VICE BRRSS feed for https://www.vice.com/eshttps://www.vice.com/es%3Flocale%3Dpt_brptTue, 29 Sep 2020 19:32:42 GMT<![CDATA[Anime sua próxima reunião virtual da firma com uma cabra de verdade]]>https://www.vice.com/pt_br/article/dyzmkj/anime-sua-proxima-reuniao-virtual-da-firma-com-uma-cabra-de-verdadeTue, 29 Sep 2020 19:32:42 GMTComo a maioria das redações em Nova York, a Motherboard foi banida de seu escritório físico para trabalhar de casa nos últimos seis meses. No começo, as reuniões virtuais eram fofas e divertidas — acenar pras pessoas do meu apartamento, em vez de estar só meio acordada numa mesa de conferência, era um pedaço de normalidade no meio do caos do COVID-19.

Mas depois de meio ano de reuniões virtuais, a coisa perdeu a graça. Quando fiquei sabendo do aluguel virtual de cabras da Cronkshaw Fold Farm, um serviço que acrescenta uma cabra real na sua reunião do Zoom (ou Hangouts, Skype ou qualquer plataforma que você usar) por uma pequena taxa, parecia algo que poderia nos tirar da névoa das reuniões virtuais pelo menos por alguns minutos.

As cabras moram em Lancashire, Inglaterra, onde a fazendeira Dot McCarthy está oferecendo elas como convidadas para reuniões virtuais desde o começo do lockdown do coronavírus no Reino Unido em março.

Mas as cabras da Cronkshaw Fold não são as únicas no jogo: a Sweet Farm, no sul de São Francisco, oferece o “Goat-2-Meeting”, um serviço que envolve um pouco mais que apenas uma cabra na sua tela, com um passeio pela fazenda e introdução a uma variedade de lhamas, porcos e cabras resgatados que estiverem curiosos com a câmera naquele dia, segundo o site deles.

Cinco minutos com uma cabra da Cronkshow Fold custa £5, um pouco mais de R$36. A fazenda está usando o dinheiro para atingir seu objetivo de instalar tecnologias de energia renovável no local.

“As mudanças climáticas são uma merda, e queremos fazer todo o possível para abordar esse problema”, McCarthy me disse por e-mail. Os lucros das chamadas também estão ajudando a pagar os salários dos funcionários da fazenda durante o COVID.

“Começamos às 6h30 e entramos a cada dez minutos até às 21h30 no horário do Reino Unido, sete dias por semana”, disse McCarthy. “Também entramos nas reuniões em horas diferentes para pessoas de outros fusos horários, mas aí cobramos um pouco mais para compensar entrar no celeiro de pijama no meio da noite!”

Agendei uma reunião com as colegas cabras para 16h, 16h05 no nosso fuso horário, que é por volta das 21h em Lancashire. Enquanto o site permite escolher que cabra você quer que visite sua reunião e fornece descrições da personalidade de cada uma, como já era tarde lá, decidi deixar a escolha da cabra com a fazendeira.

The Motherboard staff meeting, plus goats.
A reunião da equipe da Motherboard, mais as cabras.

Pedi pros meus colegas entrarem cedo na reunião se queriam pegar os cinco minutos de show da cabra, mas ela chegou um pouco mais tarde (na verdade, enquanto o editor-chefe da Motherboard Jason Koebler anunciava que a equipe do Waypoint levantou mais de $150 mil, durante o evento Save Point, para o fundo de fianças National Bail Out). Eventualmente, a Cronkshaw Farm pediu para entrar na chamada e jogou a reunião momentaneamente no caos.

No chat por escrito, as cabras se apresentaram como Daisy (que foi expulsa das aulas de cabra ioga por dar cabeçadas nas outras cabras, segundo a descrição dela no site) e seus cabritinhos, Lulu e Sebastian.

Daisy the goat, chatting in our meeting.
Daisy the goat, chatting in our meeting.

Olá, sou a Daisy

Desculpe o atraso!

Esses cascos

Fica difícil logar

Continuamos a reunião enquanto as cabras apareciam num vídeo no canto, ouvindo os planos para a Motherboard para a semana, acho. Honestamente, achei meio esquisito, mas meus colegas disseram que gostaram!

McCarthy disse que enquanto eu avisei os colegas que uma cabra ia aparecer na reunião, algumas equipes as usam como pegadinha. “É muito engraçado entrar nessas chamadas pelo mundo todo, e assistir a pessoa que agendou a cabra tentando (e não conseguindo) ficar séria enquanto os colegas gritam ‘POR QUE TEM UMA CABRA NA REUNIÃO??’”, ela disse. Por que não tem uma cabra na reunião, é minha pergunta para todas as videochamadas daqui pra frente.

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<![CDATA[Um artigo sobre AI publicado num grande jornal científico estava cheio de frenologia]]>https://www.vice.com/pt_br/article/g5pawq/um-artigo-sobre-ai-publicado-num-grande-jornal-cientifico-estava-cheio-de-frenologiaMon, 28 Sep 2020 21:06:45 GMTNa sexta-feira, um trio de pesquisadores de psicologia evolutiva publicou um artigo na Nature que buscava usar aprendizado de máquinas para rastrear mudanças históricas em “confiabilidade” através de expressões faciais em retratos. O experimento foi amplamente criticado online como um revival digital de práticas racistas que afirmavam discernir o caráter de alguém através de características físicas, como a frenologia e fisiognomia.

No cerne, o artigo visava “ligar traços de morfologia facial para definir resultados sociais importantes” e usava retratos dos séculos passados, além de selfies dos últimos anos, para conduzir os experimentos. Os pesquisadores usaram aprendizado de máquinas para treinar um algoritmo para analisar por que e como esses julgamentos eram feitos, especialmente em retratos europeus, com o tempo. Além dessa pergunta central, eles investigaram se pessoas de nações mais ricas tinham mais chance de ter retratos “confiáveis”. 

No Twitter, os pesquisadores compartilharam seu estudo e disseram que desenvolveram “um algoritmo para gerar automaticamente avaliações de confiabilidade para unidades de ação facial (sorriso, sobrancelhas, etc.)”. O tuíte foi compartilhado com uma imagem do estudo que lembra diagramas datados e refutados de um livro conhecido de frenologia de 1902, que prometia “familiarizar as pessoas com os elementos da natureza humana e permitir que elas leiam esses elementos em homens, mulheres e crianças de todos os países”.

O tuíte desencadeou uma enxurrada de críticas de pesquisadores apontando um conjunto profundamente falho de suposições, metodologia e análises questionáveis, abordagem superficial de história da arte, e falta de consideração com sociologia e economia. Críticos também acusaram o projeto de simplesmente usar aprendizado de máquina para treinar um algoritmo para ser racista.

Os autores do estudo não responderam os pedidos de comentário da Motherboard.

Sabemos há tempos que as pessoas julgam a personalidade das outras consistentemente e (in)conscientemente com base em características faciais, apesar de não haver evidência de uma relação. Sendo assim, as conclusões do estudo são no mínimo fracas; por exemplo, a descoberta de que “amostras de confiabilidade em retratos aumentaram através da história”, o que parece simplesmente dizer que quanto mais perto um retrato está da nossa época, mais confiável vamos achar o rosto.

A afirmação de que “amostras de confiabilidade em retratos aumentam com a riqueza” é mais problemática. O estudo se baseia numa publicação de 2014 do Maddison Project, uma colaboração entre historiadores para ajudar os esforços do historiador Angus Maddison para reconstruir dados da economia medieval. Uma publicação mais recente do Maddison Project de 2018 enfatiza que, desde então, os colaboradores perceberam que “precisamos urgentemente de uma nova abordagem para as estatísticas históricas de Maddison”, porque o método tradicional do historiador acabava resultando em distorções e contradições significativas.

E há mais questões. Por exemplo, o fato de que não há coautores especializados em história da arte (ou historiadores) no estudo. Como um historiador apontou no Twitter, o artigo faz afirmações questionáveis sobre confiança social europeia como “a tolerância religiosa aumentou, a caça às bruxas diminuiu, mortes por honra e vingança perderam seu apelo e liberdade intelectual se tornou um valor central dos países modernos”. A maior fonte para essas afirmações é o livro Os Anjos Bons da Nossa Natureza de Steven Pinker, que já é criticado como um exercício profundamente falho de “pensamento positivo”.

O estudo também não leva em conta as intenções dos artistas ou modelos, o contexto e estilos de arte de certos retratos, ou as mudanças da arte em si com o tempo. Outro usuário do Twitter fez um fio com vários retratos e estilos que o estudo não conseguiu abordar adequadamente. Se você tivesse que avaliar subjetivamente um retrato de, digamos, Henrique VII, sua percepção subjetiva da confiabilidade dele seria enviesada, não só por causa de suas visões pessoais, mas por causa das intenções de Henrique e seu pintor. Como o fio explica, Henrique era um rei que “queria passar a impressão que poderia esmagar como um inseto qualquer um que fosse contra sua vontade”.

Sendo assim, as conclusões do estudo sobre confiabilidade não condizem com a realidade. Um retrato de Thomas Cranmer teve baixa confiabilidade segundo o algoritmo, e um de Sir Matthew Wood teve alta confiabilidade. Como um usuário explicou no Twitter, Cranmer foi “martirizado por renunciar uma retratação extraída sob tortura”, enquanto Wood “conseguiu uma grande herança seduzindo a filha de ‘mente fraca’ de um banqueiro importante”.

Vale também considerar a fonte dos dados: as coleções da Galeria Nacional de Retratos e da Web Gallery of Art, que contam com 1.962 e 4.106 obras de arte respectivamente. Essas são bases de dados enormes e ricas, mas passaram por toda uma curadoria. O estudo não questiona suas bases de dados e como elas foram construídas — curadoria obviamente favorece certos estilos de arte, períodos e artistas. Em vez disso, o estudo analisou o grau de democratização presente quando e onde os retratos foram pintados, e confiava nas estatísticas históricas falhas de Maddison para tentar medir indicadores econômicos. 

O algoritmo não consegue realmente detectar confiabilidade segundo um fio de um especialista em estatística no Twitter, onde ele calculou que a habilidade do algoritmo de detectar rostos “confiáveis” ou “dominantes” é apenas 5% melhor do que simplesmente dizer que todo rosto é igualmente confiável. As falhas inerentes do algoritmo pioram ainda mais com dados incompletos. A afirmação central de que o aumento na confiabilidade é “mais fortemente associado com o PIB per capita do que mudanças institucionais” é minada pelo fato de que enquanto os retratos foram feitos desde 1500 até agora, dados econômicos só começaram a ser realmente registrados em 1800. Isso significa que quase 42% dos dados econômicos para essa análise não existem.

No geral, não está claro se há algum valor nesse tipo de experimento. A pesquisa parece destinada a ser usada para legitimar uma repaginação digital da fisiognomia e frenologia, parecido com o jeito como departamentos de polícia tentaram usar análises empíricas para legitimar o perfilamento racial.

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<![CDATA[12 argumentos que todo negacionista do clima usa – e como refutá-los ]]>https://www.vice.com/pt_br/article/y3z737/12-argumentos-que-todo-negacionista-do-clima-usa-e-como-refuta-losFri, 25 Sep 2020 20:54:13 GMTÉ hora de acordar. No Global Climate Day of Action, o VICE Media Group vai contar apenas histórias sobre nossa crise climática atual. Clique aqui para conhecer líderes do clima de todo o globo e saber como você pode agir.

Na Europa, você não tem muitas chances de conviver com alguém que não acredita nas mudanças climáticas. Enquanto o negacionismo da crise climática está bem vivo nos EUA – até mesmo na Casa Branca – as pessoas na maior parte aceitaram que as mudanças climática, em algum grau, estão realmente acontecendo.

Mas isso não significa que o negacionismo acabou. Em vez disso, segundo uma nova pesquisa da Universidade de Cardiff, ele simplesmente mudou de forma, para algo chamado “discursos do atraso”. Esses 12 argumentos, apoiados por políticos e figurões das indústrias, são um jeito mais sutil de minimizar a necessidade de ações para o clima do que o negacionismo total, mas continuam corroendo os esforços para mitigar os efeitos prejudiciais no clima. E eles estão se infiltrando na consciência pública rapidamente. Em vez de argumentar que as mudanças climáticas não estão acontecendo, agora você vê as pessoas dizendo que é tarde demais, muito difícil, muito controverso, muito injusto, muito apressado, tomar ações sérias sobre as mudanças climáticas.

Como você pode refutar esses argumentos quando os ouvir? Lidar com esse tipo de desinformação não é bolinho; e muitas vezes, esses argumentos são apresentados de boa fé. Mas explicar para alguém as falácias por trás desses discursos comuns de atraso pode funcionar como o que o Dr. William Lamb, um dos autores do artigo da Cardiff, chama de uma “estratégia de inoculação” contra desinformações futuras sobre as mudanças climáticas.

Aqui vão os 12 discursos do atraso, e o que você pode dizer para desafiá-los.

1. “No fim das contas, os indivíduos e consumidores devem ser os responsáveis por tomar uma ação”

Essa narrativa veio da própria indústria de combustíveis fósseis. “Eles financiam calculadoras de pegadas de carbono”, disse Dr. John Cook, professor do Centre for Climate Change Communication, “e tiro o chapéu para eles por pensar numa estratégia de relações-públicas incrivelmente eficiente para distrair o público do que é realmente necessário: transformar o modo como criamos energia”.

Não é inútil tentar evitar o uso de plásticos, ou limitar seu consumo de carne, mas nunca vamos convencer todo mundo a fazer isso, e além do mais, há razões socioeconômicas para isso não ser possível para todo mundo. E mesmo se você fizer mudanças individuais, seria como tentar drenar um oceano com um conta-gotas comparado com uma mudança sistêmica nas indústrias poluidoras. Cem companhias são responsáveis por 71% das emissões de gases-estufa.

2. “A pegada de carbono do Reino Unido é minúscula comparada com a da China, então não faz sentido para nós agir, pelo menos até que eles ajam”

O relatório chama isso de “e-se-ismo”. A indústria agrícola aponta o dedo para a indústria automotiva, e vice-versa. Políticos apontam que as pegada de dióxido de carbono de suas nações são pequenas (no Reino Unido, a pegada é entre 1 e 2% do total mundial) e assim justificam a inação.

Primeiro, todo país pode fazer uma versão desse argumento, e assim não haveria esperança de limitar as mudanças climáticas. Segundo, esses números de 1 a 2% são enganosos, porque emissões per capita no Reino Unido são relativamente altas – cerca de cinco vezes mais altas que as da Índia, por exemplo. Terceiro, como uma nação avançada tecnológica e economicamente, temos mais habilidade para agir do que muitos outros países, e temos uma responsabilidade histórica adicional de fazer isso como um país que poluiu muito no passado.

3. “Mas se começarmos a reduzir emissões, outros países vão tirar vantagem disso para aumentar suas emissões”

Você pode desafiar a narrativa de que necessariamente estamos abrindo mão de alguma coisa ao diminuir nossas emissões de carbono. “Há muito benefícios para nossa vida cotidiana em mitigar as mudanças climáticas, em termos de reduzir a poluição do ar local, viagens mais ativas, economizar em contas de combustível e assim por diante”, disse Lamb.

4. “Tem gente desenvolvendo novas tecnologias verdes agora, só precisamos esperar”

Quem dera. A indústria de aviação é particularmente boa em manipular esse argumento, tão boa na verdade que Matt Hancock recentemente disse que “aviões elétricos estão no horizonte”.

Mas não estão. Ou talvez estejam, daqui muitas décadas, mas o IPCC descobriu que precisamos cortar nossas emissões pela metade nos próximos dez anos. “Você precisa demonstrar que essas tecnologias não estarão disponíveis no prazo que importa”, diz Lamb, e no momento, aviões ecológicos são apenas um conceito.

5. “Já declaramos uma emergência climática e estabelecemos alvos ambiciosos”

Alvos não são políticas. Como comunidade global, estamos fazendo um péssimo trabalho para atingir esses alvos ambientais. No começo do mês, foi anunciado que a humanidade perdeu cada uma das metas do Aichi 2010 para proteger a vida selvagem e os ecossistemas.

6. “Precisamos trabalhar com a indústria de combustíveis fósseis, o combustível deles está se tornando mais eficiente e precisamos disso como paliativo antes de estabelecer o uso de energia renovável no futuro”

Esse tipo de greenwashing é “o cerne do movimento da indústria contra regulação”, diz o relatório da Cardiff. É uma conclusão já derrubada dizer que precisamos de combustíveis fósseis por enquanto para passar para energia renovável no futuro: “Podemos pular diretamente para energia renovável”, diz Cook.

E não temos tempo para parar aos poucos o uso de combustíveis fósseis: só temos dez anos.

7. “As pessoas respondem melhor a políticas voluntárias, e não devemos tentar obrigar as pessoas a fazer alguma coisa”

Em outras palavras, o que precisamos é de cenouras, não chicotes. Coisas como financiamento de ferrovias de alta velocidade, não taxas para passageiros frequentes de voos.

Mas medidas restritivas já são uma parte normal e aceita da vida. Cinto de segurança, por exemplo, é uma medida restritiva aplicada pela lei para segurança de motoristas e passageiros, e a indústria automotiva foi duramente contra a lei do cinto no começo. Medidas restritivas podem e devem ser usadas junto com incentivos, não é uma questão de “ou isso ou aquilo”.

8. “Agir sobre as mudanças climáticas terá altos custos sociais. Os mais vulneráveis da nossa sociedade vão sofrer mais com aumento de impostos”

Essas são preocupações legítimas colocadas de boa fé. Mas, como diz Cook, geralmente esse é “um argumento de espantalho atacando basicamente uma versão inexistente das políticas climáticas”, que muitas vezes são pensadas com justiça social em mente para garantir que isso não aconteça.

Em qualquer caso, você não tem que aumentar os impostos dos mais pobres para a sociedade mitigar as mudanças climáticas. Reduzir o custo de passagens de trem é um bom exemplo disso. E taxas para passageiros frequentes de voos saem do bolso das pessoas mais ricas da nossa sociedade, que por definição podem pagá-las.

Os mais vulneráveis na sociedade são os mais afetados em termos de saúde pela queima continuada de combustíveis fósseis – usinas de carvão, por exemplo, ficam perto das áreas mais pobres do Reino Unido – e portanto os pobres são os que mais se beneficiam de políticas verdes.

9. “Abandonar os combustíveis fósseis vai desacelerar o crescimento econômico que tirou bilhões de pessoas da miséria”

Infelizmente, esse argumento geralmente é uma alavancagem do sofrimento humano para proteger gigantes do combustível fóssil. Se realmente nos importamos com a luta dessas pessoas, devemos fornecer tecnologias de energia renovável livre de patente. E combustíveis fósseis já estão causando danos drásticos para vidas no sul global.

10. “Não devemos agir até ter certeza de que temos políticas perfeitas para abordar as mudanças climáticas”

Temos mais certeza sobre os impactos e riscos futuros das mudanças climáticas do que temos sobre cigarros serem prejudiciais para a saúde humana, e ainda assim fizemos políticas para limitar o consumo de cigarros. Não precisamos ter certeza total sobre os resultados de criar políticas climáticas, e não exigimos esse tipo de certeza em qualquer outro campo de grandes decisões do governo, como entrar em guerra, por exemplo, ou, ouso dizer, sair da União Europeia. Tomar ações decisivas sobre as mudanças climáticas vai causar muito menos sofrimento que qualquer um desses exemplos.

11. “Qualquer medida efetiva para reduzir emissões vai contra a natureza humana e o jeito como vivemos agora, então seria impossível implementá-la numa sociedade democrática”

Essa é difícil, honestamente. Fracassamos, até agora, em mudar como vivemos o suficiente para evitar um desastre climático. Mas encontrar uma maneira de desafiar isso não é tão impossível quanto o argumento faz parecer. Para contrariar esse discurso, segundo Lamb, temos que apontar analogias históricas, de justiça social e de movimentos de direitos civis, por exemplo, que conseguiram realmente “mudar opiniões e políticas no passado”.

12. “É tarde demais para evitar mudanças climáticas catastróficas, e devemos estar prontos para nos adaptar ou morrer”

Mudanças climáticas não são um binário de ter as mudanças climáticas ou não. “Já nos comprometemos com alguns dos impactos climáticos”, diz Cook, “mas não sabemos quão ruim as coisas se tornarão”.

Também podemos argumentar que ter essa visão é uma falha moral. A Europa Ocidental e a América do Norte não serão os primeiros lugares ou os mais afetados pelas mudanças climáticas, e desistir de mudar isso é desistir das pessoas que por acaso não vivem onde vivemos.

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<![CDATA[16 maneiras simples de apimentar o sexo baunilha]]>https://www.vice.com/pt_br/article/bv8eam/16-maneiras-simples-de-apimentar-o-sexo-baunilhaThu, 24 Sep 2020 20:22:28 GMTTalvez você não goste normalmente de sexo selvagem e está totalmente confortável com uma rotina mais baunilha. E tudo bem se é isso que você e seu parceiro ou parceira gostam — e não significa que esses gostos são mais específicos do que “fazer sexo na cama em um conjunto limitado de posições”."

Mas se às vezes você pensa “Hum, talvez tenha jeitos de ajustar essas posições de vez em quando”, ou tem o menor impulso de apimentar as coisas, você tem opções. Tem vários jeitos simples de mudar sua rotina sexual para acrescentar algumas novidades aos básicos que você já sabe e gosta, sem mergulhar de cabeça no território kink. Alguns desses métodos nem envolvem realmente transar — são só maneiras como você e seu parceiro ou parceira pensam e falam sobre sexo e se excitam. (Outros têm sim a ver com transar mesmo.) Aqui temos algumas ideias para tornar o sexo normal que você já curte um pouco mais aventureiro.

1. Conversar sobre fantasias compartilhadas.

Fantasiar com o parceiro sobre o mesmo cenário — mesmo um dos jeitos normais como vocês já transam — pode ser o esporte de equipe perfeito quando se trata de fazer o sexo baunilha parecer especial. Como a educadora sexual Kaz Lucas sugeriu: “Tire um tempo para conversar sobre as fantasias e imaginar pequenos detalhes”.

Vocês também podem conversar sobre algo que nunca fizeram antes e ver como vocês se sentem: Descrever um ménage imaginário pode ser um bom lugar para começar. Juntos, você podem imaginar como a terceira pessoa seria. O que ela ou ele estaria usando quando vocês se encontrassem? Qual o cheiro da pessoa? Cada um pode ir descrevendo esse parceiro misterioso e como ele participaria durante o sexo com vocês.

2. Faça um áudio com você se masturbando e mande para o parceiro.

Mensagens de voz para o parceiro podem ser uma ótima preliminar enquanto vocês estão longe, ou mesmo em outra parte da casa.

Isso pode parecer mais seguro do que fazer uma sex tape para algumas pessoas. “Uma fantasia gravada — por você ou o parceiro sexual — pode oferecer uma forma duradoura de excitação. É algo que dá menos ansiedade que um vídeo, e suas mãos ficam livres para se tocar”, disse o psiquiatra Travis Meadows, especialista em consultoria sexual. Fantasias gravadas tiram a pressão de sentir que você tem que atuar fisicamente na hora também. Tire um tempo, e mande alguma coisa que você gostar bastante.

Tente se gravar durante o orgasmo na masturbação ou dizendo exatamente o que você quer que seu parceiro faça quando vocês estiverem juntos. Dependendo do que você usar para gravar e enviar, muitas mensagens de voz podem ser salvas e ouvidas de novo quando vocês precisarem de inspiração para a próxima vez.

3. Assistam pornô juntos (ou separados).

Precisa de um pouco de inspiração? Assistir outras pessoas transando — mesmo que de um jeito baunilha — pode tornar sua vida sexual mais excitante. Acrescentar estímulo visual também te dá confiança para finalmente experimentar coisas que você já estava imaginando. Se você não se sente pronto para fazer isso com outra pessoa ainda, e se seu parceiro topar, mande um link do seu vídeo pornô favorito para abrir a conversa sem o nervosismo e timidez em potencial na hora H.

4. Façam e troquem listas de “faria, não faria, talvez?”

Listas geralmente não são associadas com sensualidade, mas tirar um tempo para realmente escrever o que você toparia ou não experimentar na vida sexual pode ajudar a trazer alguns dos pensamentos na sua cabeça para a realidade. Uma lista de “faria, não faria, talvez?” é um jeito ótimo de verbalizar atos sexuais que vocês estariam abertos a experimentar versus coisas que são demais pra vocês, segundo a educadora sexual Janielle Bryan. “Esse é um jeito perfeito para começar uma conversa sobre novas coisas para experimentar, comparando as listas lado a lado e vendo o que combina”, ela disse.

Coloque um objetivo para quantas coisas vocês devem escrever. A maioria das pessoas consegue facilmente pensar em quatro ou cinco coisas, mas e se vocês tentassem 30? Uma lista mais longa pode encorajar a pensar fora da caixa e além das suas atividades sexuais normais.

5. Falar putarias descomplicadas.

Introduzir conversas safadas no quarto pode tirar um pouco da ansiedade quando se trata de experimentar coisas novas. Essa é uma preliminar perfeita antes de fazer qualquer coisa física. Por onde começar: vocês podem começar dizendo as coisas diferentes que gostariam de fazer. Um bom começo seria dizer algo como “Adoro quando você faz X porque Y”.

6. Faça uma privação sensorial básica.

Você já percebeu que seu olfato fica muito mais forte depois de ficar com o nariz entupido? Ou olhar para uma luz forte por um tempo e perceber que sua visão está distorcida? O mesmo vale para os sentidos durante o sexo. Usando coisas com que vocês ficam confortáveis, como um lenço ou venda, tente tirar sentidos específicos. Se você ou seu parceiro não podem ver ou tocar o corpo um do outro, isso pode tornar o encontro sexual mais intenso quando o acesso for finalmente restaurado — e intensificar o jeito como vocês experimentam o sexo através dos outros sentidos.

7. Ou: acrescente sensações.

Se você é mais o tipo de pessoa que prefere acrescentar a tirar na vida sexual, sorte sua. “As pessoas podem ter encontros sexuais mais excitantes usando todo seu sistema nervoso”, explicou a terapeuta sexual Michelle Herzog, acrescentando novas experiências sensoriais no sexo. Tente incorporar tecidos diferentes nas preliminares (como renda, couro ou seda) ou introduzir novos cheiros (com velas e óleos essenciais).

8. Faça ou receba uma massagem sensual.

Já que estamos falando de velas: usar óleo morno no parceiro durante uma massagem pode ajudar no quesito sensorial. Investigar como seu parceiro responde a diferentes temperaturas é um jeito simples de descobrir novas sensibilidades. Tente usar velas que funcionam como óleo de massagem — essas velas são diferentes das normais porque, em vez de liquefazer em cera quente, elas são feitas de óleos seguros para o corpo que vão derretendo lentamente, então tenha certeza de que comprou o tipo certo para evitar queimaduras.

9. Experimente mordidas leves entre os beijos e lambidas.

Independente de se você ou o parceiro gostam de sexo mais pesado, mordidas leves são incríveis entre os beijos, tantos nos lábios como em outras partes do corpo que não sejam os genitais. Para algumas pessoas, mordidas gentis nessas áreas também podem ser agradáveis — assim as sensações vão se acumulando com o tempo.

10. Use uma cadeira.

Transar numa cadeira pode te dar uma vantagem numa posição como cowgirl. O parceiro que vai fazer a penetração se senta na cadeira e a outra pessoa senta no colo de frente pra ele. Usando o apoio da cadeira e os pés no chão, a pessoa por cima tem mais controle sobre o ritmo e uma base confortável para sessões mais longas.

11. Use um vibrador.

Se você geralmente só usa brinquedos eróticos sozinho, ou mesmo se ainda não tem um brinquedo erótico, jogar um vibrador na mistura é “um jeito de aumentar as apostas durante o sexo com um parceiro”, disse a terapeuta sexual Kamil Lewis. Vibradores podem ser usados externamente no clitóris, ânus, mamilos e ao redor da cabeça do pênis. Use vibrações gentis (ou mais fortes) nessas áreas sensíveis para ver como vocês se sentem.

12. Faça ou receba uma masturbação sem as mãos.

Masturbação sem as mãos é estimular o parceiro “sem usar as mãos ou a boca nos genitais”, disse Meadows. “Sem usar as mãos ou sexo oral, isso pode abrir uma porta para descobrir jeitos criativos de estimular os genitais do parceiro.” Usar partes diferentes do corpo (nariz, dedos dos pés, etc.) no lugar das mãos ou boca permite explorações sexuais que podem ser surpreendentemente excitante. (Tente com uma venda também.)

13. Foque nos mamilos.

Dependendo do seu nível de conforto e vontade de brincar com partes do corpo que são mais sensíveis, morder e apertar os mamilos podem ser jeitos de aumentar as sensações além de beijar essas partes. Você pode esfregar os mamilos do parceiro enquanto ele ainda está vestido. Experimente lamber e depois assoprar os mamilos do parceiro para acrescentar estímulo.

14. Experimente com BDSM leve.

Experimentar BDSM não significa necessariamente que vocês devem partir logo de cara para as versões mais extremas. Lucas sugere usar as mãos ou coisas que você tem em casa para experimentar sem o aspecto intimidador de chicotes e algemas: Não tem algemas? Sem problema. Use um lenço ou um item de roupa.

Usando as mãos ou diferentes objetos, vocês podem experimentar com níveis variados de impacto com tapas no corpo um do outro. Como Lucas recomenda: “Comece com as coxas ou braços antes de partir para áreas mais sensíveis, como rosto e bunda”. Comece com toque leve, e vá aumentando o peso do impacto quando você e o parceiro estiverem prontos.

15. Tente fazer sexo o mais lentamente possível.

Como disse Herzog: “Desacelerar o sexo é um jeito simples e bastante erótico de pensar fora da caixa”. Ir devagar não quer dizer se mover num ritmo glacial. Se focando em cada momento, carícia e beijo, vocês podem perceber aspectos disso que gostam e dar mais atenção e tempo a eles.

16. Experimente o edging.

Se vocês estão procurando um jeito certeiro de aumentar a antecipação e excitação durante as preliminares ou o sexo, experimente o edging — uma prática onde você vai acumulando as sensações para o orgasmo mas para logo antes de gozar. Comece explorando uma área com a boca ou as mãos, mas pare antes de tudo ficar intenso demais, acumulando estímulos enquanto vocês continuam, incluindo atrasar os orgasmos quando a coisa chegar a esse ponto. Quando vocês vão acumulando excitação, mesmo o sexo de sempre parece novo em folha.

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<![CDATA[‘Among Us’ não é só o jogo de 2020, é ‘2020: O Jogo’]]>https://www.vice.com/pt_br/article/ep43yz/among-us-nao-e-so-o-jogo-de-2020-e-2020-o-jogoWed, 23 Sep 2020 22:27:14 GMTO sucesso de Among Us surpreende quando você lembra como esse jogo multiplayer de “encontre o impostor”, da desenvolvedora Innersloth, foi lançado sem muita fanfarra em junho de 2018, e quase não conseguia juntar jogadores simultâneos suficientes para preencher mais que algumas partidas nos primeiros meses.

Mas acontece que Among Us foi lançado dois anos cedo demais. Esse era um videogame para 2020, a realidade é que precisava alcançá-lo.

Nos últimos meses, Among Us está ganhando cada vez mais jogadores, e agora tem mais de 85 milhões de downloads para celular e centenas de milhares de pessoas jogando ao mesmo tempo nos horários de pico. Os servidores antes vazios estão tão sobrecarregados que às vezes é difícil hospedar o jogo. Mais importante, o jogo se infiltrou na cultura popular, com streamers e youtubers famosos juntando milhões de visualizações com os vídeos do game.

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Mas por quê? Por que esse jogo e por que neste momento?

A premissa de Among Us é simples. Nele, a maioria dos jogadores trabalha cooperativamente e são, no geral, “bons”, pelo menos no sentido em que estão correndo pelo cenário completando uma lista de tarefas designadas para permitir que o grupo todo sobreviva, e não planejando assassinar alguém. Mas entre os jogadores bons haverá impostores cujo trabalho é matar a tripulação antes que ela possa completar suas tarefas. No cerne, Among Us tenta recriar um tipo de tensão cinematográfica que você esperaria do Posto Avançado #31 no Ártico em O Enigma de Outro Mundo, ou a bordo da Nostromo em Alien, só que mais colorido e com um senso de humor quase maníaco na coisa toda. 

Além das comparações óbvias com filmes, tem alguma coisa nesse jogo que soa na mesma frequência da experiência prática de estar vivo no ano de 2020. Among Us é cheio de crises que vão se acumulando, e pessoas presas numa sensação de isolamento enquanto tentam resolver problemas para os quais não estão muito bem preparadas. Nesse mundo desmoronando, o jogo introduz agentes de má fé com o propósito de, além de gerar violência, criar desconfiança e distração. Mesmo quando morre no jogo, você ainda pode trabalhar como um fantasma, tentando afastar o fracasso aparentemente inevitável, o que, em si, é outra metáfora que implora por um exame.

Aqui no mundo real, quase todo dia tem um novo presságio que antes seria visto como monumental, mas agora parece só mais um dia numa loja de pesadelos. Então, quando os alarmes disparam em Among Us avisando os jogadores que o oxigênio foi sabotado e todo mundo está prestes a morrer asfixiado, sinto uma afinidade com o jogador que olha em volta resignado, e parece pensar “é, o Vermelho provavelmente resolve isso”.

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No final das contas, muito de Among Us é só um monte de gente tentando fazer seu trabalho sem morrer, um sentimento que compreendo no fundo da minha alma. Me sinto conectado com esses homenzinhos provavelmente condenados toda vez que entro numa reunião no Zoom para uma “revisão de portfólios”, enquanto o mundo, bem literalmente, pega fogo.

Então, quando um jogador azul está parado lá esperando um arquivo ser baixado para riscar outra tarefa da lista, ao mesmo tempo que fica na expectativa de alguém chegar por trás e esfaqueá-lo, essa parece uma emoção basicamente 2020. 

É de um jeito quase mundano que Among Us cria um cenário que parece presciente desse futuro vagamente exaustivo em que todo mundo está preso agora. Você está trancado num ambiente em decomposição, que proíbe cooperação organizada com pelo menos um traidor, que pode e vai te matar no momento certo, mas que enquanto isso pode simplesmente varrer as folhas e tirar o lixo? Aqui em 2020 chamamos esse sentimento de “terça-feira”.

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Mas tudo isso não capturaria o zeitgeist se Among Us não levasse as coisas um importante passo além. Esse não é um jogo apenas sobre a condenação resignada de uma classe trabalhadora marginalizada e abusada. É um jogo sobre comunicação, e como abusar dela para tirar vantagem.

A parte mais importante de Among Us não acontece nos confinamentos de alguma espaçonave ou base num vulcão. Acontece na sala de reunião, com uma tela mostrando quem morreu e quem ainda está vivo, porque esse é o único lugar em que você pode realmente conversar com os outros jogadores. E, mais importante, apontar o dedo na cara de quem estava perto demais daquela saída de ar, ou falar de algo suspeito que outro jogador fez quando vocês estavam falando pelo comunicador.

Funciona assim: se alguém cruza com um cadáver enquanto está passando por sua lista de tarefas, o jogador pode informar o crime. Além disso, uma vez por partida, por padrão, cada jogador pode pedir uma reunião de emergência. Nos dois casos, o grupo todo se junta para conversar enquanto um timer mostra os segundos que restam para chegar num consenso. De repente, esse jogo silencioso vira uma cacofonia de acusações, recriminações, álibis e súplicas, com cada jogador tentando explicar por que é inocente ou por que outro jogador deve ser jogado da câmara de descompressão.

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Na metade do tempo, enquanto os gritos e reclamações vão aumentando, começo a sentir falta do silêncio de subir dados no computador enquanto um assassino me observa das sombras.

Esse é um estudo de caso sobre como a fabricação do caos destrói comunidades. Geralmente, o traidor não precisa fazer afirmações certeiras sobre sua inocência, só achar um bode expiatório plausível ou jogar a desconfiança contra o acusador certo. O caminho para a vitória para o impostor é perceber quantas coisas todo mundo está tentando acompanhar, e capitalizar sobre as falhas e memórias incertas. Quando o verde não lembra exatamente quais tarefas ainda tem, você o acusa de ser um traidor. Quando o amarelo fica contando a mesma história (verdadeira) de como você matou alguém na sala de eletricidade, distorça essa certeza persistente como prova de um golpe. A pessoa que entra sem querer numa cena de crime tem tanta chance de ser jogada no vulcão quanto o homenzinho azul com uma faca ensanguentada na mão. É como diz o ditado, o X-9 acorda com a boca cheia de rocha derretida.

Mas a morte não significa liberdade em Among Us. Muitas vezes, a parte mais difícil vem depois que seus colegas se voltam contra você. É ficar ouvindo em silêncio a próxima conversa, como um fantasma que julga, vendo o traidor que te matou jogando um feitiço em outra pessoa e o mesmo padrão acontecendo com um novo coitado. É o mesmo jeito como me sinto toda manhã vendo que novas fabricações aparecem no jornal matutino, ou que nova piada política acontece no mundo.

Tudo isso provavelmente faz parecer que Among Us é um exercício sombrio e triste, mas não é. Sua apresentação esconde o tema sombrio, e é uma adição muito bacana para uma ideia central antiga de se divertir enquanto atrapalha seus amigos. Em algum ponto, o jogo acaba, alguém ganha, alguém perde e na maioria das vezes — nem sempre, mas na maioria — todo mundo volta a ser amigo. A fase de descompressão entre as partidas, quando os jogadores se reúnem no saguão, é um momento para parabenizar golpes bem elaborados ou lamentar erros estratégicos. Risadas, um pouco de ressentimento e no final, uma reconciliação, significando que tudo acaba bem.

Essa reafirmação da base talvez seja a parte menos 2020 do jogo. Among Us mergulha na tensão e sensação de desgraça iminente, mesmo para o impostor, que pode ver todos esses humanos irritantes fazendo progresso contínuo para evitar uma catástrofe bem planejada. Mas a tensão de Among Us tem um fim. A tensão cresce, se resolve e te liberta. E esse alívio é a parte mais difícil de se identificar no momento. Talvez algum dia, mas o momento em que o pêndulo reseta em vez de passar cada vez mais perto em cada balanço parece um sonho bom que tive muito tempo atrás.

Talvez essa seja a razão mais importante para Among Us ser um sucesso agora. Esta provavelmente é uma época que a maioria das pessoas não ia querer ver refletida de volta para elas. Ainda assim, aqui você tem um jogo com muitos paralelos com nosso momento atual, menos a resolução. E talvez essa seja a parte que buscamos mais que tudo. A sensação de passar por um pesadelo e sair do outro lado. A ideia de que talvez, só talvez, depois que o caos se resolver, poderemos voltar para algo que parece a nossa casa.

Por outro lado, talvez voltar para um lugar onde todo mundo ri daquela vez em que quase jogamos um de nós pela câmara de descompressão não devesse ser necessariamente o objetivo. Não sei. Só sei que que tenho que preparar os escudos e impedir que o reator derreta, e acho mesmo que aquele cara ali está tentando me matar. Estou ocupado agora. Você resolve isso aí.

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<![CDATA[Quem curte filmes de terror está lidando melhor com a pandemia, diz estudo]]>https://www.vice.com/pt_br/article/5dzvez/quem-curte-filmes-de-terror-esta-lidando-melhor-com-a-pandemia-diz-estudoTue, 22 Sep 2020 21:14:30 GMTEm seu livro Dreadful Pleasures, o autor de cultura pop que ocasionalmente comete plágio James B. Twitchell observou as origens do gênero de terror e o apelo contínuo de ficar assustado pacas. “Trabalhos modernos de terror artificial originados no final do século 18 descobriram que induzindo sentimentos extremos de prazeres horríveis, tanto prosa como ilustração poderiam gerar e explorar sentimentos poderosos dentro do espírito humano”, ele escreveu.

Séculos depois, um grupo de pesquisadores dos EUA e Dinamarca estão questionando se “sentimentos extremos” desencadeados por filmes de terror podem ser benéficos para nossa saúde mental, agora que todo dia é literalmente assustador. Para o estudo — que foi publicado recentemente no jornal Personality and Individual Differences e financiado pelo Programa de Pesquisa para a Mídia, Comunicação e Sociedade da Escola de Comunicação e Cultura da Universidade Aarhus — eles recrutaram 310 participantes que responderam uma série de perguntas sobre os tipos de filmes e programas de TV que gostavam, se eles assistiam filmes relacionados com a pandemia; e quanto eles concordavam ou discordavam com 13 questões sobre seu estado emocional (“Estou mais deprimido que o normal”) e mentalidade (“Tenho sentimentos positivos sobre o futuro”) durante os primeiros dias desta crise.

“Embora a maioria das pessoas procure filmes de terror com a intenção de ter entretenimento em vez de aprender alguma coisa, histórias assustadoras apresentam amplas oportunidades de aprendizado”, eles escreveram. “Ficção permite ao público explorar uma versão imaginária do mundo sem grandes custos. Através da ficção, as pessoas podem aprender como escapar de predadores perigosos, navegar novas situações sociais, e praticar suas habilidades de ler pensamentos e regular emoções.”

O que eles descobriram foi que pessoas que indicaram que gostam de filmes de terror e que “se engajam com mais frequência com fenômenos fictícios assustadores”, estavam experimentando níveis mais baixos de angústia psicológica durante a pandemia do que aquelas que preferiam outros gêneros.

“Uma razão para o terror poder estar relacionado com menos angústia psicológica é que ficção de terror permite que seu público pratique lidar com emoções negativas em um cenário seguro”, eles concluíram. “Experimentar emoções negativas num cenário seguro, como durante um filme de terror, pode ajudar os indivíduos a criar estratégias para lidar com o medo e lidar de maneira mais calma com situações que induzem medo na vida real.”

Além do foco nos filmes de terror, os pesquisadores combinaram quatro tipos de filmes (invasão alienígena, apocalipse, pós-apocalipse e zumbis) numa categoria que eles chamaram de gênero “de preparação”. Os participantes que indicaram que gostavam desses filmes estavam — surpresa! —  melhor preparados mentalmente para a pandemia e experimentavam “menos interrupções negativas” em suas vidas.

Finalmente, os participantes também deviam se posicionar na Escala de Curiosidade Mórbida, uma escala de 24 itens que determina o interesse das pessoas em “coisas desagradáveis”, incluindo morte. (Algumas das declarações da escala incluem “Se eu vivesse na Europa Medieval, eu estaria interessado em assistir uma execução pública” e “Eu estaria interessado em participar ou assistir um vídeo de um exorcismo”). Aqueles com mais curiosidade mórbida relataram ter experiências mais positivas, e também tinham mais chances de assistir Contágio ou outros filmes relacionados com pandemia enquanto vivem uma pandemia de verdade.

O autor líder da pesquisa, Coltan Scrivner, candidato a PhD no Departamento de Desenvolvimento Comparativo Humano da Universidade de Chicago, disse a VICE que aqueles com maior curiosidade mórbida podem considerar esta época de maneira positiva, porque estão aprendendo sobre pandemias, por exemplo, ou como elas afetam o mundo. “Isso, claro, não significa que essas pessoas gostam da pandemia, simplesmente que elas conseguem encontrar algo interessante nela, mesmo sendo algo horrível”, ele disse.

A pesquisa original foi conduzida em abril, e os participantes responderam as mesmas perguntas um mês depois, com resultados similares. Óbvio, as coisas ficaram piores (milhões de casos e dezenas de milhares de mortes piores) desde então, e pode ser preciso mais que filmes de terror para nos fazer sentir psicologicamente mais resistentes enquanto a pandemia continua. “Seria interessante ver quanto tempo esse efeito tipo buffering dura”, Scrivner disse. “Acredito que seria algo bem similar [ao estudo original]. Claro, seis meses depois podem trazer novos desafios que se relacionam mais com o impacto social do vírus, como solidão ou insegurança financeira.”

O que Scrivner não tem certeza, pelo menos por enquanto, é se, digamos, se obrigar a assistir todos os filmes da Annabelle hoje à noite pode ajudar a se sentir melhor daqui para frente. “Supor que a causa flui de assistir filmes de terror para se tornar mais resistente, isso pode depender do mecanismo como isso acontece. Por exemplo, se o mecanismo principal é praticar regulação de emoções e aprender como lidar com medo e ansiedade, é possível que isso possa ajudar”, ele disse.

“Claro, se alguém odeia filmes de terror, isso pode simplesmente piorar as coisas. Se habilidades de regulação de emoções são o que está sendo melhorado e ajudando as pessoas a lidar com a pandemia, talvez seja melhor assistir filmes que são assustadores pra você, não filmes considerados assustadores no geral. Se é assim que isso funciona, o ponto pode ser você aprender a aceitar sentir medo e ansiedade, e aprender como superar esses sentimentos.”

Então, por um lado, você só tem que aceitar sentir medo. Por outro, você só tem que aceitar sentir medo. Legal.

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<![CDATA[A máfia italiana está no TikTok]]>https://www.vice.com/pt_br/article/qj4qxx/a-mafia-italiana-esta-no-tiktokMon, 21 Sep 2020 21:39:23 GMTEm maio deste ano, um vídeo com a música de Tommy Riccio “Sì Sto’ Carcerato” (“Sim, Estou Preso”) chamou a atenção da comunidade italiana no TikTok. A letra descreve o sofrimento de estar encarcerado, e a música é no estilo “neomelódico” marca registrada de Nápoles – um gênero musical dramático que já foi acusado de glorificar o crime. Mas o que fez o vídeo se destacar é que ele foi filmado dentro de uma prisão, mais tarde identificada pela polícia penitenciária como o bloco de segurança máxima da prisão Avellino, a 50 quilômetros de Nápoles.

A Avellino abriga muitos criminosos parte da Camorra, um ramo da máfia da região de Campania e sua capital, Nápoles. Usando um celular que foi contrabandeado para sua cela, o TikTok do detento não-identificado viralizou e foi tirado do ar, mas ainda está no YouTube. Foi mais um caso de jovens camorristi usando o TikTok para mostrar o estilo de vida da máfia e se tornar conhecidos dos mafiosos de alto escalão – quase um teste de elenco para posições de poder e liderança.

Por alguns meses, a VICE Itália acompanhou as hashtags, músicas e usuários relacionados com um pico dessas postagens. Descobrimos que jovens mafiosos estão cada vez mais preferindo o TikTok ao Facebook, e os membros mais velhos dos clãs estão seguindo o exemplo.

A presença da Camorra no TikTok oferece uma janela para mudanças maiores na estrutura da máfia. Deixando claro, a Camorra não tem uma lista de membros e não é possível provar que esses jovens no TikTok estão realmente envolvidos. Parcialmente porque no passado, ser um camorrista era como um direito de nascença, com novos recrutas vindo de algumas famílias principais. Mas hoje, aspirantes a mafiosos estão rapidamente ganhando medo e respeito com amostras de violência nas ruas. Esses jovens gangsteres também postam sobre armas e os espólios da vida no crime nas redes sociais, desviando da tendência tradicional da máfia de evitar os holofotes. 

A Camorra é uma organização criminosa especializada em tráfico de drogas e humano. Ela também fez dinheiro com contratos ilegais de construção e coleta de lixo em Campania. Organizado em pequenos grupos hierárquicos conhecidos como clãs, o grupo é tradicionalmente liderado por famílias que controlam territórios específicos, com os clãs e as áreas controladas levando os sobrenomes dos chefões. Geralmente formados lentamente com o tempo, os clãs da Camorra “se estabelecem quando uma família ganha uma posição de autoridade em certos setores do tráfico”, disse o professor Luciano Brancaccio num livro em italiano sobre o assunto. Para continuar no controle, ele explica que as famílias precisam gerenciar a violência “racionalmente”, minimizando mortes e conflitos violentos para evitar que os moradores locais se voltem contra elas.

Desde o começo dos anos 2000, prisões de líderes mais velhos dos clãs aumentaram, levando garotos e jovens adultos a tomar o lugar deles. Esse jovens mafiosos se tornaram conhecidos por atos aleatórios de violência. Um relatório de 2019 da Direzione Investigativa Antimafia chama essas gangues de “academia Camorra”, por funcionar basicamente como treinamento e processo seletivo para futuros líderes. O relatório também destacou que muitos desses garotos não têm laços de família com a máfia, mas “agem com a mesma violência”.

Muitos dos vídeos dos jovens Camorristi no TikTok os mostram se gabando sobre armas, tatuagens, carros, motos e outros itens de luxo com trilha sonora de músicas neomelódicas ou traplódicas (uma fusão de trap e neomelódico) em dialetos locais. Uma das músicas mais populares, “Paradies Rmx” de Bl4ir, é sobre crescer num bairro barra pesada. O refrão chiclete é “Se os guardas passarem / me avise”.

Nenhum dos vídeos mostra explicitamente crimes sendo cometidos. Mas os temas, hashtags e músicas recorrentes implicam orgulho em estar filiado ao crime organizado. “Melhor morrer que trair”, diz a legenda num dos vídeos que parece ser de uma gangue de jovens camorristi. Em outro, um garoto fala sobre seu “irmão” na cadeia, escrevendo: “A prisão não vai pará-lo”, com emojis de corrente e corações pretos. A hashtag “paranza”, ou “gangue mirim”, é usada em muitos TikToks que mostram adolescentes andando de moto ou fazendo pose.

Alguns dos emojis mais comuns deles são o de leão (um símbolo de força e agressividade), armas e homens dando as mãos como um símbolo de fraternidade. Emojis de olhos também são populares, representando o ditado napolitano “Aquele que conhece o jogo fica calado”, ou o código de silêncio seguido por membros da máfia e pessoas que moram nas áreas controladas por ela. Outros TikToks são sobre a vida dentro e fora da cadeia. Em um deles, um usuário celebra um amigo que acabou de ser solto, o descrevendo como um comandante da piazza (praça) – gíria para bocas de drogas.

O relatório de 2019 também destacou como clãs tradicionais estão tentando usar o potencial das gangues de jovens dando mais poder e território a elas, enquanto evitam qualquer violência que possa prejudicar sua imagem. Em 2015, o líder de gangue de 19 anos Emanuele Sibillo se rebelou contra o chefe da Camorra local e foi assassinado. O caso atraiu atenção negativa, e desde então o clã vem usando as redes sociais para reabilitar sua imagem, com os esforços agora focados no TikTok.

O exemplo mais descarado desse rebranding vem do clã Amato-Pagano. No começo dos anos 2000, uma guerra mafiosa explodiu no bairro de Scampia em Nápoles, um epicentro do tráfico de drogas da Itália. O clã Amato-Pagano supostamente traiu o clã Di Lauro e se tornou conhecido como “os separatistas”.

Desde então eles se repaginaram como “_Gli Spagnoli_” (os espanhóis), um apelido que vem do líder do clã Raffaele Amato, que passou um tempo como fugitivo na Costa del Sol da Espanha. Muitos dos vídeos que encontramos eram marcados com os emojis da bandeira espanhola e de coroa. Em um deles, uma procissão de scooters acelera pelas ruas em um dos territórios históricos do clã nos subúrbios de Nápoles.

Marcello Ravveduto, professor de História Pública Digital na Universidade de Salerno, disse que a máfia usar o TikTok para espalhar sua mensagem faz sentido. “Muitas vezes esquecemos que o crime organizado e as redes sociais têm um coisa importante em comum: uma rede de contatos”, ele disse. E enquanto a visibilidade da Camorra no TikTok cresce, também cresce o número de recrutas.

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<![CDATA[A pandemia criou um novo tipo de ‘medo de estar perdendo’]]>https://www.vice.com/pt_br/article/889j8v/a-pandemia-criou-um-novo-tipo-de-medo-de-estar-perdendoFri, 18 Sep 2020 19:28:21 GMTUma noite um tempo atrás, visitei todos os meus amigos, e com isso quero dizer: cliquei no pequenos círculos com as caras deles no topo da minha página do Instagram, sentada na cama e bebendo vinho. Desde que a pandemia começou, me encontrei com, no máximo, umas quatro pessoas. Estritamente os melhores amigos (vamos chamar de “amigos nível A”). Clique e cliquei, e assisti as fotos na tela se tornarem monótonas. A mesma foto, ligeiramente cortada, apareceu três vezes em seguida: um sinal de um encontro de grupo… Acontecendo sem mim.

A foto era um prato de queijos, com legendas misteriosas em cada Story, que imaginei todos eles compartilhando e rindo. Uma das minhas melhores amigas estava se encontrando com outra melhor amiga dela e alguns amigos meus não tão próximos assim (amigos nível C), e lá estava  eu, visivelmente excluída. Passei por todas as emoções apropriadas: mágoa, desprezo, raiva, fúria cega, insegurança, ódio de mim mesma, e acabei no MEP (aquele Medo de Estar Perdendo a diversão). Levou alguns momentos para meu cérebro acordar para o triste fato da nossa realidade atual, e nesse ponto entrei na rota de aceitar que simplesmente estava perdendo mesmo.

Como não podemos nos encontrar com segurança com mais do que poucas pessoas de uma certa distância, isso significa que eu (como todo mundo que não está descaradamente quebrando a quarentena) não tenho me encontrado com qualquer um que simplesmente “acho legal” — tipo, uma pessoa não tão próxima ao ponto de fazer planos juntos, só encontrar por acaso em festas — há meses. A última vez que perguntei, sinceramente, pra alguém “O que você anda fazendo?”, provavelmente foi em outra vida. A pandemia reduziu nosso círculos sociais para a circunferência de um palito de dente.

E por uma boa razão: distanciamento social, limitar contato com outras pessoas e usar máscara/ficar ao ar livre durante qualquer interação pessoalmente, são algumas das melhores ferramentas para evitar que mais gente fique doente. Bares e festas na casa das pessoas — locais perfeitos para se atualizar sobre a vida das pessoas que você meio que conhece e gosta, mas também não pensa muito — continuam sendo foco de surtos de COVID, e portanto são eticamente proibidos.

Sinto falta dos meus amigos nível C… espero que eles também estejam sentindo minha falta.

Mas a realidade das redes sociais significa que todos esses encontros para os quais não fui convidada, e nem devia esperar ser convidada, são documentados, e a natureza do isolamento relativo significa que tenho muito tempo para passar por todos os feeds das contas que sigo, me sentindo mal.

Sinto falta dos meus amigos nível C, mas eu arriscaria minha vida (e, por associação, a vida da minha colega de apartamento, do meu parceiro, dos trabalhadores essenciais com quem interajo no mercado, etc.) por eles? Claro que não. Do que a gente poderia falar, nesses momentos finais antes de potencialmente pegar uma doença fatal??? Que não sei quem quebrou a quarentena para ficar com não sei quem? A trilha sonora do Selling Sunset??? Do que diabos as pessoas estão falando hoje??? Ainda assim, saber e aceitar isso como aceito não me impede de cair no medo de que esses três amigos próximos ou não tão próximos me odeiam, só porque não vejo eles há meses.

E não sou a única. Minha colega jornalista Katie Way caracterizou essa cepa aguda e precisa de MEP assim: “Sinto que estou me tornando uma pessoa desagradável de conviver”.

E claro que ela está errada e continua sendo um prazer conviver com ela, pra mim, mas ela levanta uma questão válida: conversas casuais parecem muito com um jogo de “use ou perca”, e este tem sido um ano muito solitário e isolado para muitas pessoas que antes eram bem sociais. Não poder conversar qualquer merda com conhecidos significa que nossa habilidade de ser alguém “divertido” de conviver está se atrofiando? Ou só estamos sentindo a falta de oportunidades de conversar no fundo da nossa alma?

Talvez nenhum dos nossos amigos de nível B, C, D, etc. realmente odeie a gente; eles simplesmente esqueceram que existimos num sentido material. Ou talvez eles estejam lá sabendo igualmente que não vão nos convidar para a casa deles, mas desejando que a gente pudesse se trombar numa festa para elogiar o cabelo e maquiagem um do outro, contar como estamos nos sentindo ultimamente, e ir embora, experimentando o leve barato de se dar bem com outra pessoa.

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<![CDATA[O estupro roubou meus orgasmos. Foi assim que eu os consegui de volta]]>https://www.vice.com/pt_br/article/y3z9mm/o-estupro-roubou-meus-orgasmos-foi-assim-que-eu-os-consegui-de-voltaThu, 17 Sep 2020 20:37:23 GMTAVISO: esta matéria descreve questões de violência sexual.

Comecei uma busca pelo orgasmo 14 meses atrás. Tudo começou com meu aniversário de 23 anos e perceber que eu nunca tinha gozado. Na verdade, eu mal sentia qualquer excitação genital durante o sexo ou masturbação, graças a ser estuprada quando eu tinha 18.

O mais perto que eu tinha chegado do orgasmo foi durante o estupro, e desde então, o sexo não funcionava mais pra mim. Eu estava desesperada para experimentar aquele orgasmo de gritar que você vê nos filmes. Ou só qualquer orgasmo no geral.

Então, 14 meses atrás, comecei minha busca escrevendo uma matéria para a VICE, discutindo como o estupro corrompeu meu prazer sexual. No começo, eu esperava que identificar uma ligação entre o ataque e prazer pudesse resolver o problema. Em vez disso, as coisas só ficaram mais difíceis. Fiquei tão obcecada com gozar que empurrei o orgasmo para ainda mais longe. Eu masturbava com um propósito. Eu transava com um propósito. Até compartilhei toda a minha jornada na internet, com um propósito. Me perdi tanto na busca que esqueci por que tinha começado em primeiro lugar.

A questão nunca deveria ter sido o orgasmo em si. A busca era uma questão de retomar o poder que foi tirado de mim quando fui estuprada. Eu precisava recuperar aquele poder.

O perpetrador pode ter penetrado meu corpo, mas a zona de impacto foi meu cérebro. Não foi minha vagina que foi danificada; foi minha confiança nos outros, minha autoconfiança, minha libido e meu senso de valor próprio. Desde o estupro, eu me odiava. Eu nunca me sentia sexy ou desejável. Minha compreensão do que era aceitável na cama foi completamente destruída. Eu era analfabeta no sexo e não estava me dando o respeito que eu merecia.

Percebendo isso, decidi que precisava me separar da noção de que gozar era a parte mais importante da minha busca por ser sexualmente livre. E me tornando sexualmente livre e redefinindo minha missão, eu realmente poderia relaxar e gozar.

Colocando do jeito mais simples: eu não gozei até parar de tentar gozar.

Atingir um orgasmo real começou com aquele trabalho interno clichê. Parei de beber por alguns meses. Me assumi pansexual, mudei de estado, deletei o Tinder e não transei com ninguém por seis meses.

Usei esse tempo para reprogramar meu cérebro e parar de bloquear minhas emoções com merdas vazias como transas bêbadas. Comecei a me aceitar como sou, o que permitiu me perdoar por tudo que eu sentia culpa. Sempre me culpei por ter sido estuprada. Mas interrompendo as distrações da superfície, consegui peneirar meus sentimentos e ganhar uma compreensão melhor de quem sou e o que mereço.

Obviamente, tudo isso levou tempo. Não há um programa fácil passo a passo para aprender como se amar, especialmente depois de algo tão traumático como um estupro. Eu tive que me dar tempo e espaço para me curar. Parei de colocar tanta pressão em mim e segui a jornada dia após dia, sem um prazo ou objetivo final.

Aí, algumas semanas atrás, comprei lingerie. Voltei pra casa e coloquei uma playlist sexy para tocar. Pela primeira vez, me olhei no espelho e não vi uma concha quebrada de um ser humano; eu vi alguém sensual. Dancei e toquei meu corpo. Eu queria transar comigo mesma. Eu nunca tinha sentido qualquer desejo por mim mesma daquele jeito antes.

Sempre que um pensamento negativo ou de nojo surgia na minha cabeça, eu mandava ele se foder. Mantive o controle.

Fui pra cama e transei comigo mesma. Não assisti pornô. Caramba, eu nem fantasiei sobre ninguém. A masturbação não era uma tarefa mundana, como sempre tinha sido. Não havia um ponto final para buscar. Eu realmente só queria fazer sexo comigo mesma.

Experimentei diferentes posições e técnicas, enquanto os sons aveludados de Khalid funcionavam como minha trilha sonora de prazer. Até me assustei quando ejaculei, mas decidi que era algo primitivo e excitante. Continuei me provocando até o orgasmo.

Sempre perguntei para as pessoas como você sabe que gozou. A resposta sempre foi “você simplesmente sabe”. E posso confirmar. Finalmente joguei a cabeça pra trás num momento de renúncia ao prazer.

Recuperei meu poder. E acontece que o tempo todo, aquele poder era eu.

No meu primeiro texto, pedi para você vir numa jornada comigo — essa jornada sendo a busca por gozar. Foi uma aventura longa e tortuosa, e com certeza não foi fácil. Mas cada passo foi fundamental para meu autodesenvolvimento e me trouxe para onde estou agora.

Essa é a questão das jornadas. Há vários caminhos, obstáculos e desvios. Muito da viagem é imprevisível, e ainda é tudo parte do que torna a viagem tão incrível.

Minha jornada nunca deveria ter começado com um objetivo, porque a cura não é linear. Assim como o clímax, uma jornada precisa ser um acúmulo: uma guinada para a esquerda para redescobrir minha confiança, um desvio para encarar meu trauma, e uma expedição para encontrar meu valor. Mas finalmente cheguei ao destino.

Para mim, gozar tem sido um pouco como voltar para casa de uma viagem de férias e imediatamente fantasiar sobre a próxima viagem. Agora dominei a arte da masturbação e finalmente sei o que funciona pra mim. E agora, quero transferir isso para encontrar um parceiro.

Fico feliz de ter sido aquela que me deu meu primeiro orgasmo e ter retomado o controle. Agora estou pronta para um bom e velho sexo.

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<![CDATA[A quarentena me ajudou a entender melhor minha identidade de gênero]]>https://www.vice.com/pt_br/article/5dz8zb/a-quarentena-me-ajudou-a-entender-melhor-minha-identidade-de-generoWed, 16 Sep 2020 19:39:01 GMTA quarentena do coronavírus está sendo incrivelmente difícil pra muita gente, mas também apresentou desafios particulares para os jovens queer. Um estudo recente explorando a saúde mental de pessoas LGBTQ durante a pandemia descobriu “altos níveis de stress e sintomas depressivos, particularmente entre os participantes mais jovens transgêneros e de gênero não-conformista”.

E em certo ponto durante a pandemia, a linha de ajuda LGBTQ Switchboard experimentou um aumento de 42% nas ligações de pessoas que se identificavam como trans ou de gênero não-conformista. A presidente Natasha Walker diz que muitos entraram em contato para discutir “as dificuldades de estar em quarentena com famílias transfóbicas, sendo chamados pelo gênero errado e sem acesso ao tratamento de gênero”.

As restrições do lockdown cortaram muitos jovens LGBTQ de suas redes de apoio queer, especialmente com a falta de privacidade na casa da família ou com internet ruim dificultando as conversas. Mas para algumas pessoas trans e de gênero não-conformista, houve um aspecto inesperadamente libertador na vida durante a pandemia.

Em 22 de agosto, a conta @fuglibetty tuitou: “a quantidade de pessoas aceitando sua identidade de gênero no lockdown prova como as interações sociais são inseparáveis da performance de gênero, tipo… no momento em que você é isolado da promoção constante de comportamento de gênero, você tem espaço para questionar o que isso realmente significa pra você”.

Esse tuíte agora tem 87 mil likes. O Dr. Jeffrey Cohen, psicólogo que comanda um grupo de terapia virtual para jovens LGBTQ do Centro Médico da Universidade de Colúmbia, diz que isso reflete as experiências de alguns de seus pacientes.

“Alguns jovens trans, não-binários e de gênero não-conformista conseguiram explorar e entender melhor a si mesmos e suas identidades durante a quarentena”, explica o Dr. Cohen.

Com apoio de “parentes e colegas”, esses jovens têm se beneficiado de maior autoconfiança e, por sua vez, estão mais abertos para experimentar com como se apresentam para o mundo.

“Por exemplo”, diz Dr. Cohen, “uma jovem que antes temia cortar o cabelo por medo de rejeição na vida real, pode escolher cortar o cabelo na quarentena quando as pessoas que estão em casa com ela a apoiam”.

Eddie, uma pessoa não-binária trans-feminina de 24 anos do sul de Lincolnshire, concorda. Eddie explicou que “de várias maneiras, o lockdown tem sido um grande ponto de guinada para minha transição”. Eddie, que se sustenta trabalhando em duas fazendas locais, se assumiu em março de 2019 e começou a tomar hormônios em outubro daquele ano. Mas para Eddie, as mudanças durante o lockdown têm sido “mais notáveis” e mais enriquecedoras.

“Sempre me apresento como feminina agora, em vez de estrategicamente me apresentar de maneiras masculinas ou femininas”, Eddie diz. “Comecei a procurar fazer amigos trans na internet, porque distância física e coisas assim parecem irrelevantes agora. Recentemente, fiz um novo grupo de amigos online e me sinto muito mais parte da comunidade trans. Antes eu me sentia solitária nesse sentido porque só tinha uma amiga trans na vida real.”

Elliot, uma pessoa não-binária de 28 anos de Birmingham que usa pronomes masculinos e femininos, diz que se beneficiou muito de não ter que “se apresentar” no ambiente do escritório.

“As pessoas do trabalho sempre foram mente aberta comigo, o que é bom”, ela diz, “mas também havia muita conversa heteronormativa e suposições sobre gênero. Quando estava trabalhando no escritório, muitas vezes eu ouvia alguma coisa e pensava ‘isso é completamente equivocado’”.

Ter mais tempo pra si fora do local de trabalho também permitiu que Elliot explorasse seu gênero mais completamente. “Me chamo de uma ‘bagunça de gêneros’, porque às vezes me sinto como um homem e às vezes como mulher, mas na maioria das vezes me vejo como os dois ao mesmo tempo”, ela diz. “Passei muito tempo da quarentena sozinha, e continuei socializando e saindo de casa o mínimo possível. Acho que não estar cercada de pessoas definitivamente me permitiu continuar desviando dos ideias heteronormativos cis, e realmente pensar nos meus sentimentos sobre gênero no geral.”

E a quarentena também permitiu a Elliot abraçar seu alter ego drag, ElliXia, “como mais uma extensão de mim do que uma pessoa separada”.

Se assumir trans, não-binário ou de gênero não-conformista muitas vezes é um processo em andamento, mas Phil, de 31 anos de Worcester, finalmente conseguiu dar um primeiro passo importante durante a quarentena. “Sempre me identifiquei como queer e tinha uma visão complicada do meu gênero, mas me assumi como enby [não-binário] durante a pandemia”, diz Phil. “Ter esse espaço e não me sentir julgado por ninguém por causa do lockdown permitiu reconhecer meu verdadeiro eu e ser mais expressivo quanto a isso.”

Phil diz que seria um equívoco chamar o lockdown de um “catalisador” para se assumir como não-binário. Em vez disso, a quarentena ajudou a abrir caminho para confrontar sentimentos que não tinham espaço para serem processados antes. 

“A quarentena me permitiu refletir e perceber realmente que não me identifico no espectro binário. Sempre senti que não podia ser enby sem pelo menos alguma forma de disforia de gênero, mas agora sei que isso não é verdade”, diz Phil.

Ao mesmo tempo, o distanciamento social deu a Phil uma espécie de barreira protetora da ignorância e discriminação de outras pessoas. “Antes eu tinha experiências negativas com pessoas ao redor que confundiam expressão de gênero com identidade – por exemplo, ouvi comentários sobre ter barba e não ser necessariamente ‘andrógino’, o que me causava frustração”, Phil lembra.

Agora, com as regras de distanciamento mais relaxadas, Phil diz que está “mais aberto sobre minha identidade de gênero”, e tem mais confiança para apresentar seu eu autêntico para o mundo.

Todo mundo com quem falei reconhece que teve sorte de experimentar crescimento pessoal num momento tão exaustivo, assustador e confuso. “Moro com a minha família e eles sempre me apoiaram, então estou num ambiente seguro. E meu trabalho seguiu quase que normalmente, então minha vida continuou bem segura”, diz Eddie.

Ainda assim, é muito reconfortante ouvir as coisas positivas que as pessoas estão tirando dessa experiência. “Não sei exatamente onde eu estaria na transição se a pandemia nunca tivesse acontecido”, diz Eddie, “mas sinto mesmo que isso me empurrou para mudar as coisas de um jeito bom pra mim”.

@mrnicklevine

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