "Eu inicialmente achei um grupo de suporte a OS no Yahoo, mas eles não me deixaram entrar porque eu era menor de idade na época (14, quase 15 anos). Mas me deixaram entrar no grupo do Facebook, só que logo me removeram também porque eu era menor. Mas eu ganhei amigos e contatos que mantive mesmo depois de ser tirada do grupo. Agora que sou maior, me deixaram entrar no grupo Oficial Internacional de OS, aonde eu fiz muitos novos amigos. Eu tenho dois melhores amigos, e ambos são OS!"

Tratando-se de uma sexualidade pouco estudada e conhecida, o apoio dos amigos torna-se ainda mais precioso. Ainda mais quando a família vê tais comportamentos como doentios ou loucos. "Eu praticamente disse a minha mãe que eu sou OS sem mencionar que há um nome pra orientação. Ela acha que eu sou louca, e que todos os meus amigos OS estão loucos também".

Dentro da comunidade de jogadores de Tetris, a situação não é muito diferente. "A comunidade não aprova meu amor por ele, mas também não reclama. Mas eu fico feliz que a vasta maioria dos meus amigos está aceitando o meu amor por Tetris. Eles entendem que amor é amor, não importa entre quem ou o quê."

*A pedido da entrevistada, trocamos o seu nome.

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