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Planeta Terra

Podem existir montanhas mais altas que o Evereste no interior da Terra

Cientistas usaram dados do segundo maior terramoto de que há registo para espreitar para dentro do Planeta.
Modelo do interior da Terra
Modelo do interior da Terra. Imagem: NASA/JPL/Université Paris Diderot e Institut de Physique du Globe de Paris. 

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Motherboard.

Centenas de quilómetros abaixo dos nossos pés, há uma cordilheira com picos que podem ser tão altos como os dos Himalaias, assegura um novo estudo. Cientistas conseguiram ter um vislumbre da estrutura gigantesca num relatório sísmico registado durante o terramoto de 1994 na Bolívia, de acordo com o estudo publicado a 15 de Fevereiro, na revista Science.

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O manto da Terra é uma faixa densa de rochas silicáticas que se estende desde a crosta ao núcleo, ocupando cerca de 84 por cento do volume do Planeta. A 660 quilómetros da superfície, há uma fronteira chamada de zona de transição, que divide o manto em níveis superiores e inferiores. Os cientistas conseguem saber que a rocha fica bastante mais densa neste sitio específico, mas é difícil obter uma leitura da topografia. Informação detalhada sobre a cordilheira poderia ajudar a desvendar vários mistérios sobre o manto, como quanto na realidade é que as camadas superiores e inferiores se misturam, para que os cientistas pudessem examiná-la melhor.


Vê o primeiro episódio de "Motherboard"


Uma das únicas formas de espreitar para dentro da Terra é através de ondas sísmicas, que são ondulações de energia que viajam pelo Planeta durante grandes perturbações, como terramotos ou impactos de asteróides. Quando as ondas encontram texturas, minerais e estruturas diferentes, fazem um ricochete parecido com o que as ondas de luz fazem quando reflectem em objectos. Isto dá-nos um retrato rudimentar sísmico do interior da Terra.

"Precisamos de grandes terramotos para permitir que as ondas viagem pelo manto até ao núcleo, façam ricochete na zona de transição e passem por todo o interior para voltarem à superfície do manto e possam ser detectadas", explica à Motherboard por e-mail, a geofísica Jessica Irving, da Princeton University, nos Estados Unidos, uma das autoras do estudo. Como foi o segundo maior e mais profundo terramoto de que há registo - um 8.2 na escala de Richter - o terramoto boliviano de 1994 deu conta do recado.

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A equipa juntou-se ao cluster de supercomputação Princeton’s Tiger para analisar as medições do terramoto, de forma a conseguir reconstruir as estruturas da cordilheira. Apesar de o modelo de estudo não ser capaz de identificar pesos exactos, há "topografia mais forte que as Rocky Mountains ou os Apalaches" na cordilheira, garante o autor principal, Wenbo Wu. "Não te posso dar um número certo", explica Irving sobre a altitude da cordilheira, "mas as montanhas na zona de transição poderão ser maiores que o Monte Evereste".

A robustez da fronteira pode ser, em parte, causada pela acumulação de fundo do mar antigo que ficou preso no manto e depois se amontoou na zona de transição. É possível que existam relíquias antigas dos primeiros dias da Terra ali empilhadas. À medida que as técnicas de sismologia e supercomputação se vão desenvolvendo, os cientistas esperam conseguir saber cada vez mais sobre as montanhas do manto. "Acho que pesquisa futura nos conseguirá ensinar mais sobre estas montanhas topográficas e sobre como estão distribuídas pelo Planeta - já conseguimos ver que há partes da zona de transição muito mais lisas que outras!", sublinha Irving.

Esta investigação não só aporta novas informações a debates actuais sobre a evolução da Terra, como também sobre os possíveis processos e forma de outros planetas.


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