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Música

Discos: Yong Yong

Às de espadas.

Love
Night School
8/10 Se toda a música pop é uma avenida cheia de cor e movimento, tudo o que se encontra na sua rua das traseiras pode, por comparação, parecer mais sujo e desprezível, mas consegue muitas vezes ser mais interessante. As Pointer Sisters, afamado conjunto de R&B de Oakland, têm em “I’m So Excited” um daqueles êxitos que toda a gente já ouviu num ginásio ou cantou no karaoke. O próprio título da canção trará logo à memória aquele refrão carregado de apoteose sexual cantado em fabulosas harmonias. O que muitos provavelmente não saberão é que o vídeo desse single, na sua versão mais ousada, deixa ver uma boa parte dos pêlos púbicos de June Pointer, quando a senhora se levanta da banheira. É impressionante pensar que o pudor de canais como a MTV e VH-1 não impediu, na altura, a exibição desta versão “às de espadas”, que, só muito de vez em quando, lá vai aparecendo. Porquê então invocar o às de espadas de June Pointer para uma simples review? Por vários motivos, na verdade. O primeiro deles terá a ver com o facto da imagem da mulher nua, na capa de Love, o primeiro longa-duração em cassete da dupla Yong Yong, lembrar o episódio recuperado em cima. E, tal como esse vídeo ganha uma dimensão maior, ao sabermos do que se passa na sua sombra, também a música de Rudolfo Brito e Francisco Silva (os Yong Yong), em Love, proporciona um gozo maior se a entendermos como nova tapeçaria feita com as velhas aparas que a música pop se esqueceu de varrer. Bastam algumas faixas para perceber que estão aqui dois rapazes lúcidos e bastante capazes na forma como tiram apontamentos a partir das costas que a música oferece a quem quiser reparar nisso. Não admira por isso que Love insista tantas vezes no som esquecido dos milhões de atendedores de chamadas automáticos ou que procure, nesses e noutros momentos, unir os mil fragmentos sonoros absorvidos a um sem número de zappings. Love não podia estar mais enquadrado num tempo em que a informação depressa se assimila e mais rapidamente se esquece. É um daqueles discos que ainda tem algo a dizer sobre como o funcionamento da memória não pode ser desassociado do processo criativo. Há que estar a atento a isso, quando os Yong Yong forem cirandar ao Lounge, em Lisboa, no próximo dia 11 de Abril.