“Acredito, antes de tudo, que os haitianos têm uma força inigualável”, diz o fotógrafo brasileiro Brunno Covello ao contar sobre os mais de três anos que passou documentando o dia a dia de imigrantes haitianos em Curitiba, capital paranaense.De cara, as imagens chamam a atenção, e essa força a que Brunno se refere faz sentido imediatamente. O fotógrafo mostra situações cotidianas dos imigrantes no Brasil, como as festas, os reencontros, o trabalho, a religião, ou seja, alegrias e tristezas reais de uma comunidade fora de sua terra natal. “Fiz diversas pautas para um jornal sobre a imigração, mas sempre caíamos nos casos de racismo, xenofobia, desemprego e preconceito”, explica o fotógrafo, que acredita ser muito importante levantar essas questões, mas sentia falta de trazer também o dia a dia e a cultura dos imigrantes.
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Em 2013, muitos haitianos começaram a chegar ao Brasil. Segundo a Pastoral do Migrante, entre oito e 10 mil haitianos estabeleceram residência em Curitiba, após o terremoto que atingiu o país em 2010. Sem falar a nossa língua e com poucos recursos, vieram em busca de emprego e de um recomeço, com o objetivo de enviar dinheiro para que a família, que ficou por lá, também pudesse vir para o Brasil.Para o fotógrafo, o mais importante era encontrar uma maneira de estabelecer laços de confiança com essas pessoas que haviam perdido familiares e amigos no terremoto e haviam gastado todo o dinheiro que tinham em uma viagem de três meses em busca do imprevisível. Portanto, compreender e respeitar a história deles foi o primeiro passo.
A primeira acolhida dos imigrantes acontecia em igrejas, principalmente, as evangélicas, onde Brunno documentou cultos e vários casamentos, o que era sempre uma alegria, pois, em muitos casos, esse evento marcava o reencontro deles. “O noivo conseguia o dinheiro através de muito trabalho para trazer a noiva do Haiti e eles se casavam”, lembra o fotógrafo.Depois de quase seis meses documentando a comunidade, Brunno ainda não tinha resolvido muito bem a estrutura do projeto como um todo. Foi somente no momento em que teve este trabalho classificado como finalista no concurso Fundação Conrado Wessel que ele percebeu que estava em um caminho interessante, o que o incentivou a se aprofundar no assunto.
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Conseguiu suporte do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura da Fundação Cultural de Curitiba, o que viabilizou uma viagem para o Haiti. A partir disso, teve a ideia de fazer retratos dos haitianos no Brasil e levar para seus familiares no Haiti. Eram retratos em preto e branco e com luz de estúdio.“Pedi para que cada um viesse com a roupa que mais o representasse, pois as fotos seriam entregues para pessoas importantes para eles, e queria que eles sentissem orgulho de ser quem eram naquelas fotos”, conta.
A fotografia é poderosa e possui vários alcances, entre os quais, diminuir distâncias, acalmar saudades e dar trégua a incertezas. Ao realizar esses retratos tão gentis, Brunno coloca isso em evidência e nos faz pensar no compromisso e na responsabilidade que cabe a todo(a) fotógrafo(a) ao entrar na vida do outro.As entregas das fotos, no Haiti, foram momentos carregados de muita emoção, mas o fotógrafo destaca a entrega da foto de Marie Viergelie Lucat para os filhos Gladyton, 12, e Hiramson, 10. Além da imagem, Marie pediu a Brunno que levasse também uma mochila com presentes para os filhos. “Ao chegar na casa deles para entregar a foto e os presentes, fiquei conversando com o pai dos meninos, enquanto o filho mais novo, com a foto da mãe no colo, acariciava delicadamente o cabelo dela na fotografia”, lembra Brunno, ao presenciar uma saudade de mais de quatro anos de separação.
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Brunno acredita que, embora, na prática, haja uma mudança muito pequena na vida de cada um para quem deixou a foto, esta pode trazer algum conforto em relação à dor provocada pela distância.
Esse trabalho imenso e humano de Brunno possui muitos vieses, dentre eles, o da fotografia falando sobre ela mesma, com força, importância e beleza.A documentação da comunidade haitiana na capital paranaense, que leva o nome Rekòmanse – Outras faces, outras histórias, rendeu ainda um livro e uma exposição no Museu da Fotografia em Curitiba, em 2017.Mais fotos do Brunno Covello abaixo e no Instagram.
Esse trabalho imenso e humano de Brunno possui muitos vieses, dentre eles, o da fotografia falando sobre ela mesma, com força, importância e beleza.A documentação da comunidade haitiana na capital paranaense, que leva o nome Rekòmanse – Outras faces, outras histórias, rendeu ainda um livro e uma exposição no Museu da Fotografia em Curitiba, em 2017.Mais fotos do Brunno Covello abaixo e no Instagram.