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O gótico mais solitário do mundo

O nosso amigo Simon era o único gótico em Camden no World Goth Day.

Ontem foi o World Goth Day, "um dia para os góticos celebrarem a cena gótica e uma oportunidade para mostrar que ela existe ao resto do mundo", de acordo com site semi-oficial da coisa. Ficámos, como imaginam, entusiasmados com a ideia. Até que enfim acontece qualquer coisa entre a Páscoa e a próxima reunião de condomínio, por isso fomos a correr para Camden, o lar espiritual dos góticos. E até encontrámos um gótico, o Simon, antes de lá chegar, ali logo no autocarro. A coisa prometia.

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"É basicamente uma desculpa para beber umas cervejas a meio da semana", disse-nos o Simon quando lhe perguntámos o que é que o Dia Internacional do Gótico significava para ele. Não surpreendentemente, esta era, admitiu o Simon, a primeira vez que assinalava esta dia de celebração da auto-estima gótica. Como tinha este gótico calminho à frente, aproveitei para lhe perguntar uma cena que sempre quis saber, da mesma maneira que sempre quis saber como é ir a uma festa do pijama feminina ou trabalhar num matadouro: como é que os góticos se vêem a si próprios? "Somos pessoas que querem aproveitar a vida sem ceder a tudo aquilo que é massificado". O Simon insistiu um bocado na ideia que, de coração, até era mais metaleiro do que propriamente outra coisa qualquer, mas fomos na mesma com ele procurar malta de negro para curtir durante a tarde, sobretudo depois do nosso novo amigo assegurar que "a companhia de góticos é melhor do que a de pessoas normais". A nossa primeira paragem da tour pelo epicentro da comunidade gótica de Londres foi um sítio chamado Elixir Bar. A cena é que não estava lá ninguém : ( Nem góticos, nem ninguém. Nem sequer um daqueles velhotes coradinhos que bebem durante o dia e que fazem parte da mobília de pubs deste género. Pedimos desculpa e deixámos o Simon a beber umas cervejas sozinho. Foi muito desconfortável e esquisito, mas seguimos viagem na esperança de encontrar mais góticos. Afinal de contas, era o dia deles. Não podia ser assim tão difícil encontrar um ou dois em plena luz do dia, certo? A busca não deu frutos, por isso decidimos que a cena a fazer seria procurar nas lojas góticas do mercado e foi aí que conhecemos a Francesca, uma italiana que não falava muito bem inglês, nada que a tenha impedido de nos prender a atenção. Vá-se lá saber porquê. A Francesca nunca tinha ouvido falar do World Goth Day, mas disse-nos que preferia a Inglaterra ao seu país porque, segundo ela, os italianos são mais fechados e que em Londres se sente mais à vontade para ser quem quiser. Viva a liberdade! Quando bazámos não é que voltámos a dar com o Simon? Ele estava a caminho de um sítio a que chamou, por alguma razão, The Dev quando o verdadeiro nome da cena é Hobgoblin. Começámos a duvidar da respeitabilidade do estatuto gótico do Simon. Será que ele sabia mesmo para onde estava a ir? As tascas góticas têm todas wi-fi de borla? E o Simon seria mesmo um gótico de verdade? Se ele é mesmo gótico, não é estranho que o reflexo dele apareça nos vidros espelhados do bar? Bem, seja como for, o The Dev estava fechado, por isso fomos antes para um pub ali perto, supostamente mais de turistas, chamado The World's End, o que deixou o Simon meio triste. Armadilha para turistas ou não, a zona estava, mais uma vez, livre de góticos. Talvez o World Goth Day seja todo ele uma grande armadilha porque os góticos só saem e bebem durante a noite. Decidimos bazar dali, se calhar estávamos a estragar a onda do Simon: bastava que uns góticos o vissem connosco, um par de mainstreamers, para fugirem dali a sete pés. Durante boa parte do tempo que passámos com ele, o Simon repetiu muitas vezes que este dia era meio desnecessário. Os outros góticos parecem concordar com a ideia e nem saíram de casa.