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primavera

Festivais de lusco-fusco chegam a Guimarães

Ir a festivais nos tempos que correm é uma corrida contra o tempo.

Fazer um festival com nome de Primavera mesmo na altura em que o frio começa a apertar deveria ser, por si só, motivo de grande desconfiança. A bem dizer, desde há uns tempos a esta parte, Portugal (e, em especial, esta Guimarães 2012) tem sido farto na criação de festivais que primam pela originalidade da forma. Concertos

em casas particulares, eventos musicais em paragens de metro e palcos montados em cima de autocarros são alguns dos exemplos de eventos que têm desafiado os ouvintes a encontrar novas formas de se relacionarem com a música. O Primavera Club, modelo importado de Espanha (o que, por si, só poderia dar azo a um conjunto de piadas), prometia isso mesmo, ao juntar um universo de projectos interessantes em quatro espaços diferentes e com intervalos horários a rondar os 30 minutos. Não é difícil de imaginar que esta versão tuga do Primavera Club seria, à semelhança de outros eventos, um desafio à condição física de quem os visita. A ver vamos se, pelo caminho, vamos ter tempo de ouvir música. ACTO 1: A SALA VAZIA
Cheguei atrasada à sala do café concerto do Centro Cultural Vila Flor (CCVF). Não que seja meu hábito, mas, em dia da 53.ª greve da CP, é difícil escapar àquela impressão estranha de que hoje, por mais que nos esforcemos, vamos andar sempre em corrida contra o relógio. Ainda assim, fiquei surpreendida quando dei por mim em autêntica contramaré que, garanto eu, nada tem a ver com a fritaria experimental e noise dos Tropa Macaca. A bem dizer, não será a primeira vez que, nas últimas semanas, as expressões “multidão em debandada” e “entidades cujo papel é proteger a população e ordem pública” se cruzam. O efeito Tropa Macaca. ACTO 2: E QUÊ, FUI EU QUEM NÃO TOMOU BANHO?
Perante o desolador cenário de uma sala vazia, decidi rumar ao concerto que tinha lugar ao lado, até porque o nome de Richard Bishop vinha antecedido do título de Sir e toda a gente sabe que este pessoal é que inventou a pontualidade. Lá me descambei até à sala grande do Vila Flor, que estava mais composta. Comecei a tirar as cerca de 13 camadas de roupa que me protegiam do frio polar que fazia lá fora e sentei-me já com aquela sensação apaziguadora do “agora é que é”. Mas não foi. Dez minutos depois, começa novamente o lufa-lufa de abandono da sala. Cinco minutos de “headbanging” à festa do lusco fusco, cinco-sete minutos de diversão muito intensa, que é para a malta não se cansar. ACTO TRÊS: VAMOS VER SE ENCONTRAMOS UM GUIA
Como quem anda perdida ou encontra um mapa ou contrata um guia, decidi que, se calhar, era melhor tentar atrelar-me a alguém que estivesse mais por dentro das dinâmicas deste festival. Fui tentando perguntar a quem lá estava se isto era sempre assim ou se tinham tido, de facto, oportunidade para ver um concerto. O João que, pelo aspecto, deve ter quase idade para ser meu filho, disse-me que sim, que conseguiu ver todas as bandas. Estava eu já a ficar gravemente preocupada com a minha condição física e a resignar-me à ideia de que os 30 chegaram para comprometer o meu poder de arranque, quando o mesmo me explica que tem visto aí umas quatro ou cinco músicas de cada. É nisto que dá colocarem filhos de Coura, Vilar de Mouros e Zambujeira (nos tempos em que por lá passavam outras cenas que não só DJs) em seio de festivais hipsters. Se, para a geração que comprava CDs, um concerto é coisa para ter, no mínimo, 45 minutos, para os filhos dos downloads de singles do iTunes, esse tempo é mais do que suficiente para ver um concerto, duas exposições de ilustração, beber um abatanado e, ainda, documentar tudo com a máquina fotográfica que custa mais do que o salário mínimo nacional. O rapaz do meio é o João. ACTO QUATRO: VOU-ME É EMBORA
Poucos minutos passavam das 23 horas, quando cheguei ao S. Mamede, para aquilo que seria a recta final de concertos, e dei de caras com o concerto esgotado mais vazio de sempre. Éramos cerca de 40 pessoas, dez a dançar, duas a beber finos, seis a pensar que deviam estar a jogar à sueca e os outros dois a fumar. Palmas a eles que devem ter sido os desencadeadores da única chama que vi nesta noite. Estava bem era no Júlio. Concertos, onde?