FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Levei um Encoxador para a Delegacia

Um cara de roupa social sentou ao lado de uma amiga minha no ônibus e simplesmente colocou o pênis para fora. Ela o reencontrou ontem e o lance foi parar na delegacia.

No dia 14 de fevereiro, uma das garotas que trabalha na VICE entrou no ônibus Terminal Campo Limpo/Aclimação 857R-10 para vir trabalhar. Do outro lado do corredor, um cara vestia roupa social, óculos de sol e carregava uma pasta. Ele veio em direção a ela, pediu licença e se sentou no banco. O busão é um lugar democrático e nele você pode escolher o lugar que quiser? Verdade. Porém, em dado momento ela percebeu que o cara passou a fazer movimentos estranhos com a mão, mas não dava para entender o que era, pois a pasta estava no colo dele.

Publicidade

Até que ela viu que o sujeito estava com a braguilha aberta e o pau para fora. Nesse mesmo minuto, nossa amiga iniciou um belo barraco, chamando o cara de tarado, safado, sem-vergonha. Como você acha que as pessoas do ônibus reagiram? Exatamente, da maneira mais omissa e vergonhosa possível: fazendo absolutamente nada. Enquanto isso, o cara se defendia, dizendo algo na linha “meu zíper estava quebrado. Eu não fiz nada. Você é louca” e colocando a pasta na frente para esconder o pinto, que continuava para fora. Enquanto ele saía do ônibus, ela foi ligeira e conseguiu fazer algumas fotos. É esse cara que você vê aí em cima.

Depois de postar a imagem no Instagram, que recebeu diversos likes e foi compartilhada nas redes, ela resolveu entrar no perfil de uma garota que havia criticado sua atitude. Foi aí que as coisas começaram a fazer algum sentido: a tal da menina fazia parte de diversos grupos de “encoxadores”. A divulgação do acontecido com nossa amiga acabou puxando a pauta dos encoxadores do transporte coletivo — que, depois da crítica ferrenha da população, passou a minguar e deletar os grupos na internet, mas continuam bolinando passageiros por aí.

Ontem (07/04), o universo conspirou a favor de nossa parceira de trampo. Ela estava acompanhada pelo marido quando viu o cara no mesmo ônibus, na mesma linha. Eles foram até o homem (que, por sinal, vestia a mesma roupa), mostrando a foto, perguntando se o sujeito do pinto de fora era mesmo ele — que, obviamente, negou veementemente, levantando-se do banco com a maior calma do mundo. “Ele ficou falando que nós estávamos confundindo ele com alguém, que ele nunca faria isso. Mas super calmo, sereno, não com a posição de uma pessoa que se importa mesmo com a acusação. E já chegou dizendo que era advogado”, ela conta.

Publicidade

Dessa vez, o motorista do ônibus interferiu de forma magistral na situação e parou em frente a uma unidade móvel da polícia. Ali, nossa amiga relatou o acontecido e todos foram encaminhados para o 36º Distrito Policial, no Paraíso. Lá, ela descobriu que o cara não era advogado de fato, e sim, estudante de direito e estagiário em um escritório. Como a legislação tem uma eficiência invejável, a delegada lamentou, dizendo ficar de mãos atadas pois “a lei não ajuda”. A denúncia foi feita, o caso será julgado. De acordo com Artigo 61, da Lei das Contravenções Penais, ele irá, no máximo, pagar uma multa — mesmo com depoimentos das testemunhas.

Depois que o caso veio a público, ela me disse ter recebido e-mails de pessoas que estavam presentes no ônibus no dia do acontecido pedindo desculpas por não terem feito nada na hora. Aliás, essa demora para assimilar o que rolou afeta tanto as vítimas quanto as testemunhas de casos como esse, ou ainda mais graves, como o estupro: em geral, as partes não têm coragem de fazer a denúncia na hora. Mas, de acordo com a lei, esse tipo de coisa — “Importunação Ofensiva ao Pudor” — pode ser denunciada em até seis meses depois de ter acontecido. Já um estupro leva 20 anos para prescrever. De qualquer forma, acho que minha colega de trampo mandou muito, e espero que ter tomado essa atitude deixe ela mais tranquila. Espero também que o processo legal aconteça da melhor maneira possível.

Digo isso porque uma vez eu estava descendo do busão e vi um cara de pé com o pinto para fora bem perto de onde eu passaria para chegar até a porta de saída. Assim como na história que contei anteriormente, ele escondia o pau com uma folha de jornal. Fiquei apavorada. Não sabia se ele tinha uma faca, se ia encostar o pinto em mim. Comecei a olhar em volta e ou as pessoas disfarçavam muito bem, ou não percebiam o que estava rolando. Dei o sinal, passei por ele correndo e desci com o coração acelerado. Desde aquele dia, tenho medo quando alguma pessoa com um olhar meio louco senta perto de mim. E preconceito é o caralho, eu tenho medo mesmo.

Saca quando você é criança e um familiar flagra você se masturbando mesmo sem saber exatamente o que você está fazendo? Alguns reprimem e dizem “Você não pode fazer isso. É feio. É errado”. E tem aqueles que explicam “Você pode fazer isso, mas de preferência quando estiver sozinho ou no banho, não na frente das pessoas”. Então, homens adultos, por favor, mantenham seus pintos longe de nós no transporte coletivo, na rua, na balada, no quarto ou em qualquer situação que não seja consentida. Nada contra seus desejos libidinosos, isso é problema de vocês. Nós simplesmente não queremos ver ou sentir seus pênis só porque vocês decidiram isso. Muito obrigada.

Siga a Débora Lopes no Twitter: @deboralopes