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Uma Candidata da Irlanda do Norte Quer Proibir a Homossexualidade

Muitos candidatos têm a pachorra de basear sua carreira política inteiramente na carta da homofobia, a Susan Anne White é um exemplo disso.

Tem muitos políticos por aí se estranhando com os gays — não só no Brasil. Como, por exemplo, aquele conselheiro do UKIP (o Partido da Independência do Reino Unido), que culpou o casamento gay pelas inundações de janeiro no país, provavelmente porque não tem muitos amigos homossexuais. E se ele tiver, acho que o papo esfriou bastante depois que ele colocou a culpa pelos danos irreparáveis causados pela água na orientação sexual deles.

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Muitos candidatos têm a pachorra de basear sua carreira política inteiramente na carta da homofobia.

Mas Susan Anne White – que disputa uma vaga no conselho municipal de Omagh, Irlanda do Norte – aparentemente não sabe muito bem o que se espera de uma pessoa que concorre a um cargo público. Num debate recente, ela disse: “Minha campanha está baseada nos dez princípios bíblicos e, entre eles, está a necessidade de nos protegermos da destrutiva agenda homossexual”.

A política evangélica diz que vai “recriminalizar” a homossexualidade caso seja eleita, e afirma que os gays querem “recrutar” novos adeptos e que todos estão sob a “ameaça” de serem pervertidos pelo estilo de vida devasso deles. Estranhamente, esses comentários não caíram bem entre a comunidade LGBT da Irlanda do Norte e também com outros políticos.

Para saber como anda o recrutamento desse pessoal, conversei com Terry McFarlane, diretor da Associação Pelos Direitos Gays da Irlanda do Norte (NIGRA em inglês).

Susan White, candidata ao conselho da cidade de Omagh, Irlanda do Norte, que quer “recriminalizar” a homossexualidade.

VICE: Oi, Terry, como vai o recrutamento de vocês? Vocês estão conseguindo trazer muita gente hétero para a comunidade gay?
Terry McFarlane: Temos todo tipo de pessoa em nosso comitê, tanto héteros como gays, e não achamos que precisamos recrutar ninguém, já que a maioria das pessoas acha normal ser gay.

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OK. Você não acha estranho que, em pleno 2014, algumas pessoas ainda acreditam que a comunidade gay está tentando “recrutar” pessoas hétero?
Não é tão estranho assim – ouvimos tantos discursos como esse nos últimos dois anos que não nos surpreende mais. Teve aquele pastor americano [Scott Lively] que foi para Uganda, que fala contra a homossexualidade de muitas formas, e um filme foi lançado recentemente afirmando a necessidade de “mudar os gays”. Isso prova como algumas dessas campanhas podem ser horríveis.

É uma preocupação para vocês que gente como Susan White esteja tentando espalhar essa mesma ideia na Irlanda do Norte?
Não acho preocupante – as pessoas têm direito à liberdade de expressão. Susan White está disputando as eleições e, na sociedade de hoje, ela tem esse direito.

Muito justo. Então você não acha que ela representa uma ameaça?
Qualquer pessoa que se destaque tem a possibilidade de ser eleita. Mas, falando sério, não acho que ela tenha muita chance. No passado, ela mesma disse que suas chances de ser eleita eram muito pequenas.

Pelo menos ela é realista. Mas ela fez sua declaração à comunidade LGBT da Irlanda do Norte – se pudesse, o que você diria a ela?
Somos, como sociedade, inclusivos. Somos uma sociedade multicultural e isso engloba todas as áreas da sexualidade. Portanto, não consigo ver essa volta no tempo, o que ela está sugerindo, acontecer. Nas declarações, ela incluiu se “proteger” de várias coisas, incluindo o Darwinismo. Não acho que isso seja indício de uma pessoa muito racional.

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Outra coisa que ela disse é que não quer que gays doem sangue. O que você acha disso?
É a mesma coisa que nosso ministro da saúde – que tomou uma decisão por si próprio – está dizendo. Isso vai contra toda a informação que temos, especialmente quando o resto do Reino Unido já aceitou isso. O que é ainda mais hipócrita, já que o sistema de saúde da Irlanda do Norte usa sangue de partes do Reino Unido – não acho que essa seja uma situação muito racional.

Você disse que Susan White não é uma ameaça séria – há outros políticos homofóbicos com que você realmente se preocupa?
Não muito, porque aqui na Irlanda do Norte temos um sistema diferente do resto do Reino Unido, segundo o qual os partidos políticos podem colocar um aviso para interromper qualquer coisa que esteja acontecendo, como aconteceu com [a rejeição recente do] casamento entre pessoas do mesmo sexo. No final das contas, eles não precisaram usar esse mecanismo porque venceram por oito votos. Mas se não tivessem vencido, eles poderiam ter impedido isso. Temos o partido Sinn Féin atualmente, e eles parecem estar trabalhando para alcançar os mesmos objetivos que nós. Também temos os Unionistas, que estão trabalhando para alcançar alguns dos nossos objetivos também.

Você acha que os direitos LGBT melhoraram na Irlanda do Norte?
Os direitos LGBT vêm avançando progressivamente nos últimos 40 anos. O NIGRA se formou 39 anos atrás e temos visto lutas contínuas para esse avanço. Normalmente, seguimos em frente, mas às vezes damos um passo atrás. O que queremos é igualdade para todos – igualdade engloba o direito de viver em segurança, o direito de ter uma vida plena com o parceiro ou parceira que você escolher e o direito de construir uma família, se e quando você quiser fazer isso.

Obrigado, Terry.

Tradução: Marina Schnoor