FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Discos: Elise Mélinand

Tudo é muito bonito e muito mágico, mas parece vindo de um pacote de preparação instantânea.

Gray Hoodie

N5MD

Nesta vida de melómano notamos que há discos que sofrem pelo seu desencaixe temporal, outros que ganham valor.

Gray Hoodie

, disco de estreia da cantora e compositora francesa Elise Mélinand, cai (quase orgulhamente, dir-se-ia) na primeira categoria. Talvez com cerca de 15 anos de recuo, altura em que a vaga pop nórdica composta por Stina Nordemstan, Sigur Rós ou Múm fazia furor, Mélinand conseguisse obter um grau de seriedade diferente (independentemente da qualidade do resto). Mais não seja pelo simples facto de não soar como um sucedâneo infinito de tantas outras derivações delico-doces que figurariam num romance indie em tons de sépia. Maus timmings todos temos, pelos menos uma vez na vida, mas esta francesinha parece querer levar demasiado a sério a posição imaculada de menina em plena síndrome de Peter Pan. Na sua mente, bailam bolinhas de sabão, irradia sol da ponta dos seus dedos e avistam-se unicórnios em câmara lenta ao fundo de uma floresta. Tudo é muito bonito e muito mágico, mas parece vindo de um pacote de preparação instantânea onde apenas basta juntar uma porção de água da torneira.

Publicidade

Pousando, em jeito de abelhinha de flor em flor, ora em flocos de trip hop, ora em pózinhos de electrónica ambiental inconsequente,

Gray Hoodie

 não traz canções assumidamente más, ao ponto da repugnância. Consegue, no entanto, uma proeza indesejável, bem pior que isso: conferir um enorme toque de vulgaridade a cada uma delas. Certamente o último efeito que ela desejaria transmitir. E entre trajeitos de voz, cordas em pizzicato e blips & blops digitais a envolverem notas harmoniosas de piano, a fábula desenrola-se em redor de si mesma enquanto, quem está de fora da película, busca algum consolo num pacote de batatas fritas — e com sorte, também algum brinde para entreter.

As boas intenções aqui presentes não são suficientes para pegar nisto de outro modo. Numa liga feminina onde Lykke Li, Taken by Trees ou El Perro del Mar vão marcando golos movendo seguidores, o lugar de Elise Mélinand nos próximos tempos será mesmo no banco de suplentes. Melhores dias virão, quem sabe.