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Drogas

Sexo sob efeito de canábis é melhor que sexo sob efeito de álcool?

O eterno debate continua. Tentamos explicar os pontos de vista de ambos os lados da barricada.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Tonic.

Duas das mais acessíveis e comuns drogas recreativas nos Estados Unidos [e já agora em muitos outros países do Mundo, Portugal incluído], o álcool e a canábis, conquistaram um lugar no coração de muitos, enquanto substâncias capazes de melhorar a experiência do sexo no geral.

A erva é considerada um afrodisíaco, o vinho desperta a libido e a cerveja potencia a tesão masculina. Já ouvimos de tudo, das investigações mais objectivas, às teorias mais rebuscadas. Mas, qual é a mais eficiente? Falei com alguns profissionais que estudam o comportamento humano, a sexualidade, o álcool e a canábis, para tentar saber mais sobre qual das substâncias aumenta realmente o nosso prazer durante o sexo.

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Vê também: "Mães e Canábis: o grande mercado inexplorado"


Equipa Erva

Talvez seja verdade que, a Costa Oeste, onde moro, seja o paraíso dos fumadores, mas, a verdade é que a canábis não comporta um grande risco de dependência e as pessoas desfrutam do seu consumo por boas razões. Desde o alívio de dores musculares, até à acção na melhoria de sintomas de várias doenças, como o Parkinson, por exemplo, os seus efeitos parecem ser claramente positivos.

Muitos teorizam também sobre os efeitos benéficos na melhoria do prazer sexual e, com a actual variedade de escolha no que diz respeito à sua forma de consumo, seja fumada, comida, ou aplicada através de lubrificantes, nunca foi tão fácil encontrar a forma ideal de apanhar a moca perfeita.

Cerca de metade das pessoas com quem falei mostraram-se a favor da utilização de canábis enquanto afrodisíaco, entre elas "The Cannasexual", de seu nome Ashley Manta, uma educadora sexual en escritora sobre temas relacionados com canábis. Tive de perguntar-lhe: "A erva é mesmo mais verde do lado da equipa marijuana?".

"O maior benefício de consumir canábis para o sexo é que pode ajudar a que as pessoas 'saiam das suas cabeças e 'entrem' nos seus corpos", diz a especialista. E acrescenta: "O maior problema que pode ocorrer é consumir-se demasiado". De acordo com Manta, a sobredosagem de THC potencia a ansiedade e até a paranóia, portanto cuidadinho.

Erich Goode, professor de Sociologia na Stonybrook University, tem olhado para este universo do comportamento sexual e consumo de drogas desde os anos 60, altura em que publicou um artigo baseado nos seus estudos, na entretanto defunta revista Evergreenmagazine. Mesmo nessa altura, as suas investigações descobriram que em 200 pessoas que participaram, 77 por cento dos consumidores mais frequentes, diziam que a canábis aumentava a excitação e 68 por cento garantiam que aumentava o prazer.

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"Na sua maioria, aqueles que gostavam, diziam que a droga os tornava mais desinibidos, permitindo-lhes tornarem-se mais sensíveis. Alguns diziam até que tinham mais ideias sexuais, quando praticavam sexo sob a influência de erva", explica Goode.

Enquanto beber e fumar podem estar de igual modo ligados a uma maior desinibição no que respeita aos comportamentos sexuais - ou, sob outro ponto de vista, uma maior imprudência -, é menos provável que assumas comportamentos de risco quando estás mocado, do que quando estás bêbado, salienta Matthew Wayne Johnson, professor associado de Psiquiatria e Ciências Comportamentais, na Johns Hopkins.

"Para mim, o problema com o sexo em estado de embriaguez é que, se estiver muito bêbado - o que acontece frequentemente -, vou fazer asneira".

E justifica: "Cerca de 30 ou 40 estudos, incluíndo investigações que publicámos, mostram convincentemente, de uma forma geral, que o álcool diminui a possibilidade da utilização de preservativo, em resposta a vários cenários de sexo casual. Há apenas um estudo que examinou o consumo de canábis através destes mesmos métodos e, na verdade, revela que o consumo de canábis levou a que as pessoas sentissem o sexo com um parceiro potencialmente de risco, bastante menos desejável, o que sugere uma diminuição de um comportamento de risco".

E porque é que isto acontece? Como muita gente sabe, um potencial efeito adverso de fumar erva é a paranoia. "Podemos especular que a canábis pode fazer com que algumas pessoas se sintam mais preocupadas com doenças sexualmente transmissíveis quando avançam para uma actividade sexual, em contraste com o álcool, que tem tendência a diminuir as preocupações sobre consequências negativas", explica Johnson.

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"Para mim, o problema com o sexo em estado de embriaguez é que, se estiver muito bêbado - o que acontece frequentemente -, vou fazer asneira. Se estiver com a moca e não demasiadamente estranho para que uma mulher ainda queira ir para a cama comigo, sinto-me bastante bem com a vida", diz Daniel*, de 27 anos. E acrescenta: "É sempre melhor que sexo com os copos. Nada de bom acontece depois de seis latas de cerveja e de uma mão cheia de shots de whiskey barato".

Equipa Copos

Nós adoramos partilhar convosco artigos sobre os "surpreendentes" benefícios do álcool, principalmente porque, lá no fundo, sabemos que, geralmente, é algo bastante terrível para os nossos corpos.

Encontrar alguém que, profissionalmente, defenda o consumo de álcool ligado à actividade sexual, não é tarefa fácil. Apesar disso, a mistura continua a ser claramente popular e não sem que haja boas razões para tal. Quando consumido moderadamente, o álcool tem efeitos sedativos que nos ajudam a relaxar e a desinibir, para o bem e para o mal, claro está. Por outro lado, é legal e está disponível em todo o lado.

"Duas bebidas é, talvez, o meu nível preferido de intoxicação para o sexo", revela Casey, 25 anos, de Brooklin, Nova Iorque. E acrescenta: "Especialmente quando é uma relação nova, ou um caso. Sinto-me mais à vontade, mais solta e acho que ambos abrimos um espaço para sermos um bocadinho mais kinky, ou menos preconceituosos". Mais que dois copos, no entanto, garante, as coisas podem ficar um bocadinho mais descuidadas. Tudo, mas com moderação, correcto?

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Ducky DooLittle – advogada especializada em violência e crimes de natureza sexual e uma sobrevivente ela própria de abuso sexual - defende alguns dos benefícios do álcool no que respeita à desinibição, mas frisa que não pode ser uma solução permanente para contornar esse problema.

Ao descrever a sua experiência enquanto jovem adulta, DooLittle diz: "A única forma que eu tinha de baixar a guarda e ter sexo era a beber. Nos meus vintes, quando dei por mim numa relação longa, começou a ser mais complicado orquestrar as situações sexuais. Quando dei por ela, estava a tentar fazer sexo sem copos e não resultava. Portanto, posso dizer que beber me ajudou a encontrar afecto, sexo, prazer e divertimento, mas, quando queria alguma coisa mais profunda com a pessoa, tinha de parar de beber. Quando falo com outros sobreviventes [de abuso sexual] contam-me experiências semelhantes".

"A realidade é que, se a bebida pode ser consumida responsavelmente, proporcionando ligações humanas intensas, sensação de relaxamento e mais predisposição para a aventura, pode também tirar vantagem das pessoa".

DooLittle foi a única profissional que entrevistei, disposta a dizer alguma coisa relativamente positiva sobre álcool e sexo. E mesmo ela, com bastantes reservas, claro. Porque é que tantos profissionais se mostram indisponíveis para falar sobre os benefícios do álcool?

Bem, provavelmente porque, ainda que as happy hours sejam uma boa desculpa para marcar encontros e possam até levar a relações sólidas, estudos sugerem que o consumo excessivo regular de álcool duplica o risco de se ser vítima de violência sexual (O Instituto Nacional de Prevenção do Abuso de Álcool e Alcoolismo norte-americano faz questão de realçar que, ainda que o risco seja mais elevado, a violência sexual nunca é culpa da vítima).

A realidade é que, se a bebida pode ser consumida responsavelmente, proporcionando ligações humanas intensas, sensação de relaxamento e mais predisposição para a aventura, pode também tirar vantagem das pessoas, pelo que faz sentido que os profissionais se sintam relutantes em apoiar a ideia. Todavia, se tu e um parceiro são pessoas responsáveis e adultas, há boas razões para acreditar que um copo ou dois antes de saltarem para a cama, pode valer uma noite de que não se vão esquecer - ou arrepender.


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