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Μodă

As Modas de um Presídio Romeno

Fotografamos oito presas, cujas sentenças variam de um a 20 anos por assassinato, roubo, estelionato e tráfico de drogas.
Ioana Moldoveanu
Bucharest, RO

Aviso: Alguns de vocês devem se lembrar desta matéria de alguns anos atrás, quando ainda usávamos o domínio Viceland. Infelizmente, quando mudamos para o VICE.com, ela desapareceu, por isso resolvemos desenterrá-la. Aproveitem.

Nos últimos anos, prisioneiras da Romênia conseguiram permissão para se vestir como quisessem desde que mantivessem padrões mínimos de decência. Isso deixou o nosso pessoal da Romênia pensando: o que será que essas minas usam quando cercadas pelo ambiente horrível e desgostoso da vida na cadeia? A VICE Romênia decidiu fazer uma visita à única prisão feminina do país, Târgsor, para ver qual é a moda no xilindró.

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Uma sensação horrível chega ao fundo do meu estômago quando passo pelos portões de ferro. O que descubro lá dentro parece uma combinação meio estranha de hospital com monastério. O pátio tem uma igreja, muitas flores e um silêncio digno de cemitério. Mas lá dentro o cheiro é de suor, e o barulho, infernal. Os beliches parecem quase confortáveis, tipo um hostel para estudantes. A única coisa que faz o local se parecer com uma prisão são as barras de ferro nas portas das celas, mas mesmo elas têm cortinas, por entre as quais dá para ouvir as mulheres reclamando.

Aqui, um iPod com fones de ouvido significa um refúgio. Diferente do que é mostrado nos filmes, não existem líderes evidentes dos grupos, e os funcionários me disseram que as amizades entre as prisioneiras são meio raras, mas que, quando acontecem, elas ficam bastante íntimas e exclusivas. Existem alguns casais lésbicos, mas o motivo principal é obter alguma proteção. Escândalos e brigas acontecem com facilidade. As meninas têm diferentes regimes de detenção em diferentes alas do prédio, dependendo do quão ferrado foi o que elas fizeram para ir parar ali. As que têm penas mais duras só saem ao ar livre uma vez por dia. As outras podem aprender a costurar ou a ler e escrever, e podem passar o tempo assistindo filmes ou lendo na biblioteca ou no salão de cabeleireira, onde suas parceiras de presídio fazem penteados, tiram sobrancelhas e fazem as unhas.

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As 660 presas vivem em celas com oito ou 16 camas. Por causa da falta de espaço, elas podem ter uma quantidade determinada de roupas dentro do quarto. O restante fica guardado num quarto de armazenamento, de onde elas podem recuperar algumas peças quando levam outras para a lavanderia. O sabão é vendido na loja da prisão, onde também se pode comprar maquiagem vagabunda.

Uma das funcionárias da prisão nos guiou pelas celas e nos deu algumas dicas sobre quem eram as meninas mais legais. Escolhemos fotografar oito delas, cujas sentenças variam de um a 20 anos por assassinato, roubo, estelionato e tráfico de drogas. Levamos uma pilha de roupas, mas também pedimos que elas usassem peças próprias para montar seus looks.

FLORENTINA, 22, CONDENADA POR ROUBO

Blusa vintage, saia Adidas e joias vintage.

A Flori desenvolveu talento para o roubo desde antes de atingir a maioridade penal. Quando estivemos lá, ela já tinha cumprido 16 meses de sua sentença atual.

“Gosto de me vestir de um jeito mais moderno. Adoro branco e rosa, além de roupas confortáveis e casuais. Vou ao salão, passo tinta e aliso o cabelo, faço repicado, com as pontas mais suaves. Jeans rasgados são os meus favoritos, mas é claro que não sou eu mesma que corto, já compro assim.”

SIMONA, 27, CONDENADA POR TRÁFICO DE ECSTASY

Vestido Adidas, calça Levi’s, tênis Puma, relógio colorido Ollie Gang Shop.

Simona estudava contabilidade e, como hobby, vendia pílulas para seus amigos. Ela era o elo final de uma rede muito maior de traficantes quando todo o esquema foi por água abaixo. A princípio, ela pegou pena de 13 anos, mas a sentença foi reduzida depois para cinco anos. Música é sua única válvula de escape, por isso mandamos alguns CDs para ela por correio. Ela diz que nunca mais vai voltar a frequentar baladas, tudo o que quer é ficar limpa e começar uma vida nova do zero.

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“Eu costumava usar tênis, calça bag e uns xales nas baladas, mas não consegui manter esse estilo na prisão. Ainda me visto casualmente com calças e camisetas esportivas. Aqui, quando você está bem vestida, ficam falando que você está mal, só para te rebaixar. Tem muitas bad vibes de inveja, mas digo para as outras meninas que não estou nem aí.”

GABI, 32, CONDENADA POR TRÁFICO DE COCAÍNA

Regata vintage, legging e brincos Outwear.

A Gabi se formou em administração na ASE (Academia de Estudos Econômicos) de Bucareste. Em seu primeiro ano na cadeia, ela tentou usar todos os narcóticos possíveis. Sair dessa foi difícil, mas ela está limpa agora. Ela já está presa há dois anos e tem mais seis pela frente por ter sido pega com cem gramas de pó. A foto foi feita na sala do amor, onde as meninas podem receber seus namorados – ou a VICE, no caso da Gabi.

“Meu estilo depende da situação. Agora sou mais afro-punk, mas tem dias que sou mais casual ou misturo estilos. Aqui você tem que ser decente, mas ainda dá para ser você mesma, o que é bom. Sinto falta da liberdade de poder usar o que quiser. Sempre pego peças emprestadas da Simona, e minha irmã sempre compra roupas para mim quando compra para ela. A Moriko, que divide quarto comigo, arruma meu cabelo quase todos os dias. Não gosto do estilo kitsch nem de brilhos, mas isso é bem popular aqui. As tendências aqui variam de periguete com toque cigano e muito mau gosto.”

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CORINA, 24, CONDENADA COMO CÚMPLICE DE FRAUDE

Vestido Outwear, adereço de cabeça vintage.

Queríamos fazer a foto da Corina na igreja. As guardas da prisão até gostaram da ideia, mas o padre não. Então fizemos embaixo de um campanário mesmo. Suas companheiras cárceres ficaram gritando “Prostituta!” por entre as grades das suas janelas enquanto isso.

“O corte de cabelo de prisioneira no salão aqui da cadeia é péssimo. Duas das meninas da minha cela foram lá. Se ela tivesse cortado os cabelos delas usando uma tigela de molde teria ficado melhor. Minha cunhada, Angie, é quem cuida do meu cabelo. Amarramos um pedaço de corda na janela do nosso quarto para secar nossas roupas, porque se deixamos no pátio, elas são roubadas.”

IOANA, 18, CONDENADA COMO CÚMPLICE EM ROUBO

Vestido Adidas, calça Levi’s, sapatos vintage, relógio colorido Ollie Gang Shop; regata vintage, calça jeans vintage, tênis Puma; tomara-que-caia Levi’s, legging, sapatos e brincos vintage, colar e cinto Outwear; camiseta Levi’s, legging e tênis Adidas.

A Ioana curtia muito um hip hop, mas desde que foi presa, tem que ouvir o que as outras detentas estão a fim.

“Escolho minhas joias de acordo com o jeito que me visto. Uma grande tendência aqui é misturar elementos esportivos com outras peças femininas mais elegantes. Todas as meninas se vestem assim. Eu gosto de brincos dourados de argola, muitos cristais e peças grandes combinando. Me visto na prisão do mesmo jeito que fazia em casa, mas, desde que estou aqui, não tenho mais para quem me vestir.”

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CLAUDIA, 34, CONDENADA POR TRÁFICO DE HEROÍNA

Tomara-que-caia Levi’s, legging e sapatos vintage, boné Levi’s, brincos vintage, colar e cinto Outwear; camiseta Levi’s, tênis e legging Adidas.

A Claudia foi parar em Târgșor um ano depois de ter sido identificada num vídeo que mostrava ela e seu marido vendendo heroína. Restam ainda mais seis anos de pena.

“Eu quase nunca usava saia antes, mas quando botava, ficava toda patricinha: brincos, dois anéis, um colar. Adoro ouro, mas só posso usar prata aqui. Dentro da prisão, só fico de shorts e regata, sutiã só quando estou no quarto. É claro que tem muita inveja. Ninguém visita as feiosas. Brigas acontecem pelos motivos mais banais. A última foi porque uma das meninas entrou num quarto e pisou no tapete usando sapatos.”

ȚUȚU, 36, CONDENADA POR ASSASSINATO

Regata Carhartt, jeans e acessórios vintage.

O verdadeiro nome da Tutu é Sorina, mas todo mundo chama ela assim. Ela já cumpriu cinco de um total de 20 anos de sua pena por assassinato. Ela diz que tem 28 anos de idade, que seu tamanho de saias é mini e que seu tamanho de blusa é rosa. Ela deixava escapar um “Jesus” o tempo todo, era muito emotiva e pediu que ficássemos virados enquanto ela se trocava. Alguma coisa na regata vermelha fez com que ela se sentisse gostosa, e ela começou a mostrar umas poses bem sexy com a tábua de passar.

“Gosto muito de vermelho. É só ter um bom vermelho, uma minissaia com glitter e uma blusinha combinando que eu saio por aí como se estivesse na passarela. Até faço isso na nossa cela. Antes, eu era stripper. Não gosto de amarelo, mas gosto de leggings. Para mim, homem tem que ser limpo, elegante e usar perfume só para mim – ficar no bar depois das 18h, nem pensar. Se quiser sair, tem que me pedir antes.”

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ANGIE, 31, CONDENADA POR ESTELIONATO

Regata Puma, calça Levi’s e cinto Vans da Ollie Gang Shop.

A Angie é a cunhada da Corina. Ela foi nadadora olímpica por 11 anos, com quatro medalhas de bronze no currículo. Ela sente falta de fazer exercícios porque, infelizmente, a academia da cadeia foi fechada depois que umas antas quebraram a esteira. Ela se casou e foi para a Grécia, onde arrumou emprego como fotógrafa de casamentos. Ela tem três filhos, que agora estão sob os cuidados de sua mãe. Quando eles vão visitá-la, brincam no escorregador que aparece na foto.

“Sinto mais falta dos meus filhos e de viver em paz. Aqui é uma selva. Também sinto falta de tênis – não de usar, mas de ir comprar. Quando vou a tribunal ou em dias de visitas, gosto de usar saltos bem altos, legging e um vestido. Gosto de Dior, Nike e também da Puma. Não uso maquiagem. As maquiagens que eles vendem na loja da prisão são uma merda. Dá para conseguir algumas de casa escondidas nas frutas que os visitantes trazem para você. Isso você aprende no primeiro mês. Desde que você não esteja contrabandeando drogas, eles não dão muita bola.”

Fotos por Vlad Brateanu.

Produção das próprias presidiárias e de Dana Anghel.