Adriana Castro Rosa Santos, Andreia Araujo, Albane Barbosa Nunes de Jesus. Uma pesquisa rápida no Google Notícias é capaz de encontrar três nomes de mulheres vítimas de feminicídio na última semana, assassinadas pelos próprios esposos.Os três crimes, junto a outras dezenas, aconteceram na semana em que a Lei Maria da Penha, principal marco legislativo de enfrentamento à violência doméstica no Brasil, completou doze anos de existência. Sancionada pelo ex-presidente Lula em 7 de agosto de 2006, a lei foi responsável pela queda imediata das taxas de homicídio de mulheres no Brasil – no ano seguinte, a taxa de 4,2 mortes a cada 100 mil indivíduos do sexo feminino no país caiu para 3,9, segundo o Mapa da Violência de 2015.
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Essa mesma taxa, porém, voltou a crescer em 2008 e vem culminando em números de mortes assustadores desde então. Segundo uma matéria do G1 publicada em março, 12 mulheres são vítimas de feminicídio por dia no Brasil, o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Isso acontece porque, embora a Lei Maria da Penha (LMP) seja considerada pela ONU como uma das melhores legislações de enfrentamento à violência contra as mulheres no mundo, a aplicação da lei ainda encontra diversos desafios culturais e institucionais.“Ela é uma lei que traz questões de saúde, de assistência social, cíveis. Ela tem uma abordagem multidisciplinar da violência, é disso que a gente precisa e é isso que a gente não tem”, fala a advogada Marina Ganzarolli, cofundadora da Rede Feminista de Juristas. Segundo a jurista, os problemas começam desde o momento da denúncia até a condenação dos réus e o amparo à vítima.Para Valéria Scarance, a agressão física nem sempre marca o início de uma relação abusiva.“Há outras formas de violência como xingamentos, o controle, o rebaixamento da pessoa, a violência sexual e até mesmo a patrimonial porque quando você trata desse contexto de gênero tem muita a ver essa finalidade da dominação e o controle da mulher”, explica a promotora.Portanto, não minimize a situação da mulher. Ela ainda pode não ter sofrido agressões físicas, mas está passando por uma situação tão violenta e desgastante quanto.
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Chame a polícia
Se mesmo assim houver uma omissão do policial, anote o número da placa da viatura e os dados dele e denuncie para o 180. “É importante que as pessoas reclamem do mau atendimento do agente público. Nem sempre uma denuncia anônima será investigada, mas se a viatura ou o policial for alvo de várias reclamações, as autoridades saberão que algo está errado”, aconselha a promotora.
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Não julgue
Não deixe ela se esquecer dela mesma
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Escute
Se mostre disponível
Reúna provas
Junte tudo que for possível. E-mails, mensagens de texto, fotografias de agressões (ainda que elas sejam antigas), boletins de ocorrência, testemunhas de agressões, relatórios médicos, filmagens do circuito de câmeras e etc. Tudo isso mostra a história de violência no relacionamento e ajuda no deferimento da medida.
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“Medidas protetivas estatisticamente salvam vidas”, defende Scarance. “Em um levamento que fizemos no Ministério Público, dos 364 casos que o órgão fez acusação formal de feminicídio, tentado ou consumado, só 3% delas tinham medidas protetivas. A conclusão que se chega é que quando o estado intervém o autor do crime não ataca a mulher com tanta gravidade. Se ele repetir a conduta pode ser detido em flagrante ou ter um mandado de prisão cumprido.”O que está levando essa mulher a não conseguir romper esse ciclo? É uma vulnerabilidade afetiva, emocional, econômica, social? Converse com ela sobre cursos, oportunidades de trabalho, o que couber para que ela possa se fortalecer. “Lembre a ela que o relacionamento dela não a define. Descubra o que ela gosta, do que ela precisa. É claro que ela precisa largar o cara, mas você não vai conseguir fazer isso por ela. Um elogio, às vezes, resolve,” diz a advogada.Também procure passar para a mulher sua completa ausência de culpa perante a situação. “É muito importante que não culpem a mulher e que ela também saiba que não é responsável por tudo isso”, complementa Scarance.Marque um horário para a vítima numa psicóloga, agende um encontro com uma advogada, diga que quer companhia para uma sessão terapia em grupo e a leve junto. “Uma das consequências pouco faladas da violência doméstica é o suicídio. Essa mulher está em profunda vulnerabilidade mental e, por mais que a ajude, você não é psicóloga. É preciso uma ajuda profissional, mas talvez ela precise da sua ajuda para pedi-la,” afirma Ganzarolli.Para além do apoio emocional, há também caminhos institucionais onde a mulher pode procurar para se reerguer. “Procure uma rede de atendimento especializada como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ou os Centros de Referência de Atendimento às Mulheres (CREAM) que são orientados a receber uma mulher que sofre violência”, indica a promotora.Para denunciar anonimamente situações de violência doméstica ligue para a Central de Atendimento à Mulher no 180. É importante apresentar o máximo de detalhes para a polícia prestar ajuda como dar o endereço, nome, apelido, horário e descrever a situação que a vítima se encontra.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.