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Entretenimento

Uma análise das trilhas sonoras bostas de vídeos com os melhores lances de futebol

Você abre o YouTube pra caçar dribles incríveis do Ronaldinho Gaúcho e de repente começa uma porra duma technêra.

Se curte demais um futebol, então é bem provável que você já tenha sido vítima da trilha sonora dos destaques do YouTube. Talvez você estivesse apenas procurando por maravilhosos dibres do Ronaldinho Gaúcho. Ah, quem queremos enganar? Você definitivamente estava procurando os dibres do Ronaldinho Gaúcho. Você foi no YouTube e carregou um vídeo com o título apropriado, algo como "Ronaldinho Ultimate Legendary Skills," e se preparou física e mentalmente para assistir a 12 sublimes minutos de dribles e golaços.

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Então você notou que seu som está ligado.

E começa uma porra de uma technêra.

É um dos mistérios mais insuportáveis da internet. Procure por qualquer estrela do futebol no YouTube, organize o conteúdo por visualizações e você vai ver que os resultados do topo têm milhões de visualizações e uma trilha sonora incrivelmente bosta que não combina com as jogadas maravilhosas. A maior parte das pessoas preferiria ver esses vídeos em total silêncio, como muitos de nós escolhemos ao deixar o som mudo. Mas por que, em primeiro lugar, colocar uma trilha sonora? Por que uma jogada de Messi é acompanhada de uma linha de baixo em tempo acelerado? Até os oficiais corruptos da FIFA não estão imunes à praga da trilha sonora horrível.

Não vou mentir para você, caro leitor: eu não tenho a resposta. No entanto, estamos em guerra com essas trilhas sonoras torturantes; logo, eu consultei o mestre: A Arte da Guerra, de Sun Tzu. "Se você conhece os seus inimigos e se conhece, você não correrá risco em cem batalhas." Assim, fui conhecer o meu inimigo.

Faixa aleatória de Techno/EDM

Esse é facilmente o acompanhamento mais popular para qualquer destaque do futebol. Meu estudo não científico mostra que nove entre dez dibres do Ronaldinho Gaúcho se passam com algum tipo de techno ou EDM rolando.

Eu não conheço nada desse gênero de música; então, consultei David Garber, repórter do THUMP, para ajudar com essa análise.

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Garber pergunta: "Como alguém pode ser tão pecaminosamente preguiçoso ao ponto de não apenas colocar lado a lado as maravilhosas jogadas do Cristiano Ronaldo com o hit #1 de house progressivo do Avicci e Aloe Blacc, 'Wake Me Up', como também escolher repetir o refrão de tal pérola do EDM para sempre? Músicas, assim como os pés de Ronaldo, são dinâmicas – nos dê vocais! Nos dê tensão! Na verdade, nos dê um Frontal: essa música é uma bosta completa".

Eu não sei o que metade dessas palavras significa. Nosso especialista em EDM gostou um pouco mais dessa. "Sim, nós temos apenas um Ronaldo original, mas, felizmente, temos uma vida inteira de faixas de ex-membros do Swedish House Mafia para dar o tom para suas jogadas gloriosas. Porém, uma faixa chamada "Reload" é provavelmente mais adequada para tal experiência visual, dado o fato de que, para a lenda brasileira em seu melhor modus operandi, era só chutar, meter gol, recarregar e marcar de novo. Para esse vídeo, nós damos uma firme nota 7".

Garber ficou fascinado com essa. "Ah, não, os editores do Messi Magic ficaram malucos nessa, criando um DJ set de verdade para acompanhar a sobrenatural passagem de Messi pela Copa do Mundo de 2014. Nós captamos algum house batido, um pouco de drum and bass líquido (suaaave) e até alguma emoção na forma de carregados vocais. Eles até mixaram os comentaristas entre os drops das faixas. Quem está por trás desse canal Messi Magic? É o Tiësto?"

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De novo, nenhuma ideia sobre, tipo, metade dessas palavras.

Instrumental/Clássico

Alguns editores trocaram a vibe rave na madruga por um lance mais clássico. Não é surpresa então eles injetarem um sentimento de grandiosidade ao cutucar uma era musical em que a maioria das músicas celebrava a Deus em toda a sua glória. Messi, Deus, qual a diferença?

Alguns têm uma pegada mais estranha. Tipo, lembra aquele filme (cuidado, spoiler de 15 anos) que nenhum ser humano viu duas vezes sobre adolescentes viciados que termina com um deles tendo um braço amputado e o outro fazendo sexo com um dildo por dinheiro, enquanto um monte de homens gritam "Ass to ass"? Sim, isto mesmo: alguém pegou o tema de Réquiem para um Sonho para acompanhar os destaques de Ronaldo.

Chupinhar o instrumental de "Dark Horse", da Katy Perry, faz um pouco mais de sentido para mim, especialmente para um vídeo do Cristiano Ronaldo. Não por Cristiano Ronaldo ser um cavalo negro, mas porque ele e Katy Perry têm muito em comum. Eles dois são pessoas bonitas, com um talento incrível e que incomodam as pessoas por se amarem demais. Porém, eu também acho que isso descreve tipo 60% dos jogadores de futebol e 99% das estrelas pop; assim, talvez não seja uma combinação tão boa no final das contas. Tanto faz – é uma música OK, eu acho.

Música de Batalha Épica

Também instrumentais, estas faixas têm o potenciômetro de ÉPICO ligado no talo. Pense em longas vogais de ópera e batidas rápidas de bateria, o tipo de música que você esperaria de um filme de Zack Snyder, enquanto a câmera passa de ator em ator até um bando de abdomens desnudos se encontrarem em batalha com objetos perfurocortantes. Como era de se esperar, esse tipo de trilha sonora é mais usado para vídeos de embates entre jogadores em que o editor procura contrastes entre dois craques, como Ronaldinho/Messi, ou Ronaldinho/Ronaldo, ou Ronaldinho/mais Ronaldinho.

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Todas essas formas de edição são preguiçosas, mas essa da batalha épica é a única que deixa bem clara a intenção emocionalmente manipulativa da trilha. Ela elege sentimentos completamente ausentes da experiência normal de se assistir a uma partida. Se eu vejo uma bela jogada de futebol, eu sinto admiração. Essas faixas me fazem querer criar um inimigo para que eu o precise matar a fim de agradar meu rei. Isso é besta – e ainda mais desnecessário quando eu só quero ver o Ronaldinho, que é um homem da paz.

Além dessas categoriais principais, você também vai encontrar uma ocasional faixa de hip-hop/rap, que, na maioria das vezes, vai ser uma irritante música do Fort Minor. Ah, você tá ligado qual que é esta: é aquela sobre porcentagens.

Mas nenhuma dessas trilhas funciona. Futebol fala por si só – e, quando ele não fala, Martin Tyler (o histórico locutor inglês que nós conhecemos mesmo por causa da série de games da série FIFA) é mais do que capaz de providenciar a tradução.

Os sentimentos do futebol não vêm de um beat ou do Avicii (nunca do Avicci). Eles vêm da tensão crescente da torcida, do narrador subindo a voz em crescendos, a pauta musical levando ao fortíssimo, enquanto o maestro nos acena jogando a bola na rede. Isso é o porquê de todas as trilhas sonoras, não importa qual seja, falharem. O futebol não precisa de outra trilha sonora. Ele já tem uma.

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