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Entrevista

Jogo com os Sensible Soccers

Com calçado confortável para não fazer bolha.

Parece que foi ontem que estiveram na ASA e já estão novamente de volta na Primavera vimaranense, para um show de bola. Este derby (com eles próprios) tem início logo no primeiro dia às 20H30 no café do Centro Cultural Vila Flor, por onde também já passaram. Prometem um jogo limpo, com uma táctica de contra-ataque e garantem que os prognósticos serão todos dados no final. Para já, deixam-nos uma mixtape, em jeito de aquecimento.

VICE: Ainda há pouco tempo, os Sensible Soccers eram uns meninos e agora já andam a tocar em tudo o que é sítio. Como é que isso aconteceu?
Filipe Azevedo: Continuamos uns meninos. Tem sido agradável.
Emanuel Botelho: Nós tocamos em todo o lado, precisamente porque continuamos a ser uns meninos. Mas sim, tem sido agradável. Às vezes, também é cansativo e frustrante, mas isso também serve para aprendermos a ser menos meninos.
Hugo Gomes: Tem sido bom. Era o que queríamos e que queremos que continue a acontecer. Têm um percurso traçado, uma táctica de jogo, ou estão numa de deixar andar? Onde é suposto estarem daqui a um ano, por exemplo?
Filipe: É suposto estarmos um ano mais velhos, por exemplo.
Emanuel: Vamos tentando planear as coisas na medida do possível, mas estamos sempre a reajustar o calendário à medida das necessidades, e vamos tentando trabalhar sem pressões. Mas gostamos muito de perder tempo a teorizar e a conceptualizar acerca de edições futuras, por exemplo.
Hugo: Temos de planear, acima de tudo, porque trabalhamos com pouquísimo dinheiro e queremos fazer tudo muito bem feito. Por exemplo, a Guimarães já é a terceira visita em pouco mais de um ano. Regressam agora para o primeiro dia do Primavera. É como jogar na primeira liga?
Emanuel: É mais como jogar na 2.ª B, mas ir aos quartos de final da taça e sair uma equipa boa da 1.ª Liga no sorteio.
Hugo: É claro que é um orgulho estar presente no cartaz do Primavera Club, ao lado de nomes como os que lá estão. Isso diz-nos que estamos no bom caminho. Vai ser necessário ir de chuteiras ao concerto?   
Filipe: Basta sapatilhas. É treino físico.
Hugo: Não. É preferível levar um calçado mais confortável, um daqueles que não faça bolha. Para além de tocarem, vêm cá espreitar alguma banda em especial?
Emanuel: Vamos todos de mãos dadas ver Tinariwen.
Hugo: Tinariwen e rever o Ariel Pink.
Emanuel: Também quero ver Destroyer e Robag Wruhme, já agora. Estou tão habituado a ter pouco dinheiro que nem me lembrava que bastava olhar para os nomes do cartaz e escolher… O que é isto que o Né tem nas mãos, na foto?
Filipe: Soccer balls.
Hugo: É um prato chamado Soccer Balls, conceptualizado pelo Chef Rø. Um amigo e cozinheiro fantástico que nos fez essa deliciosa homenagem.
Emanuel: As Soccer Balls surgiram no contexto do Circular (Festival de Artes Performativas de Vila do Conde), no qual participámos este ano com um concerto na abertura do festival. O Rogério Nuno Costa foi o chef convidado pela organização para preparar as refeições durante o festival e criou pratos temáticos para os artistas. A nós, calharam-nos as deliciosas Soccer Balls, que são bolinhas de alheira com passas. Na vossa descrição dizem que são um quarteto que pratica um futebol muito sensível, muito meigo e com muito carinho. Não sei que pensar disso, mas soa bem.
Hugo: Isso é o ínicio das metáforas futebolísticas que, de um momento para o outro, se tornaram muito exageradas e, por vezes, chatas.
Emanuel: Um dia destes, vamos mudar isso. Podemos pôr antes que somos um quarteto com uma imensa falta de jeito para entrevistas, por exemplo. Ou que somos clientes gold do Burger King da área de serviço de Mindelo (Vila do Conde).
Hugo: Podemos pôr que somos um quarteto sem tatuagens. Também acho piada à forma como definem a vossa música no Facebook. “Diversificada”, isso já me faz lembrar aquele pessoal que diz que gosta de “todos os tipos de música”, o que normalmente não é uma coisa boa… Sejam mais concretos definindo a vossa música.
Filipe: A nossa música é concretamente diversificada. Gostamos de todo o tipo de música, de passear na praia, de ir ao cinema e de estar com os amigos.
Hugo: Uma vez, em Coimbra, assaltaram-me o carro e roubaram-me meia dúzia de CDs. Ao apontar a queixa  um agente da PSP criou esse novo género musical com o qual nos identificamos.
Emanuel: Levaram-te aquele portátil mítico que dava para jogar PES no carro, porque o ecrã dobrava a 180 graus. Por que é que agora os ecrãs dos portáteis não dobram a 180 graus?
Hugo: Esse mesmo, Emanuel. E roubaram-me CDs de música diversificada, como te deves lembrar. Deram o nome de mulher mais feio do mundo a uma música: Fernanda. Quem é a Fernanda?
Filipe: Mas não é Adriana?
Hugo: Não é a Serrano, nem nenhuma celebridade, nem tão pouco uma piadinha.
Emanuel: Já explicámos demasiadas vezes que esse é o nosso segredo. Não podemos revelá-lo, senão a voz tira-nos o dinheiro todo. Quando não estão a tocar, estão a jogar futebol? São dados ao desporto? De que clube de futebol são os SS?
Filipe: Somos todos da Associção Cultural Desportiva e Recreativa de Fornelo.
Hugo: Quando não estamos a tocar, estamos a fazer coisas que nos permitem continuar a tocar…
Emanuel: Temos um carinho colectivo muito grande pelo Rio Ave. Não trazemos para o seio da banda as preferências clubísticas individuais, para não se criar mau ambiente. Falem-me da vossa discografia.
Hugo: É a melhor de todas as que temos.
Emanuel: Ainda é muito pouca coisa por agora. Dois EPs, com seis temas no total e mais meia dúzia de temas em compilações variadas. O mais recente saíu há dias, na compilação comemorativa dos dez anos do bodyspace.net e é uma colaboração com o nosso querido Blac Koyote. Mas as músicas novas que temos para gravar são muito melhores do que tudo isso. E as que ainda não fizemos são muito melhores do que estas novas. Alguma vez se chatearam por causa de futebol?
Filipe: Estamos sempre chateados.
Hugo: Sim. Para descomprimir.
Emanuel: Estamos sempre chateados com tudo. Somos extremamente picuinhas. Tirando o Maradona e o Ronaldo, que outras referências têm?
Hugo: O Maradona é porreiro e o Ronaldo não é referência para ninguém. E, com todo o respeito, as nossas referências são opostas a esta nova cultura pairante de ilusionismo para cachopos.
Emanuel: Ei, eu tinha metido aqui o Ricardo Nascimento! Fui censurado? O que é que vem a ser isto? Como anda a música em Portugal? Dá para viver da música? Para além de músicos, fazem mais alguma coisa?
Emanuel: Ui, se dá.
Hugo: A música anda bem. Não dá para viver de rigorosamente nada. Fazemos muitas coisas…
Emanuel: A música anda bem, precisamente por haver tanta gente a aperceber-se de que não dá para viver muito bem dela. Oficialmente, nós somos todos desempregados, para além da actividade musical. Fazemos, por fora, uns biscates de que não nos orgulhamos muito. Não quero falar sobre isso.