Um papo com a vanguarda nacional dos eletrodomésticos tunados

A palavra ‘tuning’ (‘afinação’, em inglês) designa a atividade de personalizar carros em todos os seus aspectos: mecânica, pintura, aparência interna, acessórios, rodas e, óbvio, o som. Existem centenas (talvez milhares) de competições formais e informais. Carros ‘tunados’ são postos lado a lado para mostrar quem faz a melhor customização e tem mais potência sonora.

Esse estilo de vida é tão popular que tem até sua Bíblia, a interminável série Velozes e Furiosos. Qual tunador nunca sonhou em ser Dom Toretto (Vin Diesel) e rasgar as ruas em sua barca rebaixada estourando os graves no som?

Foi exatamente assim que começou a história de Edmilson Oliveira da Silva, 34, Carlos Lucas Zanetti, 33, e Júnior Wezbalaski, 29, todos paranaenses. Amigos desde a adolescência, resolveram comprar um Kadett em 2001, influenciados pelo primogênito da franquia. O plano era tunar o bichinho à moda dos filmes. “Colocamos um insulfilm G5 (aquele bem preto), tiramos as molas, colocamos um som com uns subs [subwoofers] usados que tinham em casa, de um som da Gradiente, um toca fitas CCE e um jogo de rodas esfirras que troquei em minha bicicleta Caloi Aspen 21 marchas", conta Edmilson.

O "possante" não foi para a frente. Mas, alguns anos depois, as habilidades em tuning teriam um alvo diferente. Edmilson estava em um "paradão do som" (encontro de som automotivo) no Paraná. O ano era 2005. "Avistei um rapaz que havia colocado na traseira de sua Saveiro uma caixa de geladeira Prosdócimo, pintada de preto fosco e sem a tampa, com duas Bravoxx de 12 e 2 cornetas [alto-falantes], e percebi que o som estava muito bom, não se perdia muito nas paredes da geladeira", relembra. "Perguntei ao rapaz pra ter certeza de que era uma geladeira, e ele realmente disse que era, e que resolveu usá-la em vez de confeccionar uma caixa de MDF [material derivado da madeira]. O que mais me espantou foi a ótima qualidade que o som ficou; já imaginava que seria devido ao isolamento térmico de lã de vidro que as geladeiras possuem."

Alguns meses se passaram até que Edmilson encontrou uma geladeira no lixo e resolveu testar a ideia do rapaz. "Realmente vi que era muito bom, porém diferente do rapaz, eu não tirei a porta da geladeira nem a coloquei em meu carro", diz o tunador. O aparelho foi unanimidade: "Achei muito legal e todos também gostaram; aquela geladeira foi um sucesso com minha família e amigos". A pioneira não resistiu e teve de ser desmontada por falta de espaço. Mas a pulga já estava atrás da orelha.

Depois de criar sua loja de som automotivo, Edmilson resolveu fazer uma segunda edição da tunagem doméstica. Àquela altura, percebeu que outras pessoas haviam tido a mesma ideia e estavam incrementando seus aparelhos. No Youtube, geladeiras tunadas começavam a pipocar. Mas ele rejeita o rótulo de pai da tunagem de eletrodomésticos. "Creio que não fui a pessoa que deu início à ideia, e sim que é natural do homem observar uma geladeira e logo imaginá-la com dois 'bichos-papão' estourando tudo". Bicho-papão, aliás, significa subwoofer.

Em janeiro de 2017, os três amigos criaram a página "Eletrodomésticos Tunados" no Facebook. Com mais de 40 mil fãs, trata-se de um verdadeiro tributo à arte de tunar não só os já conhecidos eletrodomésticos (fogões, freezer, micro-ondas), como também carrinhos de supermercado, mochilas e até cadeiras de roda. "Eu não cheguei a tunar algo muito estranho, somente geladeiras, freezers, frigobares, relata Edmilson. "Teve algo muito estranho que já me pediram pra colocar som, que foi em um guarda-roupas antigo."

Apesar do sucesso, a turma não pensa em viver apenas do tuning de eletrodomésticos. Todo mundo tem seu emprego e a atividade é feita por prazer. "Porém, quando aparece uma pessoa na loja e pede pra eu colocar som alguma coisa, não posso negar, ainda mais com meu passado e o fascínio que tive quando vi a primeira geladeira com som de minha vida. Não importa se é um Fiat Tempra ou um fogão Dako 6 bocas velho", crava Edmilson.

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