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Tecnologia

Mark Ruffalo Quer que 'Os Vingadores' Parem de Usar Combustíveis Fósseis

"E é um compromisso que estou firmando aqui hoje com vocês. Peço a todos os meus amigos que se engajem."
Crédito: Flickr

Mark Ruffalo não é o tipo de celebridade ativista que aparece em bailes de caridade uma vez por ano, assina um cheque na frente das câmeras e fica exaltando as virtudes do altruísmo. Mark Ruffalo está nas trincheiras. E ele quer seus amigos e colegas de Os Vingadores lá com ele.

Já o vi nas ruas, na cidade de Wahsington, em protestos contra o oleoduto Keystone XL. Ele aderiu a manifestações contra o caos hidráulico em Nova York e Detroit. Ruffalo é bem versado em questões climáticas e energéticas, e endossa um plano de mudança para 100% de energia renovável, acatando um projeto apresentado por um professor de Stanford.

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Ele também está oficialmente aderindo ao movimento para acabar com investimentos em combustíveis fósseis.

"Estou no processo de privação", Ruffalo me contou. "Eu me comprometi e, entre 3 e 5 anos, pretendo me privar completamente de quaisquer combustíveis fósseis ou qualquer mudança climática relacionada, e investir em tecnologias renováveis e limpas." Ruffalo tinha acabado de participar do quarto programa anual 24 Hours of Climate Reality (24 Horas de Realidade Climática), de Al Gore, e estava entusiasmado.

"E é um compromisso que estou firmando aqui hoje com vocês. Peço a todos os meus amigos que se engajem. Pedirei ao Leo[nardo DiCaprio], pedirei a todos Os Vingadores, pedirei ao Robert [Downey Jr], vou propor o desafio do 'faça o que você prega'. E será: desista e invista."

Agora, somente os esforços de Ruffalo contra as ações relacionadas a combustíveis fósseis não serão capazes de deixar a indústria do petróleo na mão. Mas assim como as privações de um pequeno colegiado religioso, a ação manda um recado — tanto ao público quanto ao mercado — que marca essas propriedades como imorais. Se todos os Vingadores rejeitassem combustíveis fósseis, juntos, seria uma história digna de primeira página. É provavelmente por isso que você está lendo este artigo.

Essa percepção pode infligir danos nas ações, fazendo com que investidores mais conscientes abandonem carvão e petróleo, perpetuando então a tendência — que é precisamente como o movimento de privação deve funcionar.

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Ruffalo também fala sobre tecnologias limpas, privação, extinção em massa e ciência climática com o encantamento fácil de uma estrela de cinema; incluirei uma versão levemente editada da nossa entrevista completa abaixo.

Crédito: Wikimedia

MOTHERBOARD: Então, em que ponto estamos agora? Você protestou contra o oleoduto Keystone, esteve junto ao movimento climático…

Mark Ruffalo: Estamos em equilíbrio, cara, é meio a meio. Algumas pessoas acham que estamos completamente ferrados. Acontece que não acredito nisso. Mas precisamos tratar do problema.

Acho que, ao mesmo tempo, estamos numa situação bastante desesperadora. Mas também estamos bem posicionados para promover a mudança. Digo isso com base na tecnologia disponível hoje. Amanhã, daqui a um ano, quem sabe essas coisas não pegam e ficam mais baratas? E assim que atingirmos a massa crítica, que imagino que seja 5% da população — assim que 5% da população adotar essas tecnologias, elas caminharão sozinhas. Então, agora, é só uma questão de aumentar a velocidade com que promovemos a mudança.

Você não está apenas militando por tecnologias melhores, você realmente acha que as pessoas deveriam estar nas ruas, demandando mudanças.

Sim, mudanças transitam em várias direções. É preciso tecer diversas mensagens para atingir diversas pessoas. Ir às ruas é uma forma importante de indicar poder, poder social, o poder da comunidade. Então, é algo muito importante.

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Haverá desobediência civil em torno disso, desobediência civil pacífica é outra ferramenta. Mensagens positivas são uma ferramenta. Celebridades são ferramentas. Motores econômicos são ferramentas. Será necessária uma abordagem multifacetada para fazer algo assim – faz cem anos, esse paradigma [de combustíveis fósseis] existe há cem anos. E levou muito tempo para chegarmos aonde estamos hoje. Então, vai levar um tempo significativo para nos tirar daqui, mas não cem anos.

Você está presente, você mesmo participa da desobediência civil. Você não precisa fazer isso, não precisa estar na linha de frente. O que impulsiona você?

Meus filhos, cara! Meus filhos participam das marchas climáticas comigo. São meus filhos. Eu poderia viver confortavelmente, e eu poderia fazer bastante coisa para amenizar as mudanças climáticas. Não serei capaz de lutar para sempre, vai acontecer com todo mundo, não me importo com o dinheiro que você tem, o problema vai bater à sua porta, você não terá para onde fugir, não existirá um local menos afetado, isto é uma questão global.

Mas são meus filhos, cara. Olho para os meus filhos, e a ideia [de] extinção em massa, e vejo a mudança que está tomando conta das árvores. Mesmo no interior de Nova York, vejo árvores que estão morrendo, vejo fungos que se formam com o aquecimento. E os ciclos malucos que enfrentamos com as mudanças bruscas de temperatura. Vejo tudo isso acontecendo e, literalmente, parte meu coração.

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Vejo os corais morrendo; eu sei identificar um coral doente. Dá para ver que ainda há vida ali, mas está se deteriorando. E se me importo com o mundo, então preciso fazer algo. Não posso simplesmente ficar sentado e assistir aos desdobramentos desse evento cataclísmico sem fazer porra nenhuma. Se alguém invadisse minha casa para machucar meus filhos, eu estaria lá para impedi-lo. Isto não é diferente.

Não me importo com quanto dinheiro você tem, o problema vai bater à sua porta.

Você se lembra do momento ou período quando algo clicou, e você pensou: 'Preciso fazer algo a respeito'?

Bem, comigo, o ativismo provavelmente começou com a crise da AIDS. Foi quando realmente testemunhei algo do tipo e entendi o poder por trás das manifestações, e aprendi imenso. Vi o que estavam combatendo e quão dramática a situação parecia, quão assustadora, e quantas grandes forças poderosas posicionavam-se contra eles, incluindo a mídia, religião, políticos, negócios – digo, tudo estava contra eles, e mesmo assim triunfaram. Então, esse foi meu primeiro vislumbre de tudo. A guerra do Iraque trouxe outro tipo de chamado.

O que vamos fazer? Sabemos que isso é errado, ilegal, imoral. O que vamos fazer? Dar licença e fingir que nada está acontecendo? Somos essas pessoas? São esses os nossos valores como homens? E isso começou a se tornar o grito do povo: Você é quem diz ser? Você é alguém que se importa? Você é alguém que se importa com a comunidade? Você é alguém que se importa com seus filhos? Você é quem diz ser? Esse é meu mantra.

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É o que me leva às areias betuminosas, ou a um evento sobre fraturamento hidráulico, ou o que for. Ou a um evento sobre energia renovável. Venho procurando o melhor caminho, e acho que dizer 'não' não basta. Acho que temos que encontrar o 'sim'. E o encontrei em energia renovável. Então, estou boicotando a extração de combustíveis fósseis. A ideia de mudarmos para gás natural é loucura. Metano é um gás de efeito estufa, 30 a 70 vezes mais potente que o carbono, embora o Obama abrace a ideia como um meio-termo — é loucura. E sei que o caminho certo é 100 por cento.

Você irá à marcha climática?

Sim, meu caro, estarei lá! Estarei lá com Leonardo DiCaprio e Darren Aronofsky. E estarei carregando o cartaz dos 100 por cento. Esse é o "pedido" decorrente da marcha climática, 100 por cento. Precisamos mudar para 100 por cento de energia limpa.

Posso perguntar? Você está em todas. Você fala de armazenagem, de fraturamento hidráuluco, de tudo.

Há muitos processos envolvidos. Comecei o Solutions Project (Projeto de Soluções), que engloba cultura de negócios, ciências e experiências da vida real, e coloca tudo sob um mesmo teto. Percebi que não bastava, para apenas um ator, falar sobre essas coisas, eu precisava ter um cientista ao meu lado. Mas não bastava ter apenas um ator e um cientista, porque homens de negócios dizem que não nos preocupamos com a economia, então trouxemos um cara da área. E então onde poderíamos ver isso acontecer?

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Um fazendeiro do vale central da Califórnia, que está economizando centenas de milhares de dólares por ano com energia solar, que tal incluí-lo? E sabe o que mais? Ele é republicano. Assim, o Solutions Project se tornou uma plataforma para as pessoas conversarem e aprenderem. Não só aprender sobre o que está disponível, mas sobre como seguir adiante e conseguir o que se deseja. Criamos 50 planos para 50 estados, que nos mostram como usar 100 por cento de energia renovável, com base nos recursos que cada estado tem disponível. Cada plano foi customizado para seu respectivo estado, e nos mostra quantos empregos gerará, quanto economizará em saúde, quantos dólares a mais entrarão na conta do cidadão comum por não terem que pagar mais por energia. É…

Muito claro.

Bem claro. Então, esse é um bom lugar para se estar. Não só pela ideia ou educação de alto nível, a visão acadêmica de como chegar lá, mas pelas histórias das pessoas que estão fazendo tudo realmente acontecer.

Certamente. E por falar nessas histórias, você mencionou que precisamos de todo tipo de mensagens, e produtos culturais fazem parte do pacote. Você vê algum roteiro no seu horizonte…

Engraçado, não me deparo com muita coisa. Gosto de usar Minhas Mães e Meu Pai como exemplo, porque foi um filme bem apolítico, não foi polêmico, mas teve um significado cultural incrível para a questão do casamento gay. Humanizou a questão. Apareceu um filme, Indomável Sonhadora, que senti que falava sobre isto de uma forma linda, que não era mainstream. "Avatar" fez isso muito bem também. Usaram alegorias para contar a história.

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Percebi que não bastava, para apenas um ator, falar sobre essas coisas.

A cultura meio que estava preparada para o lançamento de Minhas Mães e Meu Pai na época. Foi como um momento de virada, e o filme foi fruto da cultura, foi clamado pela cultura, mas a cultura também precisou dar ouvidos e aprender a enxergar. E sinto que o mesmo está acontecendo com mudanças climáticas. Já no ano passado, a confluência de pessoas — isso é algo que eu costumava tocar sozinho. 100 por cento de energia renovável, quando apareci com essa frase três anos atrás, as pessoas acharam que eu tinha ficado maluco.

Diziam: "O que você está falando?" Procurei todas as grandes organizações ambientais e implorei para adotarem o lema. Era ciência de Stanford, eu não estava inventando essa porra; implorei para adotarem. Fomos completamente ignorados. Hoje, todos abraçam completamente a causa. E isso é porque muitas pessoas, de diversas áreas, estão convergindo. A People's Climate March será um momento histórico.

São as coisas que venho dizendo há anos. Mas foi preciso chegar a este momento para compreender. E não estamos regredindo, meu caro.

Aonde estamos indo?

Cara, continuarei contando as histórias. Continuarei forçando a barra. Forçarei esse programa de desista/invista para deixar as pessoas saberem melhor aonde o dinheiro vai, onde estão investindo e como estão investindo no passado, em vez do futuro.

Então, você já largou tudo a esta altura? Já desistiu?

Estou no processo de privação. Eu me comprometi. Faço isso há um tempo já, e fiz um esforço para assegurar que, de forma alguma, eu estivesse ligado a investimentos do tipo — minha organização 501c tem feito isso. Mas eu me comprometi — entre 3 e 5 anos, pretendo me privar completamente de quaisquer combustíveis fósseis ou qualquer mudança climática relacionada, e investir em tecnologias renováveis e limpas. É uma promessa que estou fazendo agora, a você.

Você já fez o juramento?

Não, estou prometendo agora mesmo. A história é sua. É o que estou fazendo.

É uma boa história, e acho que seus amigos vão gostar.

Acho que vão. Eu gosto muito.

Tradução: Stephanie Fernandes