Ontem, Direita e Esquerda Foram Às Ruas em SP

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Ontem, Direita e Esquerda Foram Às Ruas em SP

Com direito a frases à la "Dilma tucana!" e discurso do Lobão incentivando todo mundo a postar fotos na internet.

Num 1º de novembro ensolarado, a cidade de São Paulo foi palco de duas manifestações. No Largo da Batata, a esquerda protestava contra a falta de água na cidade e o governo de Geraldo Alckmin enquanto, na Avenida Paulista, a direita pedia o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A equipe da VICE se dividiu e acompanhou os dois atos e suas particularidades-com direito a frases à la "Dilma tucana!" e discurso do Lobão incentivando todo mundo a postar fotos na internet. O Brasil, amigos, é um país maravilhoso.

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ESQUERDA: "ALCKMIN, CADÊ MINHA ÁGUA?"
Texto por Letícia Naísa e fotos por Anna Mascarenhas

A Polícia Militar afirma que eram 200 manifestantes enquanto alguns entusiastas do coletivo Juntos falavam em mil, mas, na verdade, pouco menos de 400 pessoas se reuniram no Largo da Batata para protestar contra a falta de água em São Paulo e contra o governo de Geraldo Alckmin - apesar dos 17 mil confirmados no evento pelo Facebook.

Debaixo do sol a pino e de um calor insuportável, apenas nove policiais militares observavam, de longe, a concentração do ato. As pessoas tocavam um som, e mais gente foi chegando, vestindo toucas de banho na cabeça e carregando toalhas e baldes. Muitos tentavam se proteger do sol fazendo dos guarda-chuvas guarda-sóis. Às 16h, motos da polícia encostaram no largo para fechar a Avenida Brigadeiro Faria Lima e permitir a passagem dos manifestantes.

O Juntos fazia a linha de frente, com uma grande faixa perguntando ao governador onde estava a água, seguido de outros coletivos de esquerda, como o RUA - Juventude Anticapitalista e a Anel, além do Sintusp (Sindicato de Trabalhadores da USP), enquanto 20 e poucos PMs andavam atrás da massa com tranquilidade. Nenhum confronto aconteceu, as pessoas seguiram segurando cartazes, cantando palavras de ordem, bebendo água de garrafinhas e até Coca-Cola pra refrescar-se no calorão.

Retomando as ​Jornadas de Junho de 2013, chamavam todos às ruas ao clássico ritmo de "Vem, vem pra rua, vem, cadê a água?" e bradavam que "se a água acabar, São Paulo vai parar".

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O trajeto atravessou a Faria Lima e parou no prédio da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) com um jogral, onde os manifestantes acusaram a negligência do governo do Estado ao tratar a crise da água e prometerem pressionar a "Dilma tucana" (Dilma Pena, presidente da Sabesp) a devolvê-la. Caso contrário, São Paulo deve "virar Itu", que também tem enfrentado protestos devido à crise hídrica.

"O caso de Itu é muito emblemático, é uma absoluta vergonha que o governador não admita sua responsabilidade na gestão de recursos hídricos em São Paulo, uma vez que existem uma série de relatórios, desde os anos 90, afirmando que há uma crise hídrica colocada no Estado por causa da precarização do serviço e da privatização", disse Arielli Tavares Moreira, militante da Anel, à VICE.

Ninguém lá parecia ter dúvida de que a culpa dessa treta é do governador Geraldo Alckmin, e não de São Pedro, e isso foi o que fez Igor, militante há oito anos, sair de casa especificamente hoje: "Eu vim a favor do que está sendo intitulado aqui, que é a água, e contra o governo Alckmin, que acho um governador fascista", ele desabafa, "o povo tem que se unir pra conseguir uma consciência popular, pra gente atingir uma consciência política melhor, porque isso não era pra estar acontecendo em São Paulo; isso não era pra estar acontecendo em nenhum lugar do país, a não ser em lugares como no Nordeste, que ninguém investe, ia ter uma estiagem; agora, isso chegar em São Paulo e culpar São Pedro é ser muito negligente, devia ter um plano maior e mais preparo pra gente não passar por isso".

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Lucas, estudante de enfermagem, achou os áudios vazados de uma reunião da diretoria da Sabesp o ápice: "Eu vim por causa da última bomba, já era bem contra o governo do Alckmin, mas, depois de ver que aquilo foi abafado por causa das eleições, isso me trouxe à rua".

Com alguma timidez, uma bandeira do PT estava ali no meio da galera. A estudante de história Laísa Santana, que trocava ideia com um pessoal do Partido dos Trabalhadores, contou à VICE que não é militante do partido, mas que existe um bloco na USP querendo retomar a militância do mesmo nas ruas e, por isso, achou importante fortalecer a manifestação. Ela apenas lamentou que o ato não tenha acontecido antes das eleições, "porque a população não tomou dimensão do que está acontecendo com o problema da água, que não é um problema da seca, que foi agravado pela seca; então acabou não atingindo diretamente o candidato Geraldo Alckmin, ele acabou ganhando as eleições no primeiro turno".

Alckmin foi duramente criticado pelos manifestantes, mas poucos lembraram do pedido de impeachment contra ele, protocolado no mês passado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) pelo deputado estadual Carlos Giannazi.

Em nenhum momento, essa parada foi realmente reivindicada. A palavra "impeachment" só deve ter feito sucesso na Paulista, onde, inclusive estava marcado o ato da esquerda inicialmente.

"Deixo até uma dúvida se não foi uma provocação. Mas foi um ato razoavelmente grande pros padrões da direita, essa não costuma ser a tática deles, mas, por um ponto de vista, é algo até interessante: mostra que junho de 2013 transformou as ruas num lugar de luta, inquestionavelmente, até da direita mais reacionária e retrógrada", refletiu Mário Constantino, militante do coletivo RUA.

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Ele nos relatou que achou "a manifestação [da água] muito boa, as questões relacionadas ao meio ambiente são importantes de serem trazidas para a oposição de esquerda, porque vai se tornar um problema real pra classe trabalhadora. Quando falta, não falta pra todo mundo. O peso das crises ambientais sempre recai sobre a população mais pobre e vulnerável; por isso, é importante".

Thiago Aguiar, do Juntos, achou que o governador "foi até o limite da irresponsabilidade para garantir a reeleição. Achei um estelionato eleitoral, ele tem colocado em risco o abastecimento de água em São Paulo não só para essa estação ou para a próxima estação seca: ele está colocando em risco o abastecimento dos próximos anos, e isso é um absurdo".

O ato terminou por volta das 17h com uma ciranda dos manifestantes pedindo a estatização da gestão da água: "Se essa água, se essa água fosse minha, eu mandava, eu mandava estatizar".

Depois disso, a galera dispersou, e a polícia saiu cantando pneu em suas viaturas pela Rua Sumidouro. Ironicamente, a chuva chegou à cidade na hora de voltar para casa.

Um novo ato está marcado para o dia 5 de novembro, às 18h, no MASP.

DIREITA: "FORA, DILMA!"
​Texto por Débora Lopes e fotos por Felipe Larozza

"Uh, Bolsonaro! Uh, Bolsonaro!", bradavam as cerca de duas mil e quinhentas pessoas - de acordo com a Polícia Militar - presentes no ato que pedia o impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff ao verem, em cima do caminhão, Eduardo, filho do polêmico deputado federal Jair Bolsonaro. Com ar de bom moço, o também deputado cumprimentou os presentes, a quem se referiu como "público tão seleto - já que ninguém está ganhando dinheiro para estar aqui".

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O desarmamento foi um dos primeiros tópicos abordados por quem estava no carro de som. Um sujeito enrolado na bandeira do Estado de São Paulo enfatizou que nenhuma ditadura conseguiu se erguer sem desarmar o seu povo. Felizes e com as caras pintadas ora de verde e amarelo, ora com as cores da mesma bandeira que vestia o homem ao microfone, senhoras, senhores, jovens e crianças nacionalistas urravam de alegria. A PM, acompanhada da "Tropa do Braço", era, a todo tempo, saudada pelos manifestantes. "Viva a PM!", gritavam e aplaudiam.

Muitos que estavam ali falaram sobre um provável resultado fraudulento das eleições e pediam a recontagem dos votos.

Debaixo de um sol do Saara - em uma terra que pouco chove -, o ato seguiu pela Avenida Paulista no sentido Parque do Ibirapuera. O calor não abrandou os ânimos de uma direita enfezada, que, a cada provocação "petralha" pelo caminho, mostrava sua violência. Um homem e uma mulher estacados na calçada chamaram os manifestantes de fascistas e logo foram abordados. "Sapatão!", um cara falou. A coisa esquentou e, em questão de segundos, um manifestante com a camisa do Corinthians fechou a mão em direção ao rosto do sujeito, que acompanhava a mulher.

Depois, ele foi ameaçado por um cara de boné com um soco inglês na mão.

Venezuela e Cuba eram exemplos constantes de um modelo econômico indesejado por quem estava ali. "A nossa bandeira jamais será vermelha", foi uma das frases mais cantadas durante todo o trajeto. "O PT é ladrão. Eles querem dinheiro; então tem que dar dinheiro", disse o senhor Carlos, que depois explicou para a nossa equipe que a presidente Dilma é a responsável por trazer o "câncer do comunismo pro Brasil".

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Outro momentinho tenso foi quando um mano de camisa branca com um broche de estrelinha do PT provocou levemente quem passava pela avenida.

Deu o quê? Ruim.

Em troca, ele recebeu uns xingamentos, foi agarrado e ameaçado.

O cantor Lobão, conhecido por sua eterna porra-louquice e atualmente uma das celebridades maishatersdo PT, foi convidado a subir no caminhão de som. Lá em cima, ficou um pouco confuso, ou talvez animado demais. E, como um Martin Luther King desesperado por um bom discurso, só conseguiu bradar: "Vamos postar muita foto na internet, gente. Vamos nessa! Vamos nessa!". Aplausos e gritos de admiração surgiram aos montes.

Um jovem surgiu na janela de seu apartamento em plena Paulista com algo similar a um cartaz vermelho. Do caminhão de som, um cara contestou: "Quanto você paga no aluguel, seu playboy? No mínimo dez paus. Vamos chamar o MST pra invadir a casa dele!".

Professora de história, Maria da Conceição Vergueiro contou à VICE que considera a reeleição de Dilma fraudulenta. "Nunca votei no PT", disse. Apesar de a palavra "democracia" ser constantemente abordada por quem estava no ato, ela mostra uma posicionamento mais radical. "O meu medo é de o Brasil se tornar uma Venezuela. Quem recebe Bolsa Família não deveria votar. É voto de cabresto isso daí", desabafou enquanto descíamos a Avenida Brigadeiro Luis Antônio.

Quase no fim do protesto, avistamos um inesperado segundo carro de som.

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Nesse momento, Marcello Reis, do grupo direitista Revoltados On Line, pegou o microfone e acusou o primeiro carro, que guiou todo o trajeto. "Nosso carro chegou atrasado. Isso aí [apontando para o primeiro caminhão] é sacanagem. Neste carro aqui não tem político." O que dava a entender é que os Revoltados On Line, responsáveis por criar o evento no Facebook (que contabilizava 87 mil presenças), ficaram putos ao perderem espaço no microfone por estar sem caminhão de som. Ao lado de Marcello, um cara começou a elogiar o Eduardo Bolsonaro. Minutos depois, o próprio Marcello abraçou Eduardo, a quem chamou de irmão. Ninguém entendeu uma pica.

O movimento "São Paulo é meu país" também estava presente e logo correu até o monumento dos bandeirantes, hasteando bandeiras do Estado e saudando 1932.

Por volta das 18h, o ato, que começou às 14h, acabava, com uma direita confusa ao microfone, quase brigando, uma voz atropelando a que vinha do outro carro de som, um querendo falar mais que o outro. Mais uma vez, a PM recebeu elogios. "A PM não bate em quem tem educação", disseram, se referindo aos eventuais abusos policiais em manifestações anteriores. No dia 15 de novembro tem mais, prometeram os organizadores.

Para voltar pra casa, famílias chamavam táxis e outras pessoas enfrentaram um saudável transporte coletivo. Encerrando a tarde de forma magistral, o céu paulistano deu uma aliviada pro governador do Estado e presenteou a cidade com uma bela chuva. Será que rolou de encher a Cantareira?

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Mais tarde, nas mesmas redes sociais que chamaram a marcha direitista, muitos expressavam sua decepção com a cobertura da imprensa, que marcou a questão golpista.

ESQUERDA: "ALCKMIN, CADÊ MINHA ÁGUA?"Anna Mascarenhas

Anna Mascarenhas

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Felipe Larozza

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