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Os pénis estão-se a borrifar

A revolta de um órgão masculino.

Olá Kelly. Percebi que ficaste perturbada com aquilo que aconteceu. E a culpa é minha. Sei que és uma lésbica e que não tens muita experiência com a minha pessoa e as coisas que faço confundem-te. Por favor, permite que me explique. Bem, como sabes, um homem consegue distinguir a diferença entre aquilo que é certo e aquilo que é errado. Ok? E também sabes que um homem se pode sentir magoado, certo? O homem é uma criatura pensante. Um homem consegue resolver problemas. Um homem pode fazer a coisa certa. Um homem consegue sentar-se, elaborar um plano. Um homem consegue saber o que sente. Um homem consegue viver normalmente, como toda a gente, com amor, honra e dignidade. Nem todos o fazem, mas o homem consegue. Estás a perceber? Um homem é uma pessoa real. Qualquer homem é uma pessoa real. Por que motivo é que as pessoas são pessoas? Não sei, sou apenas um pénis, não percebo nada dessas coisas. Mas sei que um homem pode melhorar. Um homem consegue compreender que tem de chegar mais longe. Um homem tem a noção do que isso significa, dos sacrifícios que envolvem essa jornada. Um homem pode ficar desiludido consigo próprio e tentar alcançar mais. Um homem pode ser generoso, amável, tolerante e um bom ouvinte. Nem sempre, mas isto é recorrente, tal como outra pessoa qualquer, percebes? Um homem consegue ajudar-se e ajudar os outros. Um homem consegue ser um homem. Mas uma pila? Eu? Um pénis? As pilas estão-se a CAGAR. Kelly, as pilas estão-se a cagar. É isso que precisas de compreender, Kelly: AS PILAS ESTÃO-SE A CAGAR. Facto: uma pila consegue ouvir o homem. Não é que o queiram, mas uma pila não tem escolha porque a pila faz parte do homem. Tal como o cérebro faz parte do homem. Uma pila e um cérebro são partes distintas de um homem, Kelly. É por isso que têm nomes diferentes. Se eu fosse um cérebro, chamar-me-ia cérebro. Mas ninguém o faz. Não sou um cérebro, sou uma pila. E eu faço o que quero. Estou-me bem a borrifar. Mas quão a borrifar estou eu? Vamos só dizer que estou preso a um puto de 13 anos e que esse puto de 13 anos está numa aula de história. E que nessa aula de história está a discutir-se o Holocausto. Digamos que, durante essa aula, os alunos estão a ver um filme. E digamos que nesse filme sobre o Holocausto há uma cena de nudez em que um cadáver feminino tem as mamas à mostra. Será que ficavas MUITO CHATEADA se eu ficasse todo duro com isso, Kelly McLure? Deixa-me dizer-te: a rigidez iria incomodar muito mais o puto de 13 anos a quem estou preso. MUITO MAIS. Portanto, imagino que também te incomode. Mas adivinha: estou-me a cagar. Faço parte de um puto de 13 anos e esse puto de 13 anos viu uma gaja nua, por isso estou super duro. É assim que funciono. Desculpa, mundo. Não há nada que possa contrariar isto. Até um médico dirá que isto é natural. EU. ESTOU-ME. A. CAGAR. E aqui fica a parte mais louca, Kelly. Às vezes, os homens ouvem-me, percebes? Dialogamos e, por vezes, eu ganho. Será que isso te assusta? Talvez devesse. Quer dizer, não é que eu seja um monstro. Já alguma vez viste alguém no hospital por ter sido espancado por uma pila? Não. Foi sempre o homem que o fez. Talvez lhe tenha dito para o fazer, talvez não. Não consigo ajudar o homem a quem estou preso. Se ele é um tipo marado, a culpa não é minha. Isso é o homem e é como ele foi feito, ok? Eu sou apenas um pénis. Não tenho tempo para me preocupar com estas coisas. Então, presta atenção, Kelly. Lamento que tenhas visto xixi no chão de uma casa de banho. Quer dizer, não é que lamente porque, como sabes, estou-me a cagar. Como é que isso afecta a minha vida se és uma lésbica? Mas tenho a certeza que alguns dos homens que estão a presos aos meus colegas têm pena de terem feito xixi no chão do WC. Na verdade, devias estar chateada com eles, em vez de pores as culpas em mim. Eles podem limpar o que sujaram. Eu não. É com eles que te tens de passar: com os homens que não limparam o que eu fiz. Ah, e mais! Não me conheces, nem sabes como funciono. Espalhei aquele xixi porque, às vezes, tenho nhanha na minha pontinha. Quando esta seca, fico com uma parte da minha roupa interior presa no buraco. E é aí que o homem a quem estou preso tem de ir ao WC e espalha o mijo por todos aqueles ângulos estranhos. Não é que me importe, é só algo que faço porque sim. Saberias se fosses como eu. Resumindo, esta é a minha história: estar-me a cagar. Querias que nós nos importássemos, querias que os homens ouvissem o que tenho a dizer. Não é culpa deles se mijo por todo o lado e se me estou a borrifar. E é natural que eles pensem: “Oh, se as pilas se estão a cagar, também me estou a cagar.” E aí, a culpa não é minha. É deles. Se alguma vez quiseres, estarei aqui para te ouvir desabafar sobre a tua vagina. Terei muito gosto nisso. Aliás, até tenho uma teoria que poderás confirmar: as vaginas importam-se COM TUDO. Não é? Oh, merda. Estou todo molhado. Ajuda-me aqui. Estou todo suado. AJUDA-ME AQUI. AGORA. JÁ.