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Crime

Comparando o suposto serial killer Bruce McArthur com outros assassinos infames

Especialistas analisam o que o modus operandi e os supostos relacionamentos sexuais dizem sobre McArthur.
Da esquerda para direita: Jeffrey Dahmer, Bruce McArthur, Dennis Rader, Robert Pickton.

Ainda estamos no começo da investigação sobre o suposto serial killer de Toronto Bruce McArthur, mas comparações já estão sendo feitas com outros assassinos notórios, incluindo Jeffrey Dahmer, Robert Pickton e John Wayne Gacy.

McArthur, 66 anos, um paisagista, já foi acusado de cinco assassinatos pelas mortes de Selim Esen, 44, Andrew Kinsman, 49, Majeed Kayhan, 58, Soroush Mahmudi, 50, e Dean Lisowick, 47. McArthur é gay e várias de suas supostas vítimas, além de muitos homens ainda desaparecidos, eram conhecidos por frequentar o bairro gay de Toronto.

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A polícia acredita que haja mais vítimas – apesar de “não ter ideia” de quantas – e disse na segunda-feira que descobriu restos pertencentes a três indivíduos em canteiros de locais onde McArthur trabalhou como paisagista.

Kinsman tinha um relacionamento sexual com McArthur, segundo a polícia, e desapareceu do bairro gay da cidade, do qual ele era um membro ativo da comunidade, em junho passado. A polícia disse que Esen também tinha um relacionamento com ele, mas não conseguiu identificar a natureza dele; ele desapareceu em abril do ano passado de Yonge and Bloor, não muito longe do bairro gay. Kayhan, de 58 anos, também frequentava o bairro, onde conheceu McArthur. Segundo o Globe and Mail, ele buscava um relacionamento romântico com o paisagista. Ele desapareceu em outubro de 2012. A polícia ainda não descobriu qual era o relacionamento entre McArthur e Mahmudi, que desapareceu de Scarborough em 2015. A polícia disse que Lisowick foi provavelmente assassinado entre maio de 2016 e julho de 2017 – Lisowick não foi dado como desaparecido e ficava periodicamente nos abrigos para sem-tetos da cidade. O Globe informou que ele era um trabalhador sexual.

Histórico de violência

Sasha Reid, candidata a PhD em psicologia de desenvolvimento na Universidade de Toronto e especialista em homicídio em série, disse a VICE que um aspecto do caso de McArthur que se destaca é sua condenação por agressão por espancar um homem com um cano de metal.

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“Na minha pesquisa, quase 80% dos assassinos em série que estudei tinham uma condenação anterior por agressão ou violência sexual”, ela disse. Pickton foi acusado de tentativa de assassinato em 1998 depois de esfaquear e quase matar uma trabalhadora sexual que escapou de sua fazenda.

“Ninguém acorda um dia transformado num serial killer”, acrescentou Jooyoung Lee, professor-assistente de sociologia da Universidade de Toronto que também pesquisa assassinos em série. Há um processo gradual, ele disse, “onde inicialmente as pessoas se envolvem em comportamentos de fantasia, onde começam a pensar em ferir outros, e começam a experimentar e flertar com a ideia de que podem realmente fazer isso”.

Com o tempo, ele disse, o impulso se torna muito forte, e o assassino começa a agir.

Vítimas marginalizadas

Lee disse a VICE que o que o que ficou marcado para ele no caso de McArthur é há quanto tempo membros da comunidade LGBT estão alertando sobre os homens desaparecidos, enquanto a polícia aparentemente foi muito lenta para abordar essas preocupações.

“A polícia, por vários meses, minimizou abertamente o fato de que havia um serial killer”, ele disse.

Ele disse que serial killers geralmente são oportunistas inteligentes, que sabem que se matarem alguém de um grupo marginalizado “é muito improvável ter o mesmo tipo de atenção da polícia e da mídia que um caso de uma mulher branca desaparecida teria”.

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Robert Pickton predava mulheres que eram principalmente trabalhadoras sexuais ou usuárias de drogas em Downtown Eastside, o que em parte é a causa para ele ter conseguido operar por tantas décadas sem ser pego.

“Muitas vezes, voltando no tempo, você tem pessoas nessas comunidades dizendo que algo está errado por anos, e só mais tarde as pessoas começam a juntar as peças”, disse Lee.

Corpos armazenados nas proximidades

Reid apontou como McArthur supostamente enterrava os corpos em canteiros de propriedades em que trabalhou pela cidade. Ela disse que esse é um comportamento que atrai serial killers, por várias razões.

“Há uma ligação espiritual entre eles e os corpos”, ela explicou. “Eles podem consumir o corpo, eles podem tirar prazer de consumir o corpo.”

Nos últimos anos de sua onda de crimes, Dahmer guardava partes dos corpos de suas vítimas em sua casa. Ted Bundy, que matou pelo menos 30 mulheres nos anos 70, revisitava os lugares onde suas vítimas estavam enterradas, às vezes para fazer sexo com os restos.

Reid disse que outra razão para manter os corpos por perto é para evitar ser pego – manter um corpo na sua casa permite controlar quem tem acesso a ele. Gacy, um serial killer que matou mais de 30 homens e meninos na área de Chicago, guardava suas vítimas num espaço embaixo de sua casa, onde a polícia eventualmente recuperou 26 corpos.

Motivações sexuais

Quanto à pergunta que todo mundo está se fazendo – por que esses assassinos cometem esses atos horrendos – Reid disse, falando no geral, que há pessoas que são hiper-reativas a stress, medo ou insultos.

“Quando confrontam isso, elas reagem com violência fatal”, ela disse. “Por isso algumas vítimas de serial killers conseguem escapar… elas entram no jogo daquela pessoa naquele momento.”

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A polícia ainda não divulgou se os supostos crimes de McArthur eram de natureza sexual. Mas pelo que parece, alguns aspectos do caso lembram Dahmer, que estuprava, assassinava, desmembrava e canibalizava homens e meninos – principalmente negros e asiáticos – e às vezes realizava atos sexuais com seus corpos.

Segundo o Globe, McArthur tinha uma queda por encontros sexuais violentos, é vários meios de comunicação disseram que a polícia encontrou um jovem amarrado na cama dele quando prenderam o suposto assassino no começo do mês.

Lee disse que Dennis Rader, também conhecido como o Assassino BTK (blind-torture-kill: cegar, torturar, matar), tinha fantasias vívidas de bondage.

“Ele gostava de amarrar pessoas e até se amarrava, e usava estrangulamento para matar suas vítimas.”

Mas ele disse que hesita em fazer generalizações sobre pessoas que gostam de BDSM e assassinos.

“Ted Bundy não gostava necessariamente de BDSM”, ele disse. “Ele disse que gostava da adrenalina de se sentir como um deus. A coisa que dá prazer para alguns assassinos é a ideia de ter controle absoluto sobre outro ser humano.”

Começo tardio

A idade de McArthur vai contra uma tendência encontrada na maioria dos serial killers, disse Reid.

“Esse cara é velho para sua categoria”, ela disse. “A maioria dos serial killers que agem sexualmente começam no final da adolescência, começo da faixa dos 20 anos, e continuam até os 30.” No entanto, a investigação ainda pode revelar que a suposta onda de crimes de McArthur começou muito tempo atrás. As alegações também sugerem que McArthur pode ter ficado “dormente” por um período.

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Reid disse que outros assassinos em série também fizeram longas pausas, incluindo Lonnie Franklin Jr., apelidado de “Grim Sleeper” porque parece ter parado de matar entre 1988 e 2002. Ela disse que a pausa pode ser desencadeada pelo assassino encontrando um emprego, uma esposa ou algo em suas vidas que dê a ele uma sensação de poder.

Vida dupla

Tanto Reid quanto Lee disseram que não é tão estranho assim McArthur ser o Papai Noel de um shopping local. Gacy era um palhaço que fazia eventos de caridade e festas infantis.

“Quando as pessoas encontram a ideia de serial killer, elas imaginam um monstro”, disse Reid. “Essa pessoa ainda é um ser humano e tem uma vida normal geralmente… Mas tem essa parte deles, esse mundo que eles habitam, que é mau.”

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