Nos últimos dez meses, tenho seguido o ícone transgênero Amanda Lepore. Tudo começou uma noite, quando minha amiga curadora Kara Brooks e eu estávamos conversando numa mesa do Hotel Chantelle e Lepore entrou no recinto. Kara já tinha tirado selfies com Lepore antes e queria que eu fizesse uma foto. "Sempre tiro uma foto com a Amanda quando a vejo", ela disse. Disso, partimos numa jornada para conseguir 100 fotos de Amanda na esperança de um dia montar uma exposição.
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Dona do autoproclamado "corpo mais caro da Terra", Lepore é uma entertainer da noite. Mas, em muitos aspectos, ela também é uma artista performática. Ela se desumanizou através de alterações corporais exageradas, destacando, assim, o gosto popular, o consumismo e a fama. Lepore parece mais uma fantasia amplificada de mulher do que uma mulher de verdade. Ela zomba da insensatez feminina e funciona como um espelho do capitalismo americano, tudo isso enquanto vende a si mesma.Como efeito colateral de segui-la por toda parte, comecei a fotografar uma equipe de amigos rotativos, além de frequentadores de baladas comuns. Desde que estar no espectro trans se tornou mais aceitável, a cena não é mais underground, e isso mudou a atmosfera dos encontros trans, que costumavam ser secretos ou ilegais. Mesmo sendo ótima a ideia de que confundir os limites de gênero tenha se tornado aceitável, acessível e até rentável, temo que a pureza de algumas formas de performance esteja sendo substituída por consumismo – isso numa época em que questões de gênero ainda representam uma luta profunda e emocional para muitos. Acho que estas fotos mostram esse conflito e documentam uma mistura de expressão, celebração e entretenimento.
Veja mais fotos da Jacqueline Silberbush no site dela.Tradução: Marina Schnoor