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Entretenimento

Todo tipo de pessoa que você seguia no Snapchat

Diga com quem andas que eu te direi se vou junto.
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Foto via @charlotte.simons

Matéria publicada originalmente na VICE Holanda.

Se os anos 90 são famosos por alguma coisa, é pelos pais do mundo gravando cada coisinha que acontecia com aquelas filmadoras gigantes. Eles deram zoom nos primeiros passos dos rebentos — um material relevante mesmo — mas depois que a novidade das crianças andando com as próprias pernas passava, ele gravavam incontáveis horas de férias em família, peças na escola, visitas à casa da avó e muitas paisagens. Horas e horas de material que ninguém nunca vai assistir de novo. Se os anos 2010 vão ficar conhecidos por alguma coisa, vai ser pelos jovens documentando praticamente tudo no Snapchat — do cocô matinal até o próprio casamento. Horas e horas de material que vai ser deletado em 24 horas (graças a Deus). Quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas. Todo mundo é o pai da filmadora agora.

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Hoje, o Snapchat não é mais domínio apenas dos adolescentes, e já que pais, tios e tias estão entrando nesse mundo para estragar o rolê, vamos tirar um momento para revisar o tipo de pessoas que você provavelmente segue no Snapchat.

A mina reality show próprio

Essa amiga vê o Snapchat como um jeito barato e fácil de produzir seu próprio reality. Ela mostra cada aspecto da vida dela falando com a câmera do celular. Na cama, no sofá ou no caminho pro trabalho — ela está lá para dizer como as coisas vão indo e como ela se sente. Não seja muito duro com ela — a transmissão moderna da vida é difícil é não perdoa ninguém. Os únicos que sobrevivem são os astros de reality calejados, gente de pele laranja, unha postiça e sempre pronta pra discutir qualquer drama que eles mesmos criaram na forma de uma cabeça falante.

Nessa paisagem, pode ser duro lembrar que se você tem tempo de documentar e analisar sua vida nos mínimos detalhes, é muito provável que você não vive tanto assim. Quando essa mina não está transmitindo pelo Snapchat, não está acontecendo nada. A autodocumentação é a única forma de viver que ela conhece. Se ela não está filmando sua vida, a vida literalmente não está acontecendo. Mas deixa ela, né — sem o Snapchat, talvez ela estivesse num prédio especial para pessoas que sofreram uma crise existencial irreparável.

O cara que manda snaps privados pra você porque acha que é assim que o Snapchat funciona

Receber um snap privado pode iluminar o seu dia. Uma piada interna bem-vinda que você compartilha com um amigo, um mamilo tampado com um emoji sorridente apenas para seus olhos — isso é muito legal quando bem feito. Quando a notificação aparece na sua tela, tudo em volta se ilumina. Mas uma mensagem do irmão da sua roommate só para você? O que diabos pode ser? O que isso pode significar? Alguma coisa fez ele lembrar de você? Ele quer se aproximar? Você lembra de repente que ele riu demais das suas piadas daquela única vez em que vocês se falaram. Um arrepio gelado corre pelas suas costas. Você não gosta dele — não desse jeito; ele é um cara legal mas meio sem graça. Bom, é legal quando alguém te nota. Você limpa a garganta, abre o aplicativo e sente uma sensação estranha no estômago. E não é nervosismo, por que seria?

É só uma foto meio borrada de um cozido que o irmão da sua colega de apartamento está preparando. Ele não entendeu o que significa "Minha História" ainda, então ele só clica nas caixas do lado dos nomes na lista. Ele é tão sem graça quanto você suspeitava naquela noite que você falou com ele rapidamente. Você devia aprender a confiar mais nos seus instintos.

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Foto via usuária do Flickr SurFeRGiRL30.

O adolescente

Tem um velho meme racista da internet que diz que não importa quão bem você faça alguma coisa, tem sempre um moleque asiático que faz melhor. Mas a verdade universal é que não importa quão bom você é no Snapchat, os adolescentes sempre vão ser melhores. Todos os adolescentes. Sempre. Não tente superar os jovens no Snapchat — você não vai conseguir e ainda vai pagar de velho patético. Faz o que você sabe fazer mesmo e lembre sempre que você tem o direito de votar, que você pode transar sem ter medo dos seus pais chegarem e nunca mais vai precisar sentar numa classe para resolver uma equação de segundo grau.

A mina do cross trainer que adora o filtro de cachorrinho

Outra verdade universal é que você sempre vai seguir uma mina cuja rotina diária é: 1) ela vai postar a foto da tela do cross trainer mostrando os quilômetros que ela correu, acompanhada da legenda "work work work work work work" e 2) ela vai postar uma selfie com o filtro de cachorrinho porque acha que fica fofa e parece engraçada quando faz isso. E ela fica fofa mesmo — o maldito filtro de cachorrinho faz todo mundo parecer fofo — mas essa é uma das fofuras mais baixas e básicas do mundo.

Essa mina passa a vida inteira na fila do mercadinho de orgânicos, pensando em iogurte. Essa mina assistiu a todos os episódios de Drag Race, mas não entendeu direito. Ela não é nosso tipo de pessoa. Não se deixe enganar pela fofura canina dela.

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O cara que só está tentando entender a porra toda

Gente que acabou de descobrir o Snapchat são as melhores pessoas para seguir. Esse cara usa o filtro de cachorrinho tanto quanto a mina do cross trainer, mas se ela já devia ter se mancado, esse cara só fica imaginando, maravilhado, que porra de magia negra é essa.

Ele ri de chorar fazendo o face swapping (o que estraga o face swap, mas faz o snap ser ainda melhor) e experimenta todos os filtros com a mesma paixão. Deixe a empolgação desenfreada dele com esse pequeno aplicativo aquecer seu coração gelado. Especialmente se a pessoa tem mais de 40 anos, porque não tem nada mais fofo que gente velha embasbacada com as novas tecnologias.

O cara que vê o Snapchat como um jeito de deslanchar sua carreira de stand-up

A beleza do Snapchat é que esse é um meio espontâneo e sem restrições, mas todas as tentativas desse cara parecem forçadas. Ele acha uma música que combina com cada vídeo que faz — o timing é tão perfeito que ele só pode ter levado horas para fazer direito. Ele fala consigo mesmo para a câmera com uma voz estranha e tem umas piadas próprias que ele sempre repete para os fãs.

Mesmo sendo técnico de informática, ele sempre sonhou em ser comediante, e ele vê essa dedicação em postar vídeos engraçados no Snapchat como pelo menos um passo para conseguir um show de stand-up. E talvez ele tenha razão. Não fique feliz porque atingimos o fim de uma era na qual tuiteiros nem tão engraçados assim escreviam livros e séries de TV fracassadas, os snapeiros vêm aí.

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A entusiasta despretensiosa

O vídeo da colega de apartamento dela cortando um pepino com um emoji enorme de berinjela em algum lugar da tela. A entrada de um prédio em close. Uma volta pelo supermercado em alta velocidade.

Essa mina vai te colocar à beira de uma crise existencial com apenas alguns vídeos por dia. Eles são tão vazios de qualquer significado ou pretensão que você não consegue deixar de pensar: "O que eu estou procurando aqui?"; "Realmente preciso de propósito e significado em todos os snaps que vejo?"; "Quem sou eu pra julgar se alguém quis dizer alguma coisa?"; "Quem sou eu?"; "QUEM SOU EU?"

A mina que quer que você saiba que ela foi no show de uma banda relevante

Os snaps dessa mina são um fluxo infinito de fotos e vídeos feitos numa antiga fábrica transformada em casa de shows/microcervejaria, que só recebe bandas com nomes que tenham mais de quatro palavras. Você sabe que ela foi a um festival quando ela começa a compartilhar vídeo atrás de vídeo do que parece ser uma luz distante no final de um túnel, mas que provavelmente é um artista extremamente relevante num palco lá longe. Ela vai deixar bem claro qual artista relevante ela está assistindo com um eficiente "FLORENCE AND THE MACHINEEEE [emoji de coração]" ou "CRIOLOOOOOOW!! [emojis de notas musicais]".

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Foto via conta do Snapchat do Noisey Holanda.

A mina que usa o Snapchat como espelho

Essa garota usa o Snapchat principalmente para arrumar o cabelo ou ver se não está com batom no dente — e se não estiver, ela grava um vídeo rápido com o filtro de anjo ou outro filtro da moda para dar um tchã. O vídeo é acrescentado ao histórico dela, e o mundo pode respirar aliviado sabendo que a Samanta continua gatinha. É uma prática preguiçosa, mas eficiente. Estando linda, você não precisa de mais nada para entreter, então por que perder tempo pensando em alguma piada que será perdida e esquecida em algumas horas? No tempo que a Samanta economiza não tendo que pensar no que vai postar, ela faz algo que realmente importa, algo que você e sua cara de bosta não fazem faz tempo. Tipo realmente se conectar com as pessoas em volta.

O early adopter

O early adopter é sempre o primeiro a descobrir um novo filtro. É um mistério como ele sempre faz isso — talvez ele fique atualizando o app o dia inteiro, ou fica sabendo antes porque conhece alguém do Snapchat. Ele parece o tipo de cara que pagaria por um aplicativo grátis como o Snapchat, só para poder dizer que tem uma conta premium. É patético, mas também é muito prático: você nunca ia passar do filtro de cachorrinho se não soubesse que tem filtros novos, graças a esse cara.

O cara que aproveita ao máximo o fato de que os snaps ficam pouco tempo no mundo

Essa pessoa se resume a um snap que ele sempre posta: um vídeo do cocô que ele acabou de fazer. O vídeo está lá, e logo ele vai sumir. Então por que não filmar sua bosta? Esse vídeo é a essência dele, e pode ser a essência do Snapchat em geral, mas ainda é cedo para dizer.

O basicão inofensivo

Esse usuário é parecido com a mina despretensiosa, mas há um mundo de diferenças. Esse cara quer entreter seus seguidores, mas parece que ele não tem muita coisa com que trabalhar. Ele está comendo uma salada de lentilha caseira num dia ensolarado no parque com os amigos, ele está lutando pra carregar um sofá pesado que ele comprou de alguma tia na internet, uma colega de trabalho derrubou café na roupa e ele está filmando as tentativas dela de se limpar. É a vida dele, tudo bem. Não é um vídeo eletrizante, mas também não é horrivelmente chato. Tudo bem. Ele é o cara da salada de lentilha do Snapchat. E tudo bem — tudo bem.

Tradução: Marina Schnoor

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