Parecia filme de terror. Prateleiras cheias de despachos, velas de diversas cores, parafinas moldadas em formato de órgãos humanos, caveiras, boneca com alfinetes espetados, imagens de exus e um solitário sapo mergulhado em um pote de formol com a boca meticulosamente costurada. Tudo isso em uma salinha localizada no subsolo da casa que abriga o Instituto Padre Quevedo de Parapsicologia (IPQ).O instituto segue os ensinamentos católicos e foi comprado dos jesuítas para dar continuidade aos trabalhos do polêmico padre Quevedo, aposentado desde 2012. Embora muitos de nós só conheçamos o padre graças às suas participações em programas da televisão aberta ou à treta que ele teve com o INRI Cristo durante o debate no Ratinho, Quevedo é um grande estudioso de parapsicologia e autor de 17 livros abordando temas como demonologia, curandeirismo e espíritos.
Publicidade
Praticamente todos os milhares de objetos no local são pertencentes às religiões afro-brasileiras como a umbanda e o candomblé. Uma das poucas referências católicas é uma prateleira reservada para estátuas de santos ou da própria Virgem Maria. A superstição é que essas imagens não podem ser jogadas fora, especialmente se forem danificadas.Além do museu, o instituto também pretende montar um canto homenageando Quevedo e também abrir uma seção sobre mágica e ilusionismo.Parapsicóloga e coordenadora do IPQ , Márcia Corbêro conta que os objetos foram coletados nos últimos 15 anos durante as pesquisas de campo dos parapsicólogos. Muitas vezes, os próprios circulavam pelas cidades onde ministravam palestras sobre o tema buscando a próxima oferenda ou o feitiço deixados em alguma encruzilhada.Alguns artefatos também foram retirados de casas mal-assombradas para onde os estudiosos eram chamados a fim de analisar os eventos paranormais. Porém nada abala os parapsicólogos do instituto, que já estão acostumados a desmascarar farsas ou explicar o que parece inexplicável.Na minha primeira visita, o museu estava na fase de arranjos finais e a encarregada por toda a organização, Tamara Bueno, estava tirando pó de cada objeto junto com uma moça que se apresentou como diarista. Tamara tocava nos objetos com naturalidade e os mostrava divertidamente para mim."Olha isso aqui", ela põe em meu alcance uma caixinha repleta de bonecas com as mãos atadas e alfinetes perfurando seus corpos. Antes de comentar sobre a caixa, um alfinete espetou o dedo dela, que não pareceu se abalar com isso. Só me restou olhar nervosamente para a faxineira, que não parecia muito feliz com a situação toda de limpar objetos usados em oferendas.
Publicidade
Corbêro nos acompanhou durante a segunda visita ao instituto quando o museu finalmente foi finalizado. "Nós colocamos os vidros nas prateleiras para receber visitas guiadas de escolas", explicou, orgulhosa. "É interessante mostrar como são as superstições brasileiras. " O IPQ não reconhece que o sincretismo seja uma religião.Se você quiser saber mais sobre a história do Instituto Padre Quevedo, não deixe de ler a reportagem do MOTHERBOARD.Veja mais fotos do Guilherme Santana aqui.