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Milhões de Festa

Cinco dias de Milhões de Festa

O resumo que te faltava.

Falar sobre festivais hoje em dia é falar sobre tudo e sobre nada: há os pequenos, os médios e os grandes. Há festivais para metaleiros, para punks e para hipsters. Há festivais que primam pelos grandes nomes, bandas que vais querer dizer que viste em conversa no pátio da faculdade, e outros com cartazes tão obscuros que quando mencionados não valem mais que um franzir de sobrancelhas ou um olhar vazio. Há os bons e há os maus, mas entre os bons aqueles que nos marcam realmente, os que nos ficam entranhados, são aqueles em que a visão de todos os que por eles suam e trabalham aparece diante de nós, clara e cristalina, como se tivesse sido escrita em todas as pedras do recinto e, no final, toda a gente sabe, toda a gente percebe porque está ali e porque é importante que ali tenha estado. O Milhões de Festa é um destes festivais. De cinco dias em Barcelos, o primeiro foi passado no Xispes, o famoso bar dos panados num dia -1 não-oficial organizado pela Favela Discos, que acabou com uma queixa de ruído recebida com insultos à polícia que culminaram em quatro detenções, não fosse o Xispes lar de uma subversiva cena musical minhota. Durante os restante quatro foi acontecendo de tudo um pouco, desde bailaricos na piscina entre mergulhos, cocktails e dançarinas, refeições minhotas bem regadas durante alguns dos concertos mais fixes do festival num palco à beira-rio. Houve também uma big band a tocar num castelo e outra ainda maior a tocar com um dos seus ídolos numa casa algures no meio da cidade — concerto que a polícia decidiu interromper de novo a segundos do final. Houve bandas que juraram voltar de graça para o ano, conversas matinais no campismo na companhia dos patos, um bar self-service abandonado descoberto nos últimos minutos do festival, after-hours meio manhosos num dos bares da cidade e Earthless, os cabeças de cartaz, a dançarem no palco ao som de DJ Niggafox. Bem, se estás num festival em que a maior banda acaba a dançar em cima do palco ao som do último DJ, a tua noite só pode ter corrido bem. No que toca a concertos sobram boas memórias de Putnam was the Bastard (nada como noise para receber festivaleiros) de Ghettoven, que apesar de ainda precisar de uns ajustes não deixou de espantar, Guerrera, que puseram uma multidão ainda meia a dormir a abanar o capacete. Também Black Bombaim com Rodrigo Amado e Isaiah Mitchell nos deram a tarde como ganha, provando definitivamente que os barcelenses são uma instituição da música nacional, com polícia ou sem polícia, de Flamingods, Boogarins e das suas músicas doces, da folia africana de Jagwa Music e por fim do quarteto fantástico da Lovers & Lollypops: Sequin, Equations, Kilimanjaro e The Glockenwise. Verdadeiramente incríveis foram Soccer96, música electrónica para um gajo se sentir bem, Jambinai, que não fizeram nada por fazer esquecer o estereótipo de se associar olhos em bico em cima de um palco a boa música experimental, Sensible Soccers, num concerto para os seus em que não faltaram braços estendidos no ar, High On Fire, uma demonstração grandiosa de gesso, só apreciada devidamente com o pescoço em constante flexão, uns enormes Teeth Of The Sea, que propiciaram uma derrapagem acidental pelas vias deste e de outros universos, The Comet Is Coming, nada mais nada menos que Soccer96 com a adição de um saxofonista, que vieram pegar na ponta que haviam deixado solta dois dias antes para dar o laço da melhor maneira. Por fim Earthless, que aliados a um técnico de luz claramente iluminado deram um dos espectáculos mais impressionantes que hei-de presenciar. Ficaram por ver Putan Club e Fumaça Preta, mas quem os viu diz que sou um nabo. Foram cinco dias, cinco dos melhores dias que o ano tem para oferecer, e a cada cumprimento correspondido com um sorriso notou-se bem que há algo especial no Milhões de Festa, uma alegria contida espelha-se a cada olhar e em cada canto, que vai desde o pessoal do bar aos membros das bandas, do público ao staff, e quando no fim de tudo, já depois da derradeira invasão ao palco, fui ter com o pessoal da organização, o ambiente era de celebração: afinal de contas, para o ano há mais.