FYI.

This story is over 5 years old.

Opinião

Seus posts de bebê no Facebook me fazem nunca querer ter filhos

Não sei se quero ser o tipo de pessoa que acha um bebê lambuzado o ponto alto do dia, reforçado na internet por 100 likes.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Austrália.

Eu estava deitada na minha cama passando pela minha timeline do Instagram quando notei não um, mais dois anúncios de nascimento.

O primeiro era a clássica barrigona de grávida, junto com a legenda "parte de mim queria ficar grávida para sempre!" A outra era um bebê (muito fofo) que nunca vi pessoalmente, mas que pelas atualizações incessantes da mãe, sei que ainda tem problemas para usar o peniquinho e está passando por uma fase estranha em que quer morder tudo — a mãe, uma ex-colega de classe, tem a seguinte bio no Instagram: "esposa e mamãe com orgulho".

Publicidade

O bebê estava usando uma camisetinha escrito "Vou ser o irmão mais velho em setembro 2016", com várias imagens de ultrassom ao redor dele.

Instintivamente, suspirei.

Sério, por que alguém ia querer ficar grávida pra sempre? Você fica enjoada, ganha peso, seus hormônios ficam descontrolados e todo mundo vai te olhar feio se você beber. Aí o bebê nasce (por um processo excruciante), e você nunca mais dorme direito e tem que se preocupar com outro ser humano PARA SEMPRE.

O lado ruim da maternidade — apesar de documentado — parece se perder num mar de postagens sobre o melhor tipo de andador, estratégias para lidar com a dentição e "memes de mãe".

(É realmente necessário tirar uma foto da sua barriga toda semana? Já entendi — você continua grávida!) Fico feliz com as pessoas que se empolgam em ter filhos, mas também fico imaginando que quando isso acontece, algo muda no cérebro delas e momentos chatos pra caralho — olha, esse filhote de humano se lambuzou todo de fruta! — se tornam o melhor entretenimento da Terra. E eu não sei se quero ser o tipo de pessoa que acha um bebê lambuzado o ponto alto do dia, reforçado na internet por 100 likes (e "ameis" e "uaus") no Facebook.

Primeiro achei que o algoritmo do Facebook estava de gozação comigo, mas parece que para muitas pessoas da minha idade, essa é a vida real.

Tenho 28 anos, sou solteira e obcecada com meu trabalho, então admito que ter filhos está bem lá embaixo na minha lista de prioridades. Ainda tenho que procurar no Google como fritar carne moída toda vez que faço molho de macarrão e só agora adquiri o hábito de arrumar minha cama. Tenho uma turma de amigas que pensam do mesmo jeito e que também estão solteiras, e quando estou com elas, nunca sinto necessidade de defender minhas escolhas de vida. Nós já concordamos em matar a primeira que colocar "mamãe orgulhosa" na bio do perfil público.

Publicidade

Mas muita gente da minha cidade natal está casando, mudando pro subúrbio e parando de usar anticoncepcionais — de propósito. E mesmo sabendo que eles sabem que estou feliz, é sempre estranho quando volto pra casa, porque tenho que responder várias perguntas sobre por que não tenho namorado, e ocasionalmente, por que ainda não formei uma família. Essas perguntas trazem uma espécie de ansiedade escondida que minha vida diária não me obriga a confrontar.

Semana passada jantei com uma ex-colega de escola, que começou a falar sobre quem tinha e não tinha filhos. Ela lamentou o fato de que um casal que conhecemos de 40 e poucos anos não conseguia engravidar — "é tão triste" — mesmo sendo um dos casais mais felizes que conheço. Aí, claro, ela perguntou se eu queria ter filhos. "Quando você chega aos 35, sua fertilidade cai pacas", ela disse. Eu respondi honestamente, dizendo que não sabia.

Não sou uma pessoa particularmente maternal. Nunca fui babá, então falo com crianças como se fossem adultos porque não sei mais o que fazer.

Quando eu era criança, minha mãe, que teve o casamento com o meu pai arranjado, me dizia: "Não tenha filhos a menos que você realmente sinta que está perdendo alguma coisa". Sei que ela me ama — somos muito próximas. Mas ela perdeu muita coisa boa. Viajar, avançar na carreira (hoje ela é a chefe, mas levou muito tempo pra chegar lá), ter um romance de verdade. Além disso, acho que criar meu irmão e eu não foi particularmente divertido. Ele estava sempre arranjando encrenca e eu era uma criança carente que oscilava entre fazer birra e, quando fiquei mais velha, não dar a mínima pra nada além de encher a cara com os amigos. Meu pai não estava presente na maior parte desse período, e quando estava não ajudava muito, fora a vez em que achou minha maconha sem querer.

Publicidade

Então sim, quando vejo casais no Facebook comendo alegremente uma placenta ou algo assim, fico meio cética. Fico imaginando se eles ainda transam, se estão esgotados o tempo todo, ou se têm inveja dos amigos solteiros que podem ficar o dia inteiro na cama com ressaca, sem ter que cuidar de um bebê chorão. Não invejo eles, mas às vezes fico imaginando como seria ter um propósito maior na vida — algo que me motive a não ficar mofando na frente do Netflix todo domingo.

Aí a pizza que eu pedi chega e eu penso: "Melhor não".

Quando uma amiga minha veio me pedir conselho sobre fazer ou não um aborto, eu disse: "Ninguém diz que se arrepende de ter tido filhos, mas algumas pessoas provavelmente se arrependem". Talvez não no geral, mas elas devem ficar imaginando como a vida seria muito mais fácil/feliz/rica se não tivessem que ficar correndo atrás de dois bostinhas pela casa.

Se as pessoas fossem um pouco mais honestas, tipo postando a foto dos filhos gritando com as palavras "EU QUERIA QUE ASSASSINATO FOSSE LEGALIZADO" de vez em quando, acho que todo mundo poderia tomar essa decisão com base na realidade.

Mas, olha, não transo desde dezembro, então talvez esse nunca seja um problema.

Siga a Manisha Krishnan no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.