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Tecnologia

​O Facebook Quer Capacitar Empreendedores Cariocas para Enfraquecer o Tráfico

A empresa inaugurou o segundo Laboratório de Inovação no país – dessa vez em Madureira, no Rio de Janeiro.
Crédito: Divulgação/Facebook

O Facebook inaugurou, nesta semana, em Madureira, no Rio de Janeiro, o seu segundo Laboratório de Inovação no Brasil. O projeto tem como missão, de acordo com a empresa de Mark Zuckerberg, ensinar moradores de favelas a usar a rede social para bombar seus negócios e fazer uma graninha. O funcionamento será quase igual à versão paulista em Heliópolis: terá, a partir de dezembro, cursos de empreendedorismo e uso livre do espaço pelos moradores para outras iniciativas, como cursos de capacitação liderados pelo Facebook em parceria com a CUFA (Central Única de Favelas), que recebe o laboratório em seu espaço.

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Quase igual, vale ressaltar. A geografia e o contexto das favelas do Rio trouxeram novos desafios à empresa americana. Para apresentar o projeto aos moradores das comunidades, foi necessário pensar em soluções para o problema geográfico – diferentemente das favelas paulistas, que crescem horizontalmente, as comunidades no Rio se expandem para cima dos morros, dificultando as longas caminhadas. A saída foi colocar uma Kombi para rodar por 10 favelas da cidade (Morro do Dendê, Chapadão, Vila Aliança, Cidade de Deus, Rocinha, Acari, Complexo da Pedreira, Vila Vintém, Vidigal e Complexo do Alemão). Em São Paulo, a propaganda do Laboratório foi feita a pé com missionários treinados pela companhia.

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Os 10 destinos da Facekombi, como foi apelidado o veículo, foram determinados pelo fato de serem locais de comércio vivo. Uma das expectativas é que o mercado se agite nessas regiões antes e durante as Olimpíadas no ano que vem. "Estamos falando de profissionais temporários que, com as Olimpiadas, terão uma oportunidade que não tiveram nos últimos cinco", diz Bruno Rossini, gerente de comunicação do Facebook no Brasil. "Não é só a expansão do projeto, mas também o legado, entender como criar e causar impacto para ajudar as pessoas."

Mas a grande diferença do projeto do Rio para o de São Paulo é a presença de facções e do tráfico de drogas nas favelas cariocas, que impedem a empresa de se fixar nos morros. A solução foi fazer o Laboratório em uma zona de circulação neutra dos moradores das comunidades, a CUFA, fundada em 1999 com a intenção de ser um polo de produção cultural dos moradores de favelas.

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O Facebook tem a pretensão de fazer com que a garotada não caia no tráfico e use a sua ferramenta para desenvolver outros negócios que gerem renda. "Não tem forma de combater o tráfico de drogas e a questão da violência da favela sem substituir a matriz econômica que o tráfico coloca dentro da favela. O empreendedorismo e a internet possibilitaram essa mudança do jogo", diz Renato Meirelles, presidente do Data Popular, que realiza a pesquisa do Data Favela, parceiros do Facebook na iniciativa.

Para a socióloga colaboradora do Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora da Universidade de São Paulo, Tatiana Rotondaro, essa ideia é bastante utópica e deve ser encarada com cuidado. "Pode até ser que, a longo prazo, isso seja possível, mas eu não penso que, agora, de início, eles deveriam chegar com essa intenção de rivalizar, acho que a intenção deveria ser de capacitar a população e capacitar o empreendedorismo, e depois ver o potencial que isso tem", afirma. "É importante respeitar o espaço e as dificuldades das comunidades."

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Para quem tem negócio na favela, a expectativa está bem alta. O Obi Basílio, conhecido como Obi Wan, toca o primeiro hostel da Rocinha, o Rocinha Guesthouse. Foi graças à sua página no Facebook que o negócio cresceu. "Tô muito feliz de servir de modelo para os outros moradores, porque no início as pessoas não eram muito bem vindas na favela, mas com o crescimento do nosso hostel, isso mudou", disse. Com a presença do Facebook na região, ele espera bombar ainda mais e poder receber até 12 turistas de uma vez na casa que começou com um quarto de duas camas.

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O Facebook não revela dados de investimento, muito menos de lucro com o projeto das favelas. Sabemos, porém, que o mapeamento dos dados comportamentais e de consumo dos usuários da rede é uma das fontes de renda da empresa, que se utiliza de um modelo de negócio aplicado na venda de informações de usuários para publicidade. Onde essa iniciativa resultará é uma questão que nem mesmo a empresa sabe dizer.