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Nova York É o Estado mais Corrupto dos EUA?

Os moradores do Estado começaram 2015 sob uma nuvem de investigação federal com um dos homens mais poderosos da Assembleia Estadual respondendo uma investigação federal e com a renúncia de um congressista por conta de uma acusação de evasão fiscal.

Como quase qualquer outro ano do governo norte-americano, 2014 verteu imundícies. Tivemos os McDonnells da Virgínia, em que tanto (o ex-governador) Bob quanto sua esposa, Maureen, foram sentenciados em setembro ao que pode ser uma década na cadeia por 11 acusações de corrupção. Antes disso, tivemos a decisão da Suprema Corte no caso McCutcheon versus FEC, permitindo às eleições intercalares norte-americanas do ano passado o abastecimento de ainda mais dinheiro duvidoso que o da eleição presidencial passada. Ah… e, em Nova Jersey, assessores do governador Chris Christie fecharam pistas de uma rodovia local para se vingar de um rival, um incidente apelidado carinhosamente de Bridgegate.

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A merda ficou tão séria que até o escritório do Departamento de Assuntos dos Veteranos (uma agência que tenta ajudar ex-soldados a sobreviver depois de retornar para casa) viu-se atingido pela possibilidade de comportamento suspeito.

Mesmo assim, a Transparência Internacional, uma coalizão global anticorrupção, colocou neste ano os EUA em 17º lugar entre os 175 países listados, uma posição um pouco mais suja que Canadá, Austrália e um punhado de países escandinavos.

Talvez eles devessem passar mais tempo em Nova York.

Os moradores do Estado começaram 2015 com o governador, Andrew Cuomo, sob uma nuvem de investigação federal. O porta-voz da Assembleia Estadual, Sheldon Silver, enfrenta agora uma investigação federal própria; além disso, o representante de Staten Island Michael Grimm, um dos congressistas novaiorquinos mais conhecidos, anunciou sua renúncia no final do ano depois de se declarar culpado de uma acusação de evasão fiscal. Como me disse Dick Dadey, presidente da Citizens Union Foudation, um grupo a favor da boa governança e sem fins lucrativos: "Em 2014, tivemos um recorde de renúncias de oficiais estaduais indiciados por corrupção ou assuntos ligados à corrupção".

Parece que, para qualquer lado que você olhe, algum oficial eleito de Nova York fez alguma coisa escusa, ou, pelo menos, está sendo acusado disso. Aqui vai um resumo do que você precisa saber sobre aquele que pode ser o lugar mais desonesto dos EUA.

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Vamos começar com a humilhação mais recente: Sheldon Silver, o político de 70 anos que ocupa a posição de porta-voz da assembleia de Albany desde 1994, está sendo investigado pelos federais. Por quê? Porque ele controla um escritório que tem uma influência tremenda sobre toda lei que passa por aprovação, muitas delas permitindo enormes créditos imobiliários. De acordo com o New York Times, o procurador Preet Bharara descobriu que Silver (que também é advogado) recebeu pagamentos externos não registrados de uma firma de advocacia da Baixa Manhattan, a Goldberg &Iryami. E acontece que a Goldberg &Iryami é especialista em redução de taxas para imóveis comerciais e residenciais, o que significa que uma relação com Silver poderia ser altamente vantajosa.

Os únicos dois advogados da firma contribuíram em peso em campanhas de Silver no passado, mas a promotoria norte-americana afirmou que possui provas de quantias "substanciais" entregues a Silver por baixo dos panos. Nesse caso, os números mais gritantes estão na discrepância das declarações fiscais do porta-voz no ano de 2013: o salário do cargo é de US$ 121 mil, mas o político recebeu US$ 650 mil adicionais naquele ano. Quando, no começo de dezembro, foi pressionado para comentar o caso, Silver se recusou a revelar a fonte do dinheiro, dizendo que a soma era referente a um "trabalho não jurídico" para sua firma de direito particular.

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Quando abordei John Kaehny, chefe do Reinvent Albany, um grupo de transparência e prestação de contas, ele me respondeu por e-mail com a seguinte linha de assunto: "ligue hoje: corrupção em Albany". Pelo telefone, ele me falou que a parte mais chocante da situação de Silver é a facilidade com que ele se safou da situação. Em grande parte, esse comportamento é protegido pela lei.

"O verdadeiro escândalo é o que é legal: pagar para participar se tornou um passatempo em Albany, com contribuições se transformando em ações" frisou Kaehny. "Em três ou quatro discursos nos últimos dois anos, o procurador Preet Bharara disse que fica pasmo que isso seja legal."

Dito isso, Kaehny elogiou a investigação sobre Silver, mas destacou que os fluxos de renda externa são uma gota no oceano no Capitólio Estadual. Dadey, da Citizens Union, concorda.

"Nossas leis são muito fracas quando se trata de supervisão ética, e isso permite que esses abusos aconteçam", ele me disse. "Como resultado, temos de confiar em forças externas, como a procuradoria dos EUA." (Vale mencionar que Bharara já está ocupado atualmente com o inferno que é o complexo penitenciário Rikers Island.)

"Mesmo que a investigação sobre Silver não dê em nada", continuou Dadey, "isso ainda pode fornecer uma oportunidade de continuar a fortalecer as leis sobre renda externa para o governo de Albany".

Muito disso se deve à extraordinária concentração de riqueza em Nova York, o que resulta em grande parte na posição do Estado como peso-pesado cultural e financeiro. Em outras palavras, grandes negócios – especialmente na cidade de Nova York – exigem grandes pagamentos para políticos locais. Kaehny mencionou os subsídios gigantescos que as indústrias de cinema e televisão recebem como parte do sistema "opaco" local que tem levado o Estado ao fundo do poço.

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"Não sabemos quem está recebendo isenções de impostos. Não sabemos quem faz contribuições para quem", ele me falou. "Quem escolhe o vencedor? E por que eles vencem? Não sabemos. Isso reflete uma cultura em Albany que não mudou, que ainda está atolado em corrupção."

Isso diz muito sobre o Estado onde uma investigação inevitavelmente leva a outra. A investigação contra Silver nunca aconteceria se Bharara já não estivesse investigando acordos escusos de outro político – nesse caso, o governador de Nova York, Andrew Cuomo.

Quando Cuomo foi eleito em 2010, ele surfava numa onda de sentimento anticorrupção, dizendo aos eleitores que limparia Albany. Ele até convocou a Comissão Moreland, um painel anticorrupção com poder de intimação, que ele esperava ser um farol para iluminar a sombria política do Estado de Nova York. O slogan do grupo? "Restaurando a Confiança do Público." Mas aí, do nada, Cuomo rejeitou a comissão neste verão, afirmando que sua missão estava cumprida.

Um dos principais campos de investigação da comissão antes de ser fechada: renda externa, como o dinheiro extra de Silver.

A morte prematura do painel é agora o centro de uma investigação federal, especialmente depois da descoberta de que a Comissão Moreland tinha voltado os olhos para Cuomo e seu escritório. Num período de três meses, o New York Times investigou vários casos nos quais assessores de Cuomo tiraram da tomada inquéritos que chegariam muito perto dos chefões. Incluindo firmas de mídia e magnatas imobiliários, alguns deles grandes doadores da campanha de reeleição de Cuomo e do Partido Democrata do Estado, cujo escritório é controlado por pelo governador.

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De um jeito muito nixoniano, Cuomo respondeu à investigação do Times dizendo: "Uma comissão apontada e administrada pelo executivo não pode investigar o executivo. É um conflito de interesses e não passaria no teste do riso".

Isso nos leva de volta à mãe de todas as indústrias de Nova York: a indústria imobiliária. Por exemplo, Gary Barnett, CEO da ExTell Development. Alguns meses antes de um incentivo fiscal conhecido como 421° ser renovado e assinado por Cuomo, Barnett, sua família e algumas empresas de fachada associadas doaram centenas de milhares de dólares para a campanha do governador e do Partido Democrata. Logo depois, o projeto One57, um condomínio de 90 andarem em Manhattan, recebeu o incentivo, e Barnett poupou US$ 35 milhões.

A Comissão Moreland começou a investigar, mas foi podada antes que qualquer pergunta fosse respondida.

Por essa mesma razão, argumentou Kaehny, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, ainda não aprovou sua proposta pied-à-terre, que taxaria bilionários estrangeiros, oligarcas e qualquer um que possua uma dessas propriedades exorbitantes que surgem no mercado imobiliário. Hoje, leis municipais permitem que os ricos morem na cidade sem pagar impostos se ficarem por um ano inteiro (essa é a definição de pied-à-terre: uma casa longe de casa). Isso mudaria pelo plano de Blasio e, como resultado, geraria milhões para os cofres da cidade.

"A ONU diz que Nova York e Londres estão no centro da lavagem de dinheiro global – toda essa lavagem vaza nos sistemas políticos locais", argumentou Kaehny. "De Blasio disse que 'a política vai contra' essa taxa. Bom, sim, a política vai contra, porque a indústria imobiliária controla Albany."

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Falando em evitar taxas, vamos para a estrela final de sordidez de 2014: o congressista Michael Grimm. O republicano de Staten Island chegou às manchetes alguns meses atrás por ameaçar jogar um repórter da TV local pela "maldita sacada" e "te quebrar no meio… como um moleque". (Assista ao vídeo aqui.) Foi revelado mais tarde que Grimm está sendo investigado por apresentar uma declaração fiscal falsa, supostamente escondendo um milhão de dólares recebidos de um restaurante de comida saudável de Manhattan.

Sabe-se lá por que, os eleitores de StatenIsland reelegeram o cara em novembro; mas, na semana passada, ele anunciou que iria renunciar ao Congresso uma semana depois de se declarar culpado das acusações. Grimm pode pegar até três anos de prisão. "Tomei essa decisão com o coração pesado, já que tenho uma relação muito especial e próxima com meus eleitores, com quem me importo muito", ele pontuou em sua declaração. (Ah, e adivinhe quem está pensando em substituí-lo: o procurador de Staten Island Dan Donavan, que supervisionou o júri que inocentou o policial responsável pelo sufocamento de Eric Garner, em julho.)

Tornando as coisas ainda mais flagrantes, recentemente ocorreu o veto à reforma na lei da Autoridade Portuária pelo governador Cuomo e pelo governador de Nova Jersey, Chris Christie (ambos comandam a Autoridade Portuária interestadual juntos). Esse é o corpo embrulhado no escândalo Bridgegate, e os dois estão sob investigação do governo dos EUA de um jeito ou de outro. O que aparentemente é uma licença para que eles se juntem.

"Isso vai mudar?", perguntou Kaehny, repetindo minha própria pergunta. "Não há nenhum sinal de que vai."

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